São Paulo, quarta-feira, 07 de setembro de 2005

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FUTEBOL

Reflexões e achismo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Sou também um sonhador, mas tenho compromisso com a informação e com a análise correta. Por isso, me incomoda quando ouço e leio opiniões equivocadas sobre a seleção de 70. As versões são geralmente mais interessantes e dão mais audiência do que os fatos.
Para justificar a escalação de cinco craques do meio para frente, insistem que a seleção de 70 tinha também um quinteto ofensivo, formado por Gerson, Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé.
Rivellino e, principalmente, Gerson, eram jogadores de meio-campo e formavam com Clodoaldo uma linha de proteção dos defensores.
Gerson seria hoje um segundo volante, porém com muito mais talento. Quando o time recuperava a bola, ele e Rivellino se aproximavam dos três da frente.
O esquema tático de 70, 4-3-3, era mais parecido com o anterior do Parreira, que tanto criticávamos, com Emerson, Juninho e Zé Roberto no meio-campo e Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo mais à frente.
A diferença é que Gerson e Rivellino eram muito superiores ao Zé Roberto e ao Juninho.
A seleção atual não tem quatro atacantes, como dizem. Até o Parreira, para enfatizar a sua ousadia e ficar livre dos repórteres, fala isso.
São quatro no meio-campo e dois no ataque (4-4-2). Kaká e Ronaldinho Gaúcho ou Robinho, um de cada lado, marcam no meio-campo e chegam à frente.
O time defende com quatro no meio e ataca com quatro. Depois do talento individual, essa é a principal razão do sucesso da equipe.
O quarteto só funcionou depois que os dois meias assumiram essas posições, por insistência do Parreira. Se os dois atuassem apenas no ataque, não daria certo.
A dificuldade de escalar os cinco não é só por causa da marcação. Isso não será sempre problema, pois a maioria dos adversários joga com poucos na frente.
Haveria também um congestionamento na intermediária da outra equipe e uma diminuição dos espaços para os jogadores brasileiros.
Será muito difícil dar certo com os cinco, mas não é impossível.
Escrevi após o jogo contra o Chile que o time poderia atuar com Emerson mais atrás, uma linha de três no meio, defendendo e atacando, formada pelo Kaká, pelo Ronaldinho Gaúcho e pelo Robinho, e Adriano e Ronaldo no ataque. Esse time é para entrar em campo, e não somente para brincar de comentarista.
É preciso divergir e sonhar com bons argumentos. Só falta a "grã-fina com narinas de cadáver", personagem do Nelson Rodrigues que não conhecia a bola, aparecer na televisão e dizer que é preciso escalar cinco atacantes.

Treino fraco
Com os titulares no primeiro tempo, os craques brasileiros fizeram algumas belíssimas jogadas.
No segundo, com os reservas, ficou sem graça.
O Brasil tem o melhor futebol do mundo porque tem sempre uns quatro jogadores espetaculares. O treino serviu para mostrar que a defesa terá dificuldades sempre que enfrentar equipes com bons ataques.
Pela milésima vez, dou a minha opinião sobre qual dos cinco craques deveria ficar no banco: eu não sei.
Só não pode ser o Ronaldinho Gaúcho, o mais genial, o melhor do mundo e já com grande experiência

Voltar à realidade
Contra o Chile, a constelação brilhou individualmente e no conjunto. Uma estrela aumentou o brilho da outra. O mesmo aconteceu em várias partidas anteriores. Preciso acordar e voltar à realidade do Campeonato Brasileiro.
Quando vi o Nilmar atuar no início de sua carreira no Inter e na seleção sub-20, imaginei que ele seria hoje um craque. Não é. É um bom jogador.
Nilmar não é um típico centroavante, como a maioria pedia. Ele é muito veloz, tem uma técnica razoável e se movimenta por todos os lados, como Tevez, mas sem o talento do argentino. Os dois podem formar uma boa dupla. Ou será um trio, com Jô?
É preciso desmistificar o lugar-comum de que todo time tem de ter um centroavante fixo, artilheiro e um atacante veloz, preparador de jogadas e que atue pelos lados.
Melhor ainda é ter dois atacantes rápidos e hábeis. E que os dois dêem bons passes. E que os dois façam gols.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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