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Canadense do Recife vira estrela na elite do hóquei
Filho de missionários, Robyn Regehr supera trauma e estréia hoje nos playoffs da NHL
GUILHERME ROSEGUINI
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A pergunta é repetida sempre
que um companheiro de equipe
tem acesso à ficha de Robyn Regehr. Quando lêem "Recife, Brazil" no espaço reservado para o local de nascimento, os colegas notam algo fora do padrão e questionam: "Por que você não decidiu
ser um jogador de futebol?".
Na verdade, Regehr nem teve
tempo de escolher. Com menos
de um ano, deixou a capital pernambucana e seguiu os pais em
uma romaria pelo mundo.
As andanças acabaram no Canadá. Na cidade de Calgary ele sedimentou sua residência. Lá, ganhou destaque no esporte que
aprendeu com o pai, o hóquei no
gelo. E, agora, vai entrar para a
história do país em que nasceu.
O Calgary Flames, time que Regehr defende, classificou-se para
os mata-matas da NHL, principal
liga profissional da modalidade.
Ele se tornará hoje o primeiro
brasileiro a atuar na fase decisiva
do torneio. Seu time vai a Vancouver enfrentar os Canucks.
"Chegamos às finais pela primeira vez em sete anos. Fizemos
uma ótima temporada e meu objetivo agora é chegar ao título",
contou o atleta de 23 anos à Folha.
Regehr não conhece nenhuma
palavra em português. Suas lembranças do Brasil limitam-se às
fotografias que os pais tiraram
quando vieram para o Recife trabalhar em comunidades carentes.
Membros da Igreja Metodista,
Edith e Ron percorreram mais de
20 países como missionários.
Ela, enfermeira, ensinava noções básicas de saúde. Ele, agricultor, mostrava como cuidar da terra e cultivar pequenas plantações
destinadas à subsistência.
"Conhecemos pessoas maravilhosas nessas viagens. Só que um
dia decidimos parar para criar os
nossos filhos", afirma Edith.
Com três crianças pequenas,
Ron e a mulher deixaram a Indonésia, onde estavam pregando, e
retornaram para o Canadá.
Robyn, na época, tinha sete anos.
"Foi aí que começou minha carreira no hóquei. Meu pai ensinou
todos os filhos a patinar. Eu comecei a disputar pequenos jogos
com meus vizinhos e percebi que
levava jeito para a coisa", afirmou.
O sucesso do filho no esporte fez
os pais cancelarem os planos de
novas peregrinações. "Ainda cogitamos retomar o trabalho missionário. Só que, por enquanto, só
vamos sair da cidade para vibrar
nos jogos de Robyn", disse Edith.
Ela jura que não é uma mãe coruja. O fato de querer estar sempre perto do rapaz tem outra explicação: menos de cinco anos
atrás, Edith pensou que nunca
mais voltaria a conviver com ele.
Corria o mês de julho em 1999.
Regehr e o irmão mais velho decidiram passar o domingo em um
lago. Na rota de volta, um carro
invadiu sua pista. A colisão foi
frontal. Duas pessoas morreram.
O brasileiro quebrou as pernas e
passou alguns dias em coma. Perguntou pelo irmão quando acordou e descobriu que ele passava
bem. As mortes registradas eram
de passageiros do outro veículo.
"Fiquei feliz por estar vivo e por
saber que não tive culpa. Um laudo mostrou que o outro motorista
estava bêbado", declarou.
O retorno à NHL foi penoso.
Após muitas sessões de fisioterapia, ele recuperou os movimentos. Somente em outubro daquele
ano voltou a vestir a camisa 28 na
linha de defesa dos Flames.
Foi em um jogo contra o Ottawa, quando ficou em quadra por
1min37s. Pouco tempo, mas o suficiente para celebrar. "A recuperação era muito complicada. Hoje, acho que posso me orgulhar de
ter chegado até aqui", conta.
Antes dele, segundo a própria
NHL, apenas um brasileiro havia
participado de jogos da liga.
No campeonato de 1989/1990,
Mike Greenlay, também naturalizado canadense, atuou no gol do
Edmonton Oilers em duas partidas. Ele nasceu em Vitória, na Bahia, e jogou por pouco mais de 20
minutos. Seu time não alcançou
os mata-matas do torneio.
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