São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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FUTEBOL

Reparação e hipocrisia

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Como fiz cursos de psicanálise e de psicologia médica, sou médico e um observador da alma humana, gosto de dar explicações psicológicas. De psicólogo de botequim, médico e louco, todo mundo tem um pouco. Fui um "louco" discreto.
Espero que os psicólogos não me processem por uso indevido da profissão. Brincadeiras à parte, alguns acham que ex-atletas, poetas, escritores e pensadores, sem diploma de jornalista, não poderiam ser colunistas e/ou comentaristas esportivos.
Como não pretendo freqüentar mais uma faculdade, apesar de não ser difícil obter um diploma, estou preparado, se necessário, para começar mais uma profissão. Vou ser um sonhador.
Não sei por que falo disso. Quero só escrever sobre reparação e hipocrisia. Reparar no sentido de corrigir, compensar, de não ser injusto e também de não ter coragem para assumir certas coisas. Hipocrisia no sentido de hipocrisia. A reparação, consciente ou inconsciente, pode ser virtude ou fraqueza humana. Vai depender do momento e da situação.
Algumas pessoas, com culpas imaginárias e extremamente rígidas, sentem-se culpadas e tentam reparar o que desejaram, mesmo que não tenham feito. Sofrem pelos erros que não cometeram. Já outras, espertalhonas, nunca têm sentimento de culpa. Só têm medo de serem flagradas com a mala cheia de dinheiro.
Com freqüência, os desejos e as emoções não combinam com a razão e com a ética. Daí a ambivalência e a contradição humana.
Mas existem muitas pessoas integras e éticas. Seriam as que conseguem reprimir e/ou sublimar os seus desejos incompatíveis com as regras da sociedade?
A reparação costuma estar perto da incoerência e da hipocrisia. Muitos empresários que fazem pressão no Congresso para não serem votadas leis que diminuam seus lucros e que protejam os trabalhadores são, ao mesmo tempo, por hipocrisia, incoerência e/ou sentimento de culpa, generosos com os mais pobres nas suas atividades sociais. Aproveitam para deduzir as suas "doações" da declaração do Imposto de Renda.
A reparação, a incoerência e a hipocrisia estão presentes no futebol e em todas as atividades humanas. Os árbitros, conscientes ou não, estão sempre compensando os seus erros com outros erros piores. Geralmente contra os mais fracos.
Alguns jogadores agridem os colegas e pedem desculpas. Outros beijam o escudo do clube e não cumprem as suas obrigações. Técnicos mandam matar a jogada, querem ganhar de qualquer jeito e depois fazem discursos éticos e de respeito aos adversários.
Comentaristas têm de ser totalmente independentes. Mas às vezes nos sentimos incomodados por duras críticas que fazemos. Temos de assumir as nossas opiniões e saber o momento de reconhecer nossos enganos, deficiências e limitações. Não é fácil. Somos também vaidosos e prepotentes.
Dirigentes que dão grandes prejuízos aos clubes, por incompetência e outros motivos, fazem discursos apaixonados e de dedicação a esses clubes. Os torcedores violentos têm menos sentimento de culpa e necessidade de reparar. No meio da multidão, a pessoa, anônima, não se sente responsável pelos seus atos. A culpa é do grupo. Essa é uma das razões de tanta violência nos estádios.
Vou parar por aqui. Essa coluna deve ser também uma forma de reparar alguma besteira que escrevi.

Grandes times
Todas as equipes brasileiras têm virtudes e deficiências, individuais e coletivas. Umas mais do que outras. Todas podem melhorar e piorar. Há sempre um jeito de ficar pior. Até o Atlético-MG. Mas o time deve melhorar com o entusiasmo da chegada de um novo técnico, independentemente de suas qualidades. Marco Aurélio é obcecado em parar as jogadas. Adora uma "falta técnica".
Já imaginou o Corinthians com Fred, Maurinho e o goleiro Fábio? O Cruzeiro com Tevez, Roger e Gustavo Nery? O Santos com Robinho, Deivid, Léo, Ricardinho e Giovanni? O São Paulo com Luizão e o entusiasmo e a concentração da Libertadores? O Vasco com Alex Dias e Romário e outros nove diferentes dos atuais, e o Palmeiras com Marcos, Marcinho, Pedrinho, Juninho, Vágner Love e o Magrão no lugar do Marcinho Paulada, conhecido por Marcinho Guerreiro? Seriam grandes times.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br

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