São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

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O PERSONAGEM

Para sociólogo, rivais admiram mais que odeiam

DA SUCURSAL DO RIO

Morando desde o início do ano em Buenos Aires para pesquisar como os nossos vizinhos "enxergam" a seleção, o sociólogo Ronaldo Helal, 49, diz que os brasileiros extravasam mais o ódio do que os nossos rivais.
Com mestrado e doutorado em sociologia do esporte (faz pós-doutorado na Universidade de Buenos Aires), Helal afirma que a admiração dos argentinos pelo futebol brasileiro é mais evidente que o contrário. (SÉRGIO RANGEL)
 

Folha - O que o senhor já diagnosticou sobre a visão da seleção brasileira pelos argentinos?
Ronaldo Helal -
Vejo que, com toda a rivalidade, eles conseguem admirar o nosso futebol. Quando falam da seleção de 70, os jornais dizem: "A equipe maravilha" ou "a melhor seleção de todos os tempos". Existe um paradoxo. Na realidade, o Brasil contrata muito mais argentinos do que o contrário. O Brasil, com três Copas a mais, quando rivaliza com os argentinos é muito mais para extravasar o ódio. Na realidade, admiramos os argentinos, mas não reconhecemos isso.

Folha - Acha que os brasileiros extravasam mais o ódio?
Helal -
Sim. A implicância é maior. Mesmo assim, estou certo de que eles vaiarão o hino do Brasil, cantarão músicas racistas na quarta [amanhã]. Como sociólogo, que tenho que ver com distanciamento, nós provocamos muito mais eles do que o contrário. O Brasil está na moda aqui. Todos conhecem Caetano Veloso. A música da Daniela Mercury toca nas academias. Nos bares, toca música do Brasil. O livro do Chico Buarque está sendo lançado com badalação na imprensa. O Paulo Coelho nem se fala. No Brasil, são poucos os argentinos conhecidos. Só conhecem Carlos Gardel. Isso mostra o carinho deles por nós. Os argentinos conseguem falar de amor e ódio, admiração e repulsa. Os brasileiros só extravasam o ódio. O mais curioso é que somos penta.

Folha - Qual o motivo de a rivalidade maior ser dos brasileiros?
Helal -
Não sei explicar. Só estou diagnosticando. Aqui, quase não há piadas com brasileiros. No Brasil, não vejo matérias elogiando o futebol argentino. Vejo o Galvão Bueno e o Parreira dizendo que vencer a Argentina é a melhor coisa do mundo. As personalidades deles não falam isso.

Folha - Como é assistir a um jogo da seleção pela TV argentina?
Helal -
Assisti ao jogo do Brasil [contra o Paraguai] em Buenos Aires. Foi transmissão imparcial, apesar de, em alguns momentos, haver certa torcida pela expulsão de brasileiros. Três momentos me chamaram a atenção no segundo tempo. No início, o locutor disse: "Eles jogam se divertindo. Muita técnica, uma beleza!". Depois, quando o Brasil fez 3 a 0, disse: "Agora para os amantes do bom futebol, vamos assistir ao luxo do Brasil". No final, ele disse: "Toda a magia e fantasia do jogador brasileiro". Não imagino o Galvão Bueno falando assim dos argentinos.


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