São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2011

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XICO SÁ

Ai de ti, ai de nós


Ai de ti, Copacabana, que já viu leilões mais decisivos e classudos do que o de Ronaldinho


AI DE TI, amigo torcedor, ai de ti, amigo secador, ai de ti, Copacabana, que parou ontem para acompanhar mais um capítulo, sem revelação alguma, da novela Ronaldinho. Ai de ti, Copacabana, que já viu leilões mais decisivos e classudos, como o da boate Help, por exemplo, patrimônio da tua geografia afetiva entregue na bacia das almas.
Ai de ti, Copacabana, cujo pecado capital dominante é a luxúria, algo tão ao gosto do craque sob o martelo leiloeiro da cartolagem. Ai de ti, Copacabana, com suas godivas e Kátias Flávias, criaturas geniais do teu bardo Fausto Fawcett.
Ai de ti, Copacabana, e dos teus esperançosos flamenguistas, que viram a coletiva do R10 como quem assiste a uma partida no Maraca. Uma partida ilusória, é bom que se diga, que não passou de um jogo-treino com o Madureira.
Ai de ti, Copacabana Palace, e de teus assustados gringos, que não entenderam nada daquele circo sem graça.
Ai de ti, Copacabana, que viu ontem o espírito de Antônio Maria, que vagava pela tarde no bairro, na cola de uma bendita moça. Ao cruzar o evento no hotel, o cronista ainda soltou o seu bordão de narrador esportivo: "Bola no fotógrafo!", ou seja, bola a léguas do gol, nada feito, mais uma bola fora.
Ai de ti, Copacabana, cenário de verão deste triste "Quo Vadis" (Aonde Vais?), para lembrar o épico do cinema com Robert Taylor e Deborah Kerr, entre outros ídolos.
Ai de ti, Copacabana, onde todos interromperam o sexo suado do veraneio para seguir o suspense de Ronaldinho. Até a bela travesti e musa Angélica Castro, relata o amigo Botika -renomado autor do livro "Búfalo"-, parou o atendimento.
Ai de ti, Copacabana, ai de ti, fanático em abstinência futebolística, que, na falta de jogo do time do peito, busca emoção no vaivém das commodities ludopédicas. Quanta carência.
Para compensar esse distúrbio de testosterona, amigo, recomendo uns faroestes. Que tal "O Homem Que Matou o Facínora" ("The Man Who Shot Liberty Valance", 1961), de John Ford, com John Wayne, James Stewart etc.?
Ai de ti, Copacabana, onde perdi de pouco nos amores avulsos e onde ressuscitei uma vez, qual um Lázaro, um casamento que parecia entregue às traças dos sofás da boate Help.
Ai de ti, Rubem Braga, usurpado até às últimas pelo vagabundo de praia que lesadamente assina essa crônica de férias.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa


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