São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Andrade tenta 1ª taça de um negro na prancheta

DO ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Jorge Luís Andrade da Silva pode atingir uma marca histórica se levar o Flamengo ao título brasileiro hoje. O mineiro de 52 anos se tornará o maior campeão de Nacionais e o primeiro negro a comandar uma equipe vencedora do certame.
Companheiro de jogadores como Zico e Junior, na década de 80, Andrade venceu a desconfiança e até o racismo ao assumir o clube pelo qual conquistou quatro títulos brasileiros -o de 1987 não é reconhecido pela CBF. O quinto ele obteve com a camisa do Vasco.
Desde 2004, o ex-volante assumiu por sete vezes o Flamengo -cinco interinamente.
Auxiliar técnico funcionário do clube, ele tirou a equipe da Série B com uma série de bons resultados nas rodadas finais no Brasileiro-2004. Mesmo assim, foi sub de nove técnicos até ser efetivado neste ano.
A vontade de tê-lo como técnico, porém, é anterior. Em 2004, Junior, então gerente de futebol, tentou efetivá-lo no cargo. Ele conta ter ouvido, em meio aos comentários sobre a inexperiência do treinador, argumentos racistas contra a efetivação de Andrade.
"No momento de colocações de virtudes e defeitos, vieram comentários deste tipo. Além da inexperiência no cargo, diziam que era um negro sem boa dicção", relembrou Junior.
Acostumado a servir ao Flamengo, o treinador não entra na polêmica. "Isso vem de pessoas ignorantes, que têm um pensamento desse ainda no século em que nós estamos. Não merece nem comentário."
Para o pesquisador Luciano Cerqueira, coordenador da campanha "Mande um cartão vermelho para o racismo no futebol", o título de Andrade vai chamar a atenção para a falta de técnicos negros no futebol.
"No futebol, reina o mesmo pensamento da sociedade em geral. O negro pode ocupar determinados espaços, mas não outros. Pode jogar, estar na comissão técnica, mas não ser o comandante, o cara que tem as ideias", afirmou ele.
Para Andrade, a vitória também pode favorecer a entrada de ex-atletas no mercado.
"Esse espaço [de treinador] é de ex-jogadores. Com o tempo, ficou em aberto e outras pessoas se aproveitaram. Alguns são competentes, merecem estar onde estão. Outros foram oportunistas", afirmou.
A discrição de Andrade chama a atenção. Nos jogos, pouco grita ou gesticula para chamar a atenção dos jogadores. Nos treinamentos abertos à imprensa, raramente para jogadas para colocar a mão no braço dos atletas e acertar posicionamento. Fica mais à beira ou ao centro do campo, girando o cordão do apito.
Mesmo assim, não deixou de interferir no esquema do time. Abandonou o modelo com três zagueiros adotado desde 2007 por Joel Santana e mantido por Caio Jr. e Cuca e buscou na equipe vencedora da qual participou nos anos 80 o posicionamento de seus atuais jogadores.
Recuperou atletas deixados de lado, como o meia Petkovic e o atacante Zé Roberto, e conseguiu a confiança do grupo.
"A humildade é uma arma poderosíssima, que não falha. Essa humildade e simplicidade muitas vezes foi confundida com incompetência. Simplesmente ele tem um jeito de ser e é vencedor", disse o sérvio. (ITALO NOGUEIRA)


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