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O PERSONAGEM
Para sociólogo, rivais admiram mais que odeiam
DA SUCURSAL DO RIO
Morando desde o início do
ano em Buenos Aires para pesquisar como os nossos vizinhos
"enxergam" a seleção, o sociólogo Ronaldo Helal, 49, diz que
os brasileiros extravasam mais
o ódio do que os nossos rivais.
Com mestrado e doutorado
em sociologia do esporte (faz
pós-doutorado na Universidade de Buenos Aires), Helal afirma que a admiração dos argentinos pelo futebol brasileiro é
mais evidente que o contrário.
(SÉRGIO RANGEL)
Folha - O que o senhor já diagnosticou sobre a visão da seleção brasileira pelos argentinos?
Ronaldo Helal - Vejo que, com
toda a rivalidade, eles conseguem admirar o nosso futebol.
Quando falam da seleção de 70,
os jornais dizem: "A equipe
maravilha" ou "a melhor seleção de todos os tempos". Existe
um paradoxo. Na realidade, o
Brasil contrata muito mais argentinos do que o contrário. O
Brasil, com três Copas a mais,
quando rivaliza com os argentinos é muito mais para extravasar o ódio. Na realidade, admiramos os argentinos, mas
não reconhecemos isso.
Folha - Acha que os brasileiros
extravasam mais o ódio?
Helal - Sim. A implicância é
maior. Mesmo assim, estou
certo de que eles vaiarão o hino
do Brasil, cantarão músicas racistas na quarta [amanhã]. Como sociólogo, que tenho que
ver com distanciamento, nós
provocamos muito mais eles
do que o contrário. O Brasil está na moda aqui. Todos conhecem Caetano Veloso. A música
da Daniela Mercury toca nas
academias. Nos bares, toca
música do Brasil. O livro do
Chico Buarque está sendo lançado com badalação na imprensa. O Paulo Coelho nem se
fala. No Brasil, são poucos os
argentinos conhecidos. Só conhecem Carlos Gardel. Isso
mostra o carinho deles por nós.
Os argentinos conseguem falar
de amor e ódio, admiração e repulsa. Os brasileiros só extravasam o ódio. O mais curioso é
que somos penta.
Folha - Qual o motivo de a rivalidade maior ser dos brasileiros?
Helal - Não sei explicar. Só estou diagnosticando. Aqui, quase não há piadas com brasileiros. No Brasil, não vejo matérias elogiando o futebol argentino. Vejo o Galvão Bueno e o
Parreira dizendo que vencer a
Argentina é a melhor coisa do
mundo. As personalidades deles não falam isso.
Folha - Como é assistir a um jogo da seleção pela TV argentina?
Helal - Assisti ao jogo do Brasil [contra o Paraguai] em Buenos Aires. Foi transmissão imparcial, apesar de, em alguns
momentos, haver certa torcida
pela expulsão de brasileiros.
Três momentos me chamaram
a atenção no segundo tempo.
No início, o locutor disse: "Eles
jogam se divertindo. Muita técnica, uma beleza!". Depois,
quando o Brasil fez 3 a 0, disse:
"Agora para os amantes do
bom futebol, vamos assistir ao
luxo do Brasil". No final, ele
disse: "Toda a magia e fantasia
do jogador brasileiro". Não
imagino o Galvão Bueno falando assim dos argentinos.
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