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BASQUETE
Dumbo
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A mãe engravidou aos 16 anos
de uma aventura fortuita
com um homem que mais tarde
cumpriria uma dezena de condenações. Ela própria já dormiu sete
noites em delegacias.
O menino que ficava na ponta
dos dedos para tentar crescer
mais rápido chegou a trocar sete
vezes de casa no mesmo ano.
Envergonhado, passou a evitar
a escola. Dos 160 dias de aula da
4ª série, faltou a 82.
O técnico do colégio apiedou-se
-de olho no biótipo do garoto-
e garantiu abrigo na tempestade.
Hoje, 6,4 de nota média, o bom
aluno voltou ao teto da mãe. Dividem um apartamento de dois
quartos. Mais de 50 pôsteres de
Michael Jordan adornam o dele.
Desde os 15 anos, ele bate bola
com o ídolo nas férias. Aos 16,
treinou com os profissionais do
Cleveland. Aos 17, ainda no colegial, sucesso de público e crítica,
apenas aguarda o mês de junho,
quando será o primeiro escolhido
no "draft", o vestibular anual que
renova os times da NBA.
Nem Kobe Bryant nem Kevin
Garnett nem Tracy McGrady
atraíram tanta atenção quando
optaram pelo ousado salto.
Hoje entre os cinco melhores do
mundo, os três eram magricelas
quando decidiram tentar a vida
na liga sem o tradicional "pit
stop" no circuito universitário.
LeBron James, por sua vez, já
exibe corpo de NBA. Olhos apurados apostam que ele possui 2,01 m
e 105 kg -e calculam que pula,
parado, 93 cm. O adolescente nega-se a tirar as medidas. "Como
um super-herói, não quero que
saibam minha identidade."
LeBron é ambidestro. Come e
escreve com a mão esquerda, mas
arremessa preferencialmente com
a direita. Une a visão periférica
de um armador ao tino de cesta
de um ala. O QI quadra é o que
mais impressiona. Não segura a
bola, não força o chute.
Nenhuma voz no basquete
americano fez restrições a seu jogo. A NBA já quer incluí-lo no
grupo olímpico que buscará reerguer o "Dream Team" depois da
humilhação em Indianápolis.
Tamanha a febre, uma afiliada
da Time Warner no Estado de
Ohio comprou os direitos de imagem do time da escola St.Vincent-St.Mary. Detalhe: cada partida
custa US$ 8. É a primeira vez que
uma "high school" entra no sistema "pay-per-view".
Sempre atenta, a ESPN resolveu
mostrar o garoto em cadeia nacional. Oponente: a Oak Hill Academy, melhor equipe colegial do
país, seis derrotas em cinco anos.
Na platéia, dirigentes de dez clubes da NBA e dezenas de executivos da indústria do esporte.
À pressão, LeBron respondeu
com 31 pontos, 13 rebotes e 6 assistências. E a vitória, 65 x 45.
"Quero atrair a atenção de todos. Adoro aparecer na TV. Espero que Kobe esteja me vendo",
disse, para uma audiência recorde, o garoto, que cobre suas tatuagens com band-aids, exigência do
severo colégio católico.
A fim de restaurar a ordem, a
direção da SVSM solicitou que
não se pedissem mais autógrafos
e fotos no intervalo das aulas.
Pela mesma razão, LeBron não
pisa há dois anos na quadra da
escola. Levaram os treinos e as
partidas para o ginásio da Universidade de Akron, 6.000 disputadas cadeiras.
Pelas suas orelhas de abano, a
maior aposta do mercado futuro
do basquete ganhou dos colegas
de classe o apelido de Dumbo.
Dumbo. Uma aberração de circo.
Ou o sonho de voar.
LeBron 1
Nike e Adidas já ofereceram propostas de contrato de US$ 25 milhões. O rapaz habilmente alterna a marca do tênis a cada jogo.
LeBron 2
A fim de reequilibrar o campeonato, a NBA dava aos dois piores times o direito de, na "moedinha", definir quem abriria o "draft".
Não tardou para os inescrupulosos perceberem que, uma vez alijados da disputa da taça, compensava entregar o jogo. Em 1984, a
corrida pela lanterna premiou Houston e Chicago com Hakeem
Olajuwon e Michael Jordan (e oito títulos na década seguinte). Em
1985, a liga reagiu. Criou outro sorteio, menos permeável, com todos os eliminados. Mas a baixaria está de volta. Cleveland, Toronto
e o Denver de Nenê arriaram as calças por "Bron Bron".
LeBron 3
Um seguro dará US$ 5 milhões ao garoto caso não chegue à NBA.
E-mail melk@uol.com.br
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