São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAULO VINICIUS COELHO A verdade do retorno
SE FICASSE no Manchester City nos próximos seis meses, Robinho receberia R$ 3 milhões a mais do que receberá no Santos no mesmo período. Vale a lembrança. Em 2005, quando o atleta fez até greve para deixar a Vila Belmiro, o Real Madrid aceitava pagar no máximo US$ 30 milhões para comprá-lo do Santos, que exigia US$ 50 milhões. Como Robinho tinha direito a 40% do valor da transação, abriu mão da porcentagem, e o negócio se concretizou. Em outras palavras, Robinho abriu mão de R$ 3 milhões para voltar, mas dispensou US$ 20 milhões para sair. "Estou voltando porque amo o Santos", disse Robinho na entrevista coletiva de sua reapresentação. A conta faz pensar que já amou menos. Mas, digamos, ele ama bem mais o Santos do que o dinheiro. No fundo, Robinho volta a vestir a camisa do Santos a partir de hoje, contra o São Paulo, porque ama ser amado. É nisso que ele aposta para voltar a jogar bem, para chegar em forma à Copa do Mundo. De cara, Robinho devolve ao Santos o orgulho de ter um jogador num Mundial, fato inédito desde que Zagallo levou à Alemanha o zagueiro Marinho Peres e o ponta-esquerda Edu, no distante ano de 1974. A seleção brasileira também ama ser amada. Em busca desse amor, da relação mais próxima com a torcida, com a percepção da esperança que representa para o povo brasileiro, a preparação para a Copa passará por Curitiba, bem mais perto do que Weggis, o local escolhido em 2006. A seleção anda muito longe. Dos 26 convocados para os amistosos de novembro, todos vieram do exterior. Das cinco Copas vencidas pelo Brasil, nenhuma foi conquistada com a maioria dos convocados atuando no exterior. Em 1958, 1962 e 1970, todos jogavam por clubes brasileiros; em 1994, metade dos convocados; em 2002 eram 13 dos 23 chamados. Só em três Copas a maioria dos jogadores veio do exterior, coincidentemente em três das maiores frustrações da seleção -em 1990, em 1998 e em 2006. É inútil fazer dessa informação um mantra para forçar convocações de quem atua no Brasil, porque, nos períodos de exportação em massa, a camisa da seleção é senha para um clube estrangeiro comprar o craque. E mesmo esta época de vacas magras na Europa ajudará a colocar no máximo quatro jogadores de clubes brasileiros na lista final para a África do Sul -Adriano, Robinho, Victor e Miranda. "Não muda muito o lugar onde o jogador atua. Importante é a preparação adequada, o que pode ser feito no Brasil ou na Europa", diz Kaká, um dos que continuam a fazer sucesso na Europa. Como Kaká, mais gente de lá tem pensado sobre os pontos favoráveis e desfavoráveis provocados por retornos, como os de Adriano e Robinho. Viver de perto a expectativa da torcida é bom. Contagiar a crítica por jogar bem contra adversários fracos é ruim. Adriano está jogando muita bola ou enfrentando rivais frágeis demais? A primeira alternativa pode fazer com que ele ganhe a posição de Luis Fabiano para que, mais tarde, seja constatado que a alternativa correta era a segunda. Então, pedala, Robinho! Mas que pedale pelo menos até o fim da Copa do Mundo. pvc@uol.com.br Texto Anterior: Juca Kfouri: Quem dá bola ao Paulistinha? Próximo Texto: São Paulo, sem astros, vê mais um repatriado jogar Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |