São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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ATENAS 2004

Para Renê Simões, linha dura importada do vôlei é "fórmula perfeita" para preparar time olímpico feminino

Futebol imita Bernardinho e impõe choro

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Em 2000, a seleção feminina de vôlei desceu na Austrália, deu uma passadinha no hotel e foi treinar. Aos gritos, Bernardinho, então comandante do time, exigia esforço das atletas, que se lançavam ao chão para recuperar bolas jogadas no canto da quadra.
Na madrugada da última quarta, a seleção feminina de futebol desembarcou em Atenas. No mesmo dia, já treinou pesado. Repetiu a dose na quinta-feira.
E ontem, debaixo de um calor abafado de 38º C, voltou a trabalhar em campo. Sob os gritos de Renê Simões. A cada erro, o técnico mandava suas comandadas pagarem dez abdominais ou dez flexões de braço no gramado.
Nada é coincidência. "O modelo que estou usando é o do Bernardinho mesmo", disse Simões à Folha. "Aceitei o cargo porque vi que ele havia achado a fórmula perfeita para trabalhar com mulheres. Lembro de ter visto uma matéria na TV com a Virna [ponteira da seleção] chorando após um treino, mas respeitando o trabalho dele. É isso que quero. Muitas já choraram aqui comigo."
Sem experiência prévia com times femininos, Simões afirma que não se impressiona com o choro de suas jogadoras. "Só me preocupo com a justiça. Se vejo que fui injusto, peço desculpas. Mas, por um lado, mulher tem essa vantagem de mostrar os sentimentos. Homem tem aquela conversa besta de não chorar e acaba escondendo o que quer dizer, aquilo que tem no peito."
Durante a temporada de preparação em Teresópolis (RJ), o "Bernardinho cover" convidou o original para uma palestra. Mas, por problemas de agenda das duas equipes -Bernardinho, hoje com a seleção masculina, estava envolvido nas finais da Liga Mundial-, o encontro não saiu.
Apesar da rigidez do novo treinador, que assumiu o time após o ouro no Pan-Americano de Santo Domingo, no ano passado, as jogadoras não reclamam. Mas estranham. Nas últimas duas Olimpíadas, a seleção foi comandada por José Duarte, carismático, mais afeito ao modelo "paizão". Em Sydney, há quatro anos, acabou na quarta colocação.
"O Renê pega no pé mesmo. Mas está certo. Tem que chegar junto porque todo atleta é folgado. Se deixar relaxar, o rendimento cai", disse a meia Marta, após o treino de duas horas no campo do Atromitos Athinon, clube da segunda divisão grega.
"O treino dele é 100% puxado. A pegada é forte. E às vezes a gente sente, porque é mulher", declarou a zagueira Aline.
"É a filosofia do Bernardinho. O Renê sempre fala nele. O lema do Bernardinho e do Renê é primeiro defender para só depois atacar. E muito sacrifício de todas."
A partir de agora, porém, as jogadoras poderão respirar o ar grego um pouco mais aliviadas.
Simões anunciou que vai "tirar o pé totalmente" nos próximos dias. A equipe feminina fará a estréia do Brasil nos Jogos de Atenas, na próxima quarta-feira, diante da seleção da Austrália.


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