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Federação reduz rombo com taxa por empréstimos não permitida a entidades sem fins lucrativos
FPF ganha bem mais com juros e menos com futebol
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Federação Paulista de Futebol
foi mais competente como banco
do que como entidade esportiva.
No ano passado, assim como já
havia ocorrido no ano anterior, a
FPF não obteve bom resultado
com sua atividade-fim. A receita
operacional líquida, que veio das
tarefas de organizar e administrar
o futebol no Estado de São Paulo,
acabou sendo bem inferior que as
despesas operacionais.
Com a promoção do futebol
paulista, obteve uma receita de R$
7.281.046,05, quase a metade da
do ano anterior, enquanto as despesas para organizar os torneios e
manter suas atividades totalizaram R$ 19.667.600,42.
O resultado operacional líquido, portanto, foi negativo, da ordem de R$ 12.386.554,37.
Segundo Rogério Caboclo, responsável pelo setor financeiro da
FPF, "a queda nas receitas operacionais deveu-se aos problemas
do Paulista depois que mudaram
o calendário". "Em 2002 não jogavam os times grandes. Este ano
eles jogam, mas o torneio foi encurtado. Caem o número de jogos, a verba das TVs e de patrocínio, é natural que as receitas da federação também sejam afetadas."
Se perdeu com sua atividade-fim, a FPF lucrou com as operações financeiras, responsáveis por
reduzir o déficit do exercício -as
receitas não-operacionais superaram as despesas não-operacionais em R$ 7.946.783,54.
Só as receitas financeiras, nas
quais estão incluídos os ganhos financeiros da federação e o empréstimo a clubes, a juros -que a
FPF chama de taxas- abaixo dos
habitualmente cobrados por bancos, totalizaram R$ 6.799.023,52.
O valor representa quase o dobro dos R$ 3.403.671,59 obtidos
em 2001. Em outras palavras, enquanto as receitas da federação
com sua atividade-fim caíram
quase pela metade de 2001 para
2002, as receitas financeiras praticamente dobraram.
E foi graças a elas que o déficit
do ano passado acabou sendo reduzido -o prejuízo do exercício
foi de R$ 4.439.770,83.
Quando investigada pelas CPIs
sobre futebol que funcionaram no
Congresso Nacional, a federação
já foi advertida de que não poderia funcionar como banco, afastando-se de sua atividade-fim e
assumindo uma outra que não cabe a uma entidade sem fins lucrativos -empréstimo a juros.
Mas Reynaldo Carneiro Bastos,
que responde interinamente pela
entidade, já que o presidente
Eduardo José Farah pediu licença
por tempo indeterminado em janeiro, diz que não é bem assim.
Por intermédio de sua assessoria, ele explicou que o que a federação faz é adiantar receitas aos
clubes. Pelo adiantamento, recebe
o que chama de uma "pequena taxa", inferior aos juros bancários e
que variaria de caso a caso.
Segundo a entidade, as taxas cobradas de cada clube que precisou
de adiantamentos ou empréstimos foram apresentadas a seus
afiliados e aprovadas por todos
em assembléia geral para prestação e aprovação de contas.
Não seriam tornadas públicas,
porém, pois no balanço publicado em fevereiro, seguindo exigência da medida provisória 79, não
haveria necessidade de discriminar separadamente cada uma das
receitas financeiras.
Presidente da FPF desde 1988,
Farah, que está licenciado do cargo, não foi encontrado para comentar os ganhos da FPF no mercado financeiro nem os empréstimos feitos aos clubes.
Durante as CPIs, no entanto, o
dirigente, que foi acusado, entre
outras coisas, de sonegação fiscal
e evasão de divisas, afirmou que
até no exterior a federação aplicava recursos, tentando obter melhor retorno do que no Brasil com
possíveis oscilações do câmbio e
aumentar suas reservas financeiras para períodos difíceis.
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