São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Soninha

O peso da história

A França está mais para a Itália de 82, e a Azzurra ostenta Buffon e Cannavaro

ANTES DA Copa, a Itália aparecia entre as favoritas mais por conquistas passadas do que pelo presente. É a tal da "camisa": grande é a equipe que tem títulos, mesmo que os atuais jogadores não tenham nada a ver com eles.
O conceito de camisa é como algumas mandingas: funciona se você acreditar. O time que entra em campo confiante por ter história vitoriosa pode realmente se impor com mais facilidade; o adversário que ignorar as condecorações do favorito pode lhe pregar uma peça. Uma pequena dose de desacato, nesse caso, é bem-vinda.
A Alemanha surfou mais no entusiasmo do "fator casa" do que no passado glorioso. Não resistiu à solidez da Itália convicta de sua tradição. Os italianos podem ficar devendo em criatividade, mas nunca em aplicação.
Têm duas pilastras (no bom sentindo): Buffon e Cannavaro, com uma autoridade que ultrapassa muito seus 175 cm. É impressionantemente frio (nas atitudes) e quente (no envolvimento com o jogo), comandante e soldado ao mesmo tempo, discreto e destacado. Periga ser o melhor jogador da Copa.
Quase uma ironia alguém que ajuda a impedir gols...
Itália e França farão a final que ninguém esperava. A França parece a Itália de 82, com o começo insípido, o Brasil despachado, a final... A Itália se parece com ela mesma: um time que todo mundo respeita sem muito entusiasmo. Ela, nem aí, chegou lá.
Embora a Azzurra seja famosa pela defesa, Les Bleus dão um combate inacreditável no meio-campo e ainda têm bons zagueiros. Têm ainda um belo maestro -será ele o destaque?- e um atacante que, mesmo sem deslanchar, sempre pode fazer estrago. Na Itália, Totti, às vezes, é um espectro em campo pálido, sumido.
Mas os colegas carregam o velho piano e até um Grosso pode fazer boa música. No domingo, os rivais devem medir forças com respeito recíproco e destemor, centrados e aguerridos. Cada camisa azul tem sua força e história. O jogo fará parte da bagagem de meninos italianos e franceses, que um dia vestirão a camisa da seleção e dirão: "Naquele jogo, vencemos/ perdemos assim...", como se estivessem lá.


soninha.folha@uol.com.br

Texto Anterior: Juca Kfouri: Futebol de popstars
Próximo Texto: Orgulhoso, Scolari não se cansa de agradecer
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.