São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Chega de técnico covarde


Maradona pode ser o pior dos treinadores, mas, se levar sua elogiável ousadia à beira do campo, terá valido sim a pena

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

"SERIA um covarde se não aceitasse", disse Maradona, na sua apresentação como técnico da seleção argentina.
Ele pode ter todos os defeitos, vir a ser o pior técnico do planeta, mas coragem tem de sobra. Como jogador, já era assim, enfrentando botinudos e humilhando-os ao seguir em pé mesmo após as pancadas.
Como técnico, já é execrado até mesmo na Argentina, mas creio que ele pode trazer algo de positivo para o futebol atual se cumprir o ideal de fazer a seleção de seu país, cheia de talentos, jogar um futebol atraente.
""Não tenho medo de perder minha coroa", falou ele, meio arrogante, diante dos críticos conterrâneos, que vêem o treinador Maradona como aberração, muito maior do que é Dunga, ainda, para os brasileiros.
""Conversei sempre bastante com Diego, mas não era algo que estava na minha cabeça [contratá-lo como técnico], posso dizer. Na medida em que o técnico anterior [Alfio Basile] pediu demissão, Maradona estava em boa condição física e mental, e teria por trás um homem experiente como Carlos Bilardo, acertamos o acordo. Tenho confiança mesmo de que vai dar certo. Mas vamos ver em campo o que acontece", falou ontem à coluna Julio Grondona, poderoso presidente da federação argentina.
Não chamar Messi de cara foi uma mostra do valor que Maradona dá a algumas coisas que parecem fora de moda no futebol, como palavra, gratidão, honra etc. Em respeito ao Barcelona, ao Messi e a Grondona, com quem teve arranca-rabos, deu vez a novos nomes, como Denis e Lavezzi (convocação em ordem alfabética pelo sobrenome), de seu Napoli.
Fazer de Mascherano capitão soa para mim incoerente. O ex-corintiano lembra Dunga, que se sacrificava em campo e não raramente dava botinadas. Maradona assumiu condenando essa figura e agora a valoriza.
Mas o tema aqui é coragem. Maradona passou pelo pior (""Seria pior se tivesse continuado com a vida de antes"), bem ou mal escapou da morte, e a simples aceitação do novo cargo o diferencia de muitos mitos e até de alguns técnicos hoje conceituados.
Pelé, para pegar o maior de todos como exemplo, aceitaria um desafio semelhante correndo o risco de ver a sua rica imagem, minuciosamente construída no futebol, arranhada?
Há quem diga que o Rei teve como maior mérito sair de cena na hora certa (não foi à Copa de 1974). Maradona, que foi ao limite em 94, jogaria até a Copa de 2014 se deixassem.
Quantos ex-craques fracassaram como treinador por serem convencionais, não arriscarem? Tostão, um fora-de-série que gostaria de ver como técnico, outro dia pediu com sabedoria ousadia aos treinadores. Espero que Maradona ouse. Aliás, será que ele deixaria de treinar seu time em um jogo internacional decisivo fora de casa, ainda mais após derrota e quebra-pau, como Luxemburgo?

rbueno@folhasp.com.br


Texto Anterior: Secretário do Pan comanda pasta para Copa e Rio-2016
Próximo Texto: Falta experiência a Fabiana, diz técnico
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.