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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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Federação reduz rombo com taxa por empréstimos não permitida a entidades sem fins lucrativos

FPF ganha bem mais com juros e menos com futebol

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Federação Paulista de Futebol foi mais competente como banco do que como entidade esportiva.
No ano passado, assim como já havia ocorrido no ano anterior, a FPF não obteve bom resultado com sua atividade-fim. A receita operacional líquida, que veio das tarefas de organizar e administrar o futebol no Estado de São Paulo, acabou sendo bem inferior que as despesas operacionais.
Com a promoção do futebol paulista, obteve uma receita de R$ 7.281.046,05, quase a metade da do ano anterior, enquanto as despesas para organizar os torneios e manter suas atividades totalizaram R$ 19.667.600,42.
O resultado operacional líquido, portanto, foi negativo, da ordem de R$ 12.386.554,37.
Segundo Rogério Caboclo, responsável pelo setor financeiro da FPF, "a queda nas receitas operacionais deveu-se aos problemas do Paulista depois que mudaram o calendário". "Em 2002 não jogavam os times grandes. Este ano eles jogam, mas o torneio foi encurtado. Caem o número de jogos, a verba das TVs e de patrocínio, é natural que as receitas da federação também sejam afetadas."
Se perdeu com sua atividade-fim, a FPF lucrou com as operações financeiras, responsáveis por reduzir o déficit do exercício -as receitas não-operacionais superaram as despesas não-operacionais em R$ 7.946.783,54.
Só as receitas financeiras, nas quais estão incluídos os ganhos financeiros da federação e o empréstimo a clubes, a juros -que a FPF chama de taxas- abaixo dos habitualmente cobrados por bancos, totalizaram R$ 6.799.023,52.
O valor representa quase o dobro dos R$ 3.403.671,59 obtidos em 2001. Em outras palavras, enquanto as receitas da federação com sua atividade-fim caíram quase pela metade de 2001 para 2002, as receitas financeiras praticamente dobraram.
E foi graças a elas que o déficit do ano passado acabou sendo reduzido -o prejuízo do exercício foi de R$ 4.439.770,83.
Quando investigada pelas CPIs sobre futebol que funcionaram no Congresso Nacional, a federação já foi advertida de que não poderia funcionar como banco, afastando-se de sua atividade-fim e assumindo uma outra que não cabe a uma entidade sem fins lucrativos -empréstimo a juros.
Mas Reynaldo Carneiro Bastos, que responde interinamente pela entidade, já que o presidente Eduardo José Farah pediu licença por tempo indeterminado em janeiro, diz que não é bem assim.
Por intermédio de sua assessoria, ele explicou que o que a federação faz é adiantar receitas aos clubes. Pelo adiantamento, recebe o que chama de uma "pequena taxa", inferior aos juros bancários e que variaria de caso a caso.
Segundo a entidade, as taxas cobradas de cada clube que precisou de adiantamentos ou empréstimos foram apresentadas a seus afiliados e aprovadas por todos em assembléia geral para prestação e aprovação de contas.
Não seriam tornadas públicas, porém, pois no balanço publicado em fevereiro, seguindo exigência da medida provisória 79, não haveria necessidade de discriminar separadamente cada uma das receitas financeiras.
Presidente da FPF desde 1988, Farah, que está licenciado do cargo, não foi encontrado para comentar os ganhos da FPF no mercado financeiro nem os empréstimos feitos aos clubes.
Durante as CPIs, no entanto, o dirigente, que foi acusado, entre outras coisas, de sonegação fiscal e evasão de divisas, afirmou que até no exterior a federação aplicava recursos, tentando obter melhor retorno do que no Brasil com possíveis oscilações do câmbio e aumentar suas reservas financeiras para períodos difíceis.


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