São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

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FUTEBOL

Às vésperas da competição, atletas e comissão técnica temem "contágio" em eliminatórias se Brasil fracassar no Peru

Seleção já pede extinção da Copa América

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

A mais antiga competição entre seleções de futebol virou um estorvo para o Brasil. A ponto de alguns dos principais jogadores do país e de integrantes da comissão técnica defenderem, pelo menos nas rodinhas da concentração, a extinção da Copa América.
A Folha apurou que Ronaldo e Roberto Carlos estão entre os que querem o fim do sul-americano, disputado desde 1916. E não estão sozinhos. Membros do estafe técnico também excluiriam o torneio do calendário mundial.
A avaliação dos contrários à Copa América é simples: se vencê-la, o Brasil não obtém dividendos efetivos. Não será mais festejado nem receberá refresco nas cobranças. Mas, caso fracasse, haverá "contágio" para as eliminatórias, nas palavras de um deles.
A campanha na Colômbia é exemplo. Em 2001, o futebol no país vivia crise sem precedentes, em meio a duas CPIs no Congresso e ao risco de ficar fora do Mundial-2002. Com Luiz Felipe Scolari, o time foi eliminado por Honduras. A pressão, que já era grande, só aumentou.
Os críticos da Copa América acham que ela atrapalha a equipe fisicamente. Como é disputada nas férias da temporada européia, os atletas ficam sem descanso. Há ainda o temor de contusões.
E esse será o argumento dos atletas para fugir do torneio no Peru, daqui a um mês, e evitar ser tachados de desertores.
Se nos corredores da seleção a Copa América é desprezada, publicamente ninguém defende sua extinção. Comissão técnica e atletas sabem que ela é importante politicamente para a CBF. Ter os pentacampeões contra a confederação sul-americana seria um problema para Ricardo Teixeira.
O presidente da CBF precisa do apoio de seus colegas para ser reeleito no Comitê Executivo da Fifa, em 2006. Também não quer entrar em atrito no continente em plena campanha pela Copa-14.
Uma questão interna também colocaria Teixeira em saia justa. A Copa América é bancada pela Traffic, agência de marketing que sempre foi parceira da CBF. "Vão todos os craques. Vencer a Copa América é prioridade do Ricardo", diz J. Hawilla. Mas o desejo do dono da agência não virará realidade. "Vou fazer o que é melhor para o Brasil, mas lá na frente", disse Carlos Alberto Parreira. "A Copa América é só um apêndice do calendário. É totalmente inoportuna. Ela existe para atender a interesses de outros países, da TV e dos patrocinadores. Se o Brasil ganhar ou perder a Copa América, o que vai mudar?"
Publicamente, Roberto Carlos fala em transformar o torneio em classificatório para o Mundial. "Ela não é tão importante porque na América do Sul se joga muito."
Já o lateral Cafu, lacônico, resume o sentimento geral dos atletas. "Copa América sempre houve."


Colaborou Paulo Cobos, enviado especial a Santiago


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