|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Racha entre dirigentes forja time favorito
Briga entre vices do Fla provoca queda de treinador e integração de Petkovic
Disputa devido à eleição, que ocorre amanhã, muda
o comando do futebol no meio do Brasileiro, com a saída do vice Kléber Leite
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Por três anos, o Brasileiro foi
vencido por um clube estável
politicamente -o São Paulo
não tinha oposição forte nem
mudanças drásticas no futebol.
É uma tônica dos pontos corridos, a exceção do turbulento
Corinthians de 2005. Favorito
para faturar o Nacional deste
ano, o Flamengo também desafia o histórico de campeões
com ambiente tranquilo.
Mais surpreendente: seu time foi forjado por um racha político resultante da eleição presidencial, que será amanhã.
Cartolas do clube dizem que a
equipe atual não seria possível
sem a briga no meio do ano.
A crise tomou forma quando
o presidente Márcio Braga se
afastou por problemas de saúde. Suas ausências foram constantes durante este ano.
O vice Delair Dumbrosck,
que é candidato a presidente,
assumiu o clube. Abaixo dele, o
vice de futebol Kléber Leite,
que apoia outra chapa.
Às vésperas das quartas de final da Copa do Brasil, diante do
Inter, Dumbrosck contratou o
meia Petkovic. Sua intenção
não era o ganho esportivo. Queria que o sérvio suspendesse
execuções judiciais por dívida
de R$ 18 milhões e aceitasse renegociar o débito. Em troca, dava um lugar para ele no elenco.
Revoltado com a contratação
à sua revelia, Leite vazou notícia para a imprensa de que todo
o departamento de futebol pediria demissão. Ao seu lado, o
ex-técnico Cuca, que era bancado pelo vice de futebol.
Dumbrosck não aceitou a
pressão. Alegou que já apoiara
Leite em outras ocasiões e queria uma compensação.
"A principal função do presidente do Flamengo é controlar
brigas de vices. Sempre prevalecem as vaidades, principalmente a minha, que sou o mais
vaidoso. É um trabalho constante", contou Braga.
Conclusão: o Flamengo perdeu do Internacional. E Petkovic foi integrado ao elenco.
Desgastado, o vice de futebol
não conseguiu segurar Cuca,
dez rodadas depois, após empate com o Barueri no Maracanã.
Leite saiu logo em seguida, juntamente com o diretor de futebol Plínio Serpa Pinto, hoje
candidato a presidente.
A saída de Cuca curou crises
de relacionamento no clube,
pois vários jogadores não gostavam dele. Nos bastidores,
acusavam-no de espioná-los e
falar mal deles a jornalistas.
Segundo pessoas de dentro
do clube, Petkovic sentiu-se desafiado pelo desprezo dos desafetos. Decidiu se preparar fisicamente com mais afinco.
Com um time em frangalhos,
o interino Andrade assumiu.
Petkovic, por falta de opção,
tornou-se o armador do time.
O treinador suspendeu críticas a atletas -Adriano passou a
faltar a treinamentos sem ser
incomodado- e deu a eles
oportunidade de opinar e até
comandar preleções. Os jogadores o apoiaram.
Após alguns tropeços, o time
arrancou até a liderança no Nacional na penúltima rodada.
Questionado sobre o assunto, Dumbrosck atribuiu em
parte à "sorte" a montagem do
time, principalmente por Petkovic. Relatos de dirigentes do
clube ainda contam que o novo
vice de futebol, Marcos Braz,
reduziu as interferências sobre
o departamento. Diretores de
futebol, preparadores físicos e
médicos passaram, então, a gozar de maior autonomia.
Paradoxalmente, uma racha
político abriu espaço para um
Flamengo com menos política,
e menos intriga, em campo.
Texto Anterior: Trauma: Triunfo apaga fiascos recentes Próximo Texto: Crise: Disputa no início da década causa decadência em brasileiros Índice
|