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ATENAS 2004
Para Renê Simões, linha dura importada do vôlei é "fórmula perfeita" para preparar time olímpico feminino
Futebol imita Bernardinho e impõe choro
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
Em 2000, a seleção feminina de
vôlei desceu na Austrália, deu
uma passadinha no hotel e foi
treinar. Aos gritos, Bernardinho,
então comandante do time, exigia
esforço das atletas, que se lançavam ao chão para recuperar bolas
jogadas no canto da quadra.
Na madrugada da última quarta, a seleção feminina de futebol
desembarcou em Atenas. No
mesmo dia, já treinou pesado. Repetiu a dose na quinta-feira.
E ontem, debaixo de um calor
abafado de 38º C, voltou a trabalhar em campo. Sob os gritos de
Renê Simões. A cada erro, o técnico mandava suas comandadas
pagarem dez abdominais ou dez
flexões de braço no gramado.
Nada é coincidência. "O modelo
que estou usando é o do Bernardinho mesmo", disse Simões à Folha. "Aceitei o cargo porque vi
que ele havia achado a fórmula
perfeita para trabalhar com mulheres. Lembro de ter visto uma
matéria na TV com a Virna [ponteira da seleção] chorando após
um treino, mas respeitando o trabalho dele. É isso que quero. Muitas já choraram aqui comigo."
Sem experiência prévia com times femininos, Simões afirma
que não se impressiona com o
choro de suas jogadoras. "Só me
preocupo com a justiça. Se vejo
que fui injusto, peço desculpas.
Mas, por um lado, mulher tem essa vantagem de mostrar os sentimentos. Homem tem aquela conversa besta de não chorar e acaba
escondendo o que quer dizer,
aquilo que tem no peito."
Durante a temporada de preparação em Teresópolis (RJ), o "Bernardinho cover" convidou o original para uma palestra. Mas, por
problemas de agenda das duas
equipes -Bernardinho, hoje
com a seleção masculina, estava
envolvido nas finais da Liga Mundial-, o encontro não saiu.
Apesar da rigidez do novo treinador, que assumiu o time após o
ouro no Pan-Americano de Santo
Domingo, no ano passado, as jogadoras não reclamam. Mas estranham. Nas últimas duas Olimpíadas, a seleção foi comandada
por José Duarte, carismático,
mais afeito ao modelo "paizão".
Em Sydney, há quatro anos, acabou na quarta colocação.
"O Renê pega no pé mesmo.
Mas está certo. Tem que chegar
junto porque todo atleta é folgado. Se deixar relaxar, o rendimento cai", disse a meia Marta, após o
treino de duas horas no campo do
Atromitos Athinon, clube da segunda divisão grega.
"O treino dele é 100% puxado. A
pegada é forte. E às vezes a gente
sente, porque é mulher", declarou
a zagueira Aline.
"É a filosofia do Bernardinho. O
Renê sempre fala nele. O lema do
Bernardinho e do Renê é primeiro
defender para só depois atacar. E
muito sacrifício de todas."
A partir de agora, porém, as jogadoras poderão respirar o ar grego um pouco mais aliviadas.
Simões anunciou que vai "tirar
o pé totalmente" nos próximos
dias. A equipe feminina fará a estréia do Brasil nos Jogos de Atenas, na próxima quarta-feira,
diante da seleção da Austrália.
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