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Quem foi esse tal de Ranielli?
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas
O Campeonato Paulista, entre tantas glórias e tradições,
tem um orgulho muito especial
em relação a seus artilheiros.
Por essa competição, passaram
os maiores, mais divertidos,
mais clássicos e mais briguentos goleadores do futebol brasileiro.
Para começar, o primeiro artilheiro do Paulistão foi ninguém menos que o fundador
do futebol no Brasil, Charles
Miller, que marcou dez gols no
campeonato de 1902 para o
São Paulo Athletic.
Depois dele, veio a era de
Friedenreich, o maior artilheiro do mundo, com 1.329 gols.
Era filho de um alemão e uma
mulata e, com essa bela combinação genética, foi nove vezes
o marcador máximo do campeonato, a primeira vez com
20 anos e a última, com 37.
E houve ainda astros da
grandeza de um Romeu Pellicciari, de um Araken Patuska,
de um Teleco e de um Feitiço,
três vezes artilheiro pelo São
Bento e três, pelo Santos. Aliás,
Feitiço foi o primeiro jogador
brasileiro a ser chamado de artilheiro, um termo importado
do Uruguai.
Mas ninguém brilhou tanto
como Pelé, que foi artilheiro
do campeonato estadual por 11
vezes -9 seguidas-, chegando à impressionante marca de
58 gols no torneio de 1958.
Passada a era Pelé, vimos
brilhar a figura de Toninho, o
Guerreiro, e César, o Maluco.
Depois, vieram Serginho (quatro vezes artilheiro), Sócrates,
Edmar e Juari. E nos tempos
recentes, tivemos Casagrande,
Viola, Evair, Raí e Giovanni.
Porém, quando lia essa galeria de nomes ilustres no livro
"A História do Campeonato
Paulista", de André Fontenelle
e Valmir Storti, deparei-me
com um nome desconhecido,
um tal de Téia, artilheiro da
Ferroviária no torneio de 1968,
com 20 gols.
Nunca ouvi falar desse Téia.
É verdade que eu tinha apenas
cinco anos em 68, mas alguém
que jogando na pequena Ferroviária faz mais gols que Pelé
e Toninho Guerreiro não poderia ser totalmente esquecido. Terá sido um gênio que
não desabrochou? Largou o futebol por uma bela mulher?
Foi quebrado por um zagueiro? Quem foi esse tal de Téia?
Como ele entrou na nobre lista
dos artilheiros paulistas?
Trinta anos depois, poderíamos ter um novo Téia, porque
os jogadores dos grandes times
como Oséas, Paulo Nunes,
Muller, Dodô, Denílson, Marcelinho e Mirandinha entram
no campeonato depois que os
times do interior já jogaram
muitas vezes, e seus atacantes
fizeram muitos gols.
Porém, para evitar que o artilheiro do Paulista seja um jogador de time pequeno, a FPF
decidiu zerar os gols feitos até
agora. É como se, lento e habilidoso, Ranielli não tivesse feito seus oito gols. Para consertar uma injustiça que foi excluir os grandes da primeira
fase, Farah comete outra.
É uma pena. Se os gols fossem mantidos, nossos filhos
poderiam ler nos livros de história futebolística que, em 98,
Ranielli, da destemida Matonense, foi o artilheiro máximo.
Eles imaginariam um atacante
rápido, incisivo, dono de um
gingado fascinante e de uma
rara habilidade na pequena
área, um novo Coutinho, um
Servílio ressuscitado, um Del
Vecchio dos novos tempos e
perguntariam: "Quem foi esse
tal de Ranielli?"
José Roberto Torero escreve às terças-feiras e
sábados
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