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JOSÉ GERALDO COUTO
Entre o chutão e a firula
Mesmo com os triunfos, o Corinthians dá a sensação de um time inconsistente, que combina grossura e presunção
OS LEITORES que me aturam há
algum tempo sabem que sou
corintiano. Estou contente,
claro, com a campanha 100% do clube no Brasileirão e mais ainda com a
chegada à final da Copa do Brasil.
Dito isso, é preciso reconhecer
que o atual time corintiano é pouco
mais do que sofrível. O entusiasmo
da torcida e o visível empenho dos
jogadores contrastam com a baixa
qualidade do futebol apresentado.
O jogo de quarta-feira no Morumbi, contra o Sport, foi muito feio. Ligação direta defesa-ataque, chutões
para todo lado, furadas e encontrões
deram o tom na maior parte da disputa. Só a atmosfera de empolgação
criada pela Fiel explica, por exemplo, como é que Neto, que foi um
meia-armador de fino trato, pôde dizer, durante a transmissão da Bandeirantes, que o Corinthians estava
jogando "muito bem".
O futebol corintiano, hoje, é uma
curiosa mistura de bumba-meu-boi
com firulas ocasionais. Alguns atletas, como Dentinho, Lulinha e André Santos, parecem pensar que valem muito mais do que de fato valem. Basta a torcida se animar para
presenciarmos um festival de pedaladas e lances de efeito que geralmente não levam a lugar nenhum.
Enquanto o time está vencendo,
tudo é festa. Mas não é difícil prever
a pressão ressentida dos torcedores
se os resultados deixarem de aparecer. Já vimos esse filme muitas vezes. Um atleta cheio de bossa como
Edílson, por exemplo, passou de herói a pária em pouco tempo. Foi só o
Corinthians entrar numa fase ruim
para que a "capetice", outrora exaltada, virasse motivo de irritação.
Um desafio de Mano Menezes, se
quiser montar e consolidar um time
consistente, será, a meu ver, a diminuição do abismo que há hoje entre
o chutão e o salto alto, ou entre a limitação técnica e a presunção.
Se isso não acontecer, o entusiasmo corintiano pode virar um veneno auto-inoculado. O possível título
da Copa do Brasil poderá levar a um
sentimento de onipotência danoso
para o projeto de voltar já à Série A.
E, com esse time que aí está, não
vai adiantar nada chegar à Libertadores da América, torneio no qual,
mesmo quando contava com elencos muito melhores, o Corinthians
nunca chegou muito longe.
Não quero aguar a festa de ninguém, muito menos a do alvinegro,
mas um pouco de princípio de realidade não faz mal a ninguém.
Tricolores da América
O Fluminense de Renato Gaúcho
fez história duplamente nesta semana.
Além de ter chegado pela primeira vez a uma final de Libertadores,
o tricolor eliminou o bicho-papão
Boca Juniors, façanha que um clube brasileiro não realizava desde o
Santos de Pelé, lá se vão 45 anos.
Agora a final é contra um rival de
muito menos tradição e camisa, a
LDU, do Equador. Aí é que mora o
perigo. A euforia pelo triunfo sobre
o Boca pode levar a um relaxamento natural, a um íntimo e inconfessado sentimento de "já ganhamos".
Combater esse afrouxamento e
manter concentrada a tropa tricolor são os desafios de Renato Gaúcho. Se conseguir isso, e o Fluminense for a Tóquio, aí sim o treinador se credenciará como candidato
ao comando da seleção brasileira,
como é seu desejo manifesto.
jgcouto@uol.com.br
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