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FUTEBOL
Reflexões e achismo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Sou também um sonhador,
mas tenho compromisso com
a informação e com a análise correta. Por isso, me incomoda
quando ouço e leio opiniões equivocadas sobre a seleção de 70. As
versões são geralmente mais interessantes e dão mais audiência do
que os fatos.
Para justificar a escalação de
cinco craques do meio para frente, insistem que a seleção de 70 tinha também um quinteto ofensivo, formado por Gerson, Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé.
Rivellino e, principalmente,
Gerson, eram jogadores de meio-campo e formavam com Clodoaldo uma linha de proteção dos defensores.
Gerson seria hoje um segundo
volante, porém com muito mais
talento. Quando o time recuperava a bola, ele e Rivellino se aproximavam dos três da frente.
O esquema tático de 70, 4-3-3,
era mais parecido com o anterior
do Parreira, que tanto criticávamos, com Emerson, Juninho e Zé
Roberto no meio-campo e Kaká,
Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo
mais à frente.
A diferença é que Gerson e Rivellino eram muito superiores ao Zé
Roberto e ao Juninho.
A seleção atual não tem quatro
atacantes, como dizem. Até o Parreira, para enfatizar a sua ousadia e ficar livre dos repórteres, fala isso.
São quatro no meio-campo e
dois no ataque (4-4-2). Kaká e
Ronaldinho Gaúcho ou Robinho,
um de cada lado, marcam no
meio-campo e chegam à frente.
O time defende com quatro no
meio e ataca com quatro. Depois
do talento individual, essa é a
principal razão do sucesso da
equipe.
O quarteto só funcionou depois
que os dois meias assumiram essas posições, por insistência do
Parreira. Se os dois atuassem apenas no ataque, não daria certo.
A dificuldade de escalar os cinco não é só por causa da marcação. Isso não será sempre problema, pois a maioria dos adversários joga com poucos na frente.
Haveria também um congestionamento na intermediária da outra equipe e uma diminuição dos
espaços para os jogadores brasileiros.
Será muito difícil dar certo com
os cinco, mas não é impossível.
Escrevi após o jogo contra o
Chile que o time poderia atuar
com Emerson mais atrás, uma linha de três no meio, defendendo e
atacando, formada pelo Kaká,
pelo Ronaldinho Gaúcho e pelo
Robinho, e Adriano e Ronaldo no
ataque. Esse time é para entrar
em campo, e não somente para
brincar de comentarista.
É preciso divergir e sonhar com
bons argumentos. Só falta a "grã-fina com narinas de cadáver",
personagem do Nelson Rodrigues
que não conhecia a bola, aparecer
na televisão e dizer que é preciso
escalar cinco atacantes.
Treino fraco
Com os titulares no primeiro
tempo, os craques brasileiros fizeram algumas belíssimas jogadas.
No segundo, com os reservas, ficou sem graça.
O Brasil tem o melhor futebol
do mundo porque tem sempre
uns quatro jogadores espetaculares. O treino serviu para mostrar
que a defesa terá dificuldades
sempre que enfrentar equipes
com bons ataques.
Pela milésima vez, dou a minha
opinião sobre qual dos cinco craques deveria ficar no banco: eu
não sei.
Só não pode ser o Ronaldinho
Gaúcho, o mais genial, o melhor
do mundo e já com grande experiência
Voltar à realidade
Contra o Chile, a constelação
brilhou individualmente e no
conjunto. Uma estrela aumentou
o brilho da outra. O mesmo aconteceu em várias partidas anteriores. Preciso acordar e voltar à realidade do Campeonato Brasileiro.
Quando vi o Nilmar atuar no
início de sua carreira no Inter e
na seleção sub-20, imaginei que
ele seria hoje um craque. Não é. É
um bom jogador.
Nilmar não é um típico centroavante, como a maioria pedia. Ele
é muito veloz, tem uma técnica
razoável e se movimenta por todos os lados, como Tevez, mas
sem o talento do argentino. Os
dois podem formar uma boa dupla. Ou será um trio, com Jô?
É preciso desmistificar o lugar-comum de que todo time tem de
ter um centroavante fixo, artilheiro e um atacante veloz, preparador de jogadas e que atue pelos
lados.
Melhor ainda é ter dois atacantes rápidos e hábeis. E que os dois
dêem bons passes. E que os dois
façam gols.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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