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Andrade tenta 1ª taça de um negro na prancheta
DO ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS
Jorge Luís Andrade da Silva
pode atingir uma marca histórica se levar o Flamengo ao título brasileiro hoje. O mineiro
de 52 anos se tornará o maior
campeão de Nacionais e o primeiro negro a comandar uma
equipe vencedora do certame.
Companheiro de jogadores
como Zico e Junior, na década
de 80, Andrade venceu a desconfiança e até o racismo ao assumir o clube pelo qual conquistou quatro títulos brasileiros -o de 1987 não é reconhecido pela CBF. O quinto ele obteve com a camisa do Vasco.
Desde 2004, o ex-volante assumiu por sete vezes o Flamengo -cinco interinamente.
Auxiliar técnico funcionário
do clube, ele tirou a equipe da
Série B com uma série de bons
resultados nas rodadas finais
no Brasileiro-2004. Mesmo assim, foi sub de nove técnicos
até ser efetivado neste ano.
A vontade de tê-lo como técnico, porém, é anterior. Em
2004, Junior, então gerente de
futebol, tentou efetivá-lo no
cargo. Ele conta ter ouvido, em
meio aos comentários sobre a
inexperiência do treinador, argumentos racistas contra a efetivação de Andrade.
"No momento de colocações
de virtudes e defeitos, vieram
comentários deste tipo. Além
da inexperiência no cargo, diziam que era um negro sem boa
dicção", relembrou Junior.
Acostumado a servir ao Flamengo, o treinador não entra
na polêmica. "Isso vem de pessoas ignorantes, que têm um
pensamento desse ainda no século em que nós estamos. Não
merece nem comentário."
Para o pesquisador Luciano
Cerqueira, coordenador da
campanha "Mande um cartão
vermelho para o racismo no futebol", o título de Andrade vai
chamar a atenção para a falta
de técnicos negros no futebol.
"No futebol, reina o mesmo
pensamento da sociedade em
geral. O negro pode ocupar determinados espaços, mas não
outros. Pode jogar, estar na comissão técnica, mas não ser o
comandante, o cara que tem as
ideias", afirmou ele.
Para Andrade, a vitória também pode favorecer a entrada
de ex-atletas no mercado.
"Esse espaço [de treinador] é
de ex-jogadores. Com o tempo,
ficou em aberto e outras pessoas se aproveitaram. Alguns
são competentes, merecem estar onde estão. Outros foram
oportunistas", afirmou.
A discrição de Andrade chama a atenção. Nos jogos, pouco
grita ou gesticula para chamar a
atenção dos jogadores. Nos
treinamentos abertos à imprensa, raramente para jogadas
para colocar a mão no braço
dos atletas e acertar posicionamento. Fica mais à beira ou ao
centro do campo, girando o
cordão do apito.
Mesmo assim, não deixou de
interferir no esquema do time.
Abandonou o modelo com três
zagueiros adotado desde 2007
por Joel Santana e mantido por
Caio Jr. e Cuca e buscou na
equipe vencedora da qual participou nos anos 80 o posicionamento de seus atuais jogadores.
Recuperou atletas deixados
de lado, como o meia Petkovic e
o atacante Zé Roberto, e conseguiu a confiança do grupo.
"A humildade é uma arma
poderosíssima, que não falha.
Essa humildade e simplicidade
muitas vezes foi confundida
com incompetência. Simplesmente ele tem um jeito de ser e
é vencedor", disse o sérvio.
(ITALO NOGUEIRA)
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