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Soninha
O peso da história
A França está mais para a Itália de 82, e a Azzurra ostenta Buffon e Cannavaro
ANTES DA Copa, a Itália aparecia entre as
favoritas mais por
conquistas passadas do
que pelo presente. É a tal
da "camisa": grande é a
equipe que tem títulos,
mesmo que os atuais jogadores não tenham nada a
ver com eles.
O conceito de camisa é
como algumas mandingas: funciona se você acreditar. O time que entra em
campo confiante por ter
história vitoriosa pode
realmente se impor com
mais facilidade; o adversário que ignorar as condecorações do favorito pode
lhe pregar uma peça. Uma
pequena dose de desacato,
nesse caso, é bem-vinda.
A Alemanha surfou
mais no entusiasmo do
"fator casa" do que no passado glorioso. Não resistiu
à solidez da Itália convicta
de sua tradição.
Os italianos podem ficar
devendo em criatividade,
mas nunca em aplicação.
Têm duas pilastras (no
bom sentindo): Buffon e
Cannavaro, com uma autoridade que ultrapassa
muito seus 175 cm. É impressionantemente frio
(nas atitudes) e quente (no
envolvimento com o jogo),
comandante e soldado ao
mesmo tempo, discreto e
destacado. Periga ser o
melhor jogador da Copa.
Quase uma ironia alguém
que ajuda a impedir gols...
Itália e França farão a final que ninguém esperava. A França parece a Itália
de 82, com o começo insípido, o Brasil despachado,
a final... A Itália se parece
com ela mesma: um time
que todo mundo respeita
sem muito entusiasmo.
Ela, nem aí, chegou lá.
Embora a Azzurra seja
famosa pela defesa, Les
Bleus dão um combate
inacreditável no meio-campo e ainda têm bons
zagueiros. Têm ainda um
belo maestro -será ele o
destaque?- e um atacante
que, mesmo sem deslanchar, sempre pode fazer
estrago. Na Itália, Totti, às
vezes, é um espectro em
campo pálido, sumido.
Mas os colegas carregam o
velho piano e até um Grosso pode fazer boa música.
No domingo, os rivais
devem medir forças com
respeito recíproco e destemor, centrados e aguerridos. Cada camisa azul tem
sua força e história. O jogo
fará parte da bagagem de
meninos italianos e franceses, que um dia vestirão
a camisa da seleção e dirão: "Naquele jogo, vencemos/ perdemos assim...",
como se estivessem lá.
soninha.folha@uol.com.br
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