São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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pátria de joelheiras

Vôlei festeja com chuva, suor e cerveja

Bicampeões compram bebida, jogam espumante nos fãs e param a avenida Paulista para comemorar o título mundial

Giba rouba a cena ao atravessar multidão para colocar a filha no desfile e, como Dante e Anderson, sair do carro para ir ao banheiro

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Era meio-dia quando a chuva começou, uma pancada forte, que fez os atletas se encolherem e se cobrirem e quase acabou com a festa. Quase.
O aguaceiro arrefeceu cerca de cinco minutos depois e parece ter acordado os jogadores da seleção de vôlei, até então atordoados por 35 horas de viagem entre o Japão e São Paulo. E foi assim, molhados, que eles começaram o desfile com o troféu do bicampeonato mundial.
A injeção de ânimo que faltava foi dada por Roque Santos. O torcedor de 29 anos, já na descida da avenida Brigadeiro Luís Antônio, grudou no carro do Corpo de Bombeiros.
Acenava, aplaudia e falava com Escadinha. Pareciam velhos amigos. Tão íntimos que decidiu servir de garçom. O líbero sacou o dinheiro, e o torcedor rumou ao bar da esquina.
Minutos depois, uma das motos da escolta policial trouxe a encomenda: duas sacolas com latas de guaraná e cerveja.
As ruas não lembravam a conquista do penta de futebol, mas as calçadas estavam cheias. No centro da cidade, arredores da praça da Sé, o número de torcedores, no chão e nas janelas, cresceu. Uma pequena legião corria atrás do time incentivada pelo locutor: "Dê o seu aceno, vibre com a seleção".
E o público aplaudia, pedia autógrafos e dava mais gás à festa. Na avenida São João, garrafas de espumante surgiram da calçada. Banho de espuma nos engravatados, nos meninos de rua, nas tietes de Giba...
Diante da tranqüilidade e insistência dos fãs, até os seguranças, truculentos no início, ajudavam papéis e camisas a chegarem às mãos dos atletas e voltarem autografados aos donos. Nem sempre dava certo. A certa altura, duas meninas foram ao chão. Puxões de cabelos, berros, e uma sai aos prantos. Perdera a bandeira "do Giba".
O melhor jogador do Mundial, Escadinha e Marcelinho eram os mais animados.
Quase na Paulista, Santos até se ofereceu para buscar mais cerveja. Desta vez não, obrigado. "Não os conheço não. Vim porque eles são bicampeões mundiais e merecem. Assisti a todos os jogos", disse ele.
Giba, então, começou a roubar a cena. Primeiro, desceu para buscar a filha Nicoll, 2. A menina saiu pela janela do ônibus que levava familiares e jornalistas sob olhares de reprovação de Cristina Pirv, sua mulher.
Depois, entrou em um bar seguido de fãs. Apertado, precisava usar o banheiro. Anderson e Dante já haviam feito o mesmo na Paulista, para desespero dos seguranças. Efeito da cerveja.
A famosa avenida teve a pista sentido Paraíso interditada. Do outro lado, buzinaço e manifestações. "Vamos pedir a correção do IR e o aumento do salário mínimo. A seleção está com a gente. Giovane, nos dê uma força", bradava o porta-voz do Sindicato dos Bancários, dirigindo-se ao ex-jogador, que não faz mais parte da seleção.
Após quase três horas sob sol forte, acabou a festa, que quase não ocorreu por causa dos Europeus. Cinco jogadores nem voltaram ao Brasil.
Poucos torcedores se despediram dos bicampeões, no ginásio do Ibirapuera. Mas ao menos um saiu satisfeito e pedia: "Não esqueçam do catador de latinhas, hein?".


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