São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Racha entre dirigentes forja time favorito

Briga entre vices do Fla provoca queda de treinador e integração de Petkovic

Disputa devido à eleição, que ocorre amanhã, muda o comando do futebol no meio do Brasileiro, com a saída do vice Kléber Leite

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Por três anos, o Brasileiro foi vencido por um clube estável politicamente -o São Paulo não tinha oposição forte nem mudanças drásticas no futebol. É uma tônica dos pontos corridos, a exceção do turbulento Corinthians de 2005. Favorito para faturar o Nacional deste ano, o Flamengo também desafia o histórico de campeões com ambiente tranquilo.
Mais surpreendente: seu time foi forjado por um racha político resultante da eleição presidencial, que será amanhã. Cartolas do clube dizem que a equipe atual não seria possível sem a briga no meio do ano.
A crise tomou forma quando o presidente Márcio Braga se afastou por problemas de saúde. Suas ausências foram constantes durante este ano.
O vice Delair Dumbrosck, que é candidato a presidente, assumiu o clube. Abaixo dele, o vice de futebol Kléber Leite, que apoia outra chapa.
Às vésperas das quartas de final da Copa do Brasil, diante do Inter, Dumbrosck contratou o meia Petkovic. Sua intenção não era o ganho esportivo. Queria que o sérvio suspendesse execuções judiciais por dívida de R$ 18 milhões e aceitasse renegociar o débito. Em troca, dava um lugar para ele no elenco.
Revoltado com a contratação à sua revelia, Leite vazou notícia para a imprensa de que todo o departamento de futebol pediria demissão. Ao seu lado, o ex-técnico Cuca, que era bancado pelo vice de futebol.
Dumbrosck não aceitou a pressão. Alegou que já apoiara Leite em outras ocasiões e queria uma compensação.
"A principal função do presidente do Flamengo é controlar brigas de vices. Sempre prevalecem as vaidades, principalmente a minha, que sou o mais vaidoso. É um trabalho constante", contou Braga.
Conclusão: o Flamengo perdeu do Internacional. E Petkovic foi integrado ao elenco.
Desgastado, o vice de futebol não conseguiu segurar Cuca, dez rodadas depois, após empate com o Barueri no Maracanã. Leite saiu logo em seguida, juntamente com o diretor de futebol Plínio Serpa Pinto, hoje candidato a presidente.
A saída de Cuca curou crises de relacionamento no clube, pois vários jogadores não gostavam dele. Nos bastidores, acusavam-no de espioná-los e falar mal deles a jornalistas.
Segundo pessoas de dentro do clube, Petkovic sentiu-se desafiado pelo desprezo dos desafetos. Decidiu se preparar fisicamente com mais afinco.
Com um time em frangalhos, o interino Andrade assumiu. Petkovic, por falta de opção, tornou-se o armador do time.
O treinador suspendeu críticas a atletas -Adriano passou a faltar a treinamentos sem ser incomodado- e deu a eles oportunidade de opinar e até comandar preleções. Os jogadores o apoiaram.
Após alguns tropeços, o time arrancou até a liderança no Nacional na penúltima rodada.
Questionado sobre o assunto, Dumbrosck atribuiu em parte à "sorte" a montagem do time, principalmente por Petkovic. Relatos de dirigentes do clube ainda contam que o novo vice de futebol, Marcos Braz, reduziu as interferências sobre o departamento. Diretores de futebol, preparadores físicos e médicos passaram, então, a gozar de maior autonomia.
Paradoxalmente, uma racha político abriu espaço para um Flamengo com menos política, e menos intriga, em campo.


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