São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

Entre o chutão e a firula

Mesmo com os triunfos, o Corinthians dá a sensação de um time inconsistente, que combina grossura e presunção

OS LEITORES que me aturam há algum tempo sabem que sou corintiano. Estou contente, claro, com a campanha 100% do clube no Brasileirão e mais ainda com a chegada à final da Copa do Brasil.
Dito isso, é preciso reconhecer que o atual time corintiano é pouco mais do que sofrível. O entusiasmo da torcida e o visível empenho dos jogadores contrastam com a baixa qualidade do futebol apresentado.
O jogo de quarta-feira no Morumbi, contra o Sport, foi muito feio. Ligação direta defesa-ataque, chutões para todo lado, furadas e encontrões deram o tom na maior parte da disputa. Só a atmosfera de empolgação criada pela Fiel explica, por exemplo, como é que Neto, que foi um meia-armador de fino trato, pôde dizer, durante a transmissão da Bandeirantes, que o Corinthians estava jogando "muito bem".
O futebol corintiano, hoje, é uma curiosa mistura de bumba-meu-boi com firulas ocasionais. Alguns atletas, como Dentinho, Lulinha e André Santos, parecem pensar que valem muito mais do que de fato valem. Basta a torcida se animar para presenciarmos um festival de pedaladas e lances de efeito que geralmente não levam a lugar nenhum. Enquanto o time está vencendo, tudo é festa. Mas não é difícil prever a pressão ressentida dos torcedores se os resultados deixarem de aparecer. Já vimos esse filme muitas vezes. Um atleta cheio de bossa como Edílson, por exemplo, passou de herói a pária em pouco tempo. Foi só o Corinthians entrar numa fase ruim para que a "capetice", outrora exaltada, virasse motivo de irritação.
Um desafio de Mano Menezes, se quiser montar e consolidar um time consistente, será, a meu ver, a diminuição do abismo que há hoje entre o chutão e o salto alto, ou entre a limitação técnica e a presunção. Se isso não acontecer, o entusiasmo corintiano pode virar um veneno auto-inoculado. O possível título da Copa do Brasil poderá levar a um sentimento de onipotência danoso para o projeto de voltar já à Série A.
E, com esse time que aí está, não vai adiantar nada chegar à Libertadores da América, torneio no qual, mesmo quando contava com elencos muito melhores, o Corinthians nunca chegou muito longe. Não quero aguar a festa de ninguém, muito menos a do alvinegro, mas um pouco de princípio de realidade não faz mal a ninguém.

Tricolores da América
O Fluminense de Renato Gaúcho fez história duplamente nesta semana. Além de ter chegado pela primeira vez a uma final de Libertadores, o tricolor eliminou o bicho-papão Boca Juniors, façanha que um clube brasileiro não realizava desde o Santos de Pelé, lá se vão 45 anos.
Agora a final é contra um rival de muito menos tradição e camisa, a LDU, do Equador. Aí é que mora o perigo. A euforia pelo triunfo sobre o Boca pode levar a um relaxamento natural, a um íntimo e inconfessado sentimento de "já ganhamos".
Combater esse afrouxamento e manter concentrada a tropa tricolor são os desafios de Renato Gaúcho. Se conseguir isso, e o Fluminense for a Tóquio, aí sim o treinador se credenciará como candidato ao comando da seleção brasileira, como é seu desejo manifesto.


jgcouto@uol.com.br

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