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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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Superliga, 10, escancara política do "pagou, jogou"


Com apenas sete sobreviventes da primeira edição, torneio que começa hoje vê êxodo de equipes por falta de verba para bancar os altos custos


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Superliga comemora hoje sua décima edição. Mas mesmo o torcedor mais fanático não é capaz de ter certeza de quantas e quais equipes irão disputar o título.
Em seus dez anos de história, a competição mais importante do vôlei nacional viu 53 times figurarem em sua tabela -26 no masculino e 27 no feminino. Neste ano, serão dez em cada torneio.
Só sete nunca deixaram de colocar seus atletas em quadra: Suzano, São Caetano, Banespa, Minas, Araraquara e Pinheiros, além do BCN, que disputou a primeira edição por Guarujá e as demais por Osasco -neste ano, mudou o nome do clube para Finasa.
A cada edição, as equipes fazem um verdadeiro entra-e-sai, quase sempre motivado pelo dinheiro.
Com taxas elevadas e nenhuma ajuda financeira aos participantes, a Superliga é um torneio caro que só pode ser disputado por clubes com orçamento elevado.
Um time "fraco", que tentará terminar entre os oito que vão aos mata-matas, tem de desembolsar aproximadamente R$ 450 mil.
Os clubes pagam a taxa de inscrição, os salários de atletas e comissão técnica, passagens e hospedagem durante as viagens.
A confederação de basquete, por exemplo, não cobra taxa e ajuda com as passagens.
"A Superliga virou um jogo de cartas marcadas. Ficam falando que ela está melhor a cada ano, mas é mentira. A disputa fica restrita a quatro ou cinco equipes fortes e outras de nível fraquíssimo, que jogam porque têm como pagar", lamentou Jarbas Ferreira, que treinou Betim na Liga Nacional masculina deste ano.
O técnico levou a equipe mineira ao vice-campeonato da segunda divisão, mas não vai jogar a Superliga por falta de patrocínio que banque os alto custos -seu clube gastou cerca de R$ 200 mil na campanha da Liga Nacional.
O time assegurou a vaga na elite na quadra, mas é o Santo André, terceiro colocado, que vai subir.
Situação semelhante ocorreu no feminino. O Buettner, de Santa Catarina, que disputou as duas últimas Superligas, venceu a segunda divisão neste ano. Mas sua vaga será ocupada pelo Sesi/Uberlândia, que não chegou nem aos mata-matas, mas foi convidado pela confederação brasileira.
"Quem preencher as exigências do regulamento vai jogar. Quantidade eu tenho na Liga Nacional. A Superliga é um campeonato de excelência, para quem tem condições de despertar o interesse da TV, do público", afirmou Ary Graça Filho, presidente da CBV, que disse que só veta a participação de Vasco e Flamengo.
Os clubes montaram supertimes em 2000/2001 e deixaram a competição no ano seguinte e muitas dívidas trabalhistas.
A Superliga foi criada em 1994 para substituir a antiga Liga Nacional. O objetivo era trazer para o Brasil o modelo da NBA e transformar o vôlei em um show tal qual a liga de basquete dos EUA.
A mudança foi feita na esteira das conquistas das seleções.
Os homens ostentavam os títulos olímpico de 1992 e da Liga Mundial de 1993, e a CBV comemorava o repatriamento de cinco estrelas. A equipe feminina havia sido vice-campeã mundial.
Mas a euforia com o vôlei foi diminuindo à medida que os bons resultados da seleção foram desaparecendo e os grandes nomes seguiram para o exterior. Os investimentos para manter as equipes seguiram o mesmo caminho.
"Com a seleção de novo no auge, o interesse tende a aumentar. Isso é bom, pois o público do ginásio aumenta, o interesse da TV também... Hoje nós temos uma Superliga com dez times, mas você sabe que nem todos têm condições de manter um trabalho a longo prazo", afirmou a levantadora Fofão, que defenderá o Rexona.

NA TV - Osasco x São Caetano, às 15h30, e Ulbra x Bento Gonçalves, às 20h30, na Sportv


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