São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Morreu!


Com os Estaduais como vilão neste início de temporada, o futebol brasileiro se vê hoje em estado de inanição

NOS ÚLTIMOS dez dias, o Vasco disputou três partidas que, somadas, reuniram um público de 2.611 pagantes. Não diga que o problema é o tamanho da torcida do Vasco, a quinta maior do país, segundo o Datafolha. O clube entrou em campo contra o Sousa-PB para 593 torcedores, contra o Volta Redonda diante de 932, contra o Bangu para 986 pagantes. "Nem quando dirigia o Paulista de Jundiaí passei por situação semelhante", diz o técnico vascaíno, Vagner Mancini.
O vilão do início de temporada são os Campeonatos Estaduais. Você pode até argumentar que o pior dos três públicos vascaínos aconteceu pela Copa do Brasil. As duas últimas rodadas completas do Paulistão registraram seis partidas com menos de mil pagantes, ou seja, 30% do total de jogos da Série A-1 não chegaram a mil torcedores. E a lista de duelos com número de espectadores minúsculo se espalha pelo país. Há décadas, há quem goste e quem não goste dos Estaduais. Esqueça seu gosto pessoal. O futebol nacional está morrendo de inanição.
Se você conversar com gente séria, como César Sampaio, volante vice- -campeão mundial em 1998, ouvirá depoimentos estarrecedores sobre o número de desempregados no futebol brasileiro. Esse é um argumento favorável a ter clubes modestos entrando em campo semana após semana, como se vê neste primeiro semestre. É a chance de oferecer emprego a técnicos, jogadores, massagistas, fisiologistas, jornalistas...
Mas o desemprego se agrava quando vem o segundo semestre, quando chega o Brasileirão. Como os clubes do interior disputam torneios marginais, como a Copa Federação Paulista, economizam contratando atletas que vêm do futebol amador. No fim dessas copinhas, o craque do amadorismo entra na fila dos desempregados profissionais.
E o profissionalismo tem registrado públicos amadores. "Domingo que vem começa a Copa Kaiser, que terá 48 jogos na primeira rodada e expectativa de 50 mil pessoas espalhadas por 24 campos da cidade de São Paulo", diz Flávio Adauto, diretor da Evidência, a empresa que organiza o torneio.
Não há cobrança de ingressos na várzea, é fato. Pois o público pagante é o que deveria diferenciar o futebol profissional do amador. Se há mais gente num jogo amador do que em outro profissional, algo está errado.
Não se trata de simplesmente fechar os clubes do interior, mas de aplicar uma fórmula que os faça voltar à vida. Uma hipótese é criar um Estadual regionalizado, que reforce a rivalidade de cidade contra cidade e reúna todos os clubes do Estado, exceto os que disputam as séries A, B, C e D do Brasileirão. Os grandes só entrariam no Estadual nas quartas de final e jogariam contra os quatro classificados do interior, usando apenas seis quartas-feiras para jogos decisivos.
A rivalidade entre cidades poderia atrair público para o Estadual dos pequenos, que teriam o objetivo de classificação para enfrentar os grandes no final da temporada. O Vasco, por exemplo, não entraria mais em campo para um jogo contra o Bangu, como o de quarta- -feira, com renda de R$ 15 mil.
Sabe quantos titulares do clube de São Januário recebem menos de R$ 15 mil por mês? Nenhum.

pvc@uol.com.br


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