São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Um delírio saudável


Minha seleção teria Fred, Kaká, Ronaldinho, Robinho, Juninho, Elano, Cicinho, Alex, Juan, Marcelo e Rogério Ceni


A Nova Seleção (já tivemos até Nova República, por que não Nova Seleção?) começou com pé direito. O empate com a Noruega não foi grande coisa, mas os 3 a 0 sobre a Argentina deram vários meses de crédito ao ex-capitão. E a vitória sobre o País de Gales, mais alguns dias.
Por enquanto, Dunga tem sido mais um escalador que um treinador. Mas tem escalado bem. E parece que seu relacionamento com os atletas segue caminho interessante. Ele não vai nem pelo caminho do "professor", nem pelo do "ditador".
Por exemplo, sua atitude de chamar o médico José Luiz Runco para explicar aos atletas que a troca de time aconteceria por motivos físicos (pois as contusões acontecem principalmente nos jogos com poucas horas de intervalo) demonstrou que Dunga considera os jogadores como adultos que merecem respeito, não como crianças a serem domadas.
Outra coisa interessante, e esperta, foi testar quase todos seus convocados. Não só porque deve ser frustrante para um jogador ficar no banco da seleção, mas principalmente porque assim o novo técnico pôde conhecer melhor o material que tem à mão.
Quanto ao jogo, as câmeras (e os nossos olhos) perseguiram principalmente Ronaldinho. Depois de decepcionar na Copa (não jogou mal, mas esteve longe de ser ótimo), todos queriam ver se ele se recuperaria. Ainda mais quando Dunga decidiu que colocaria Edmílson, e não Rafael Sobis, em campo. Assim Ronaldinho pôde jogar do mesmo modo que no Barcelona, mais como atacante, e não na meia, como na seleção de Parreira. E Ronaldinho pareceu estar um pouco mais vivo e mais insinuante do que na esteve na Copa. Um pouco.
Por conta da sua presença, o time ficou inclinado para a esquerda no primeiro tempo. Kaká postou-se mais pelo meio, e a direita ficou um tanto vazia. Júlio Baptista poderia ter caído por ali, mas ele e Dudu Cearense estiveram um tanto tímidos no jogo.
No segundo tempo, a seleção jogou ainda mais centrada pelo meio, sem usar os laterais para ir à linha de fundo. Quando os laterais apoiaram mais é que saíram os gols, com o chute de Marcelo e com o cruzamento de Cicinho. Não foram jogadas de linha de fundo, mas os dois laterais pelo menos estavam presentes no ataque.
A zaga reserva foi bem. Nós, que raramente tivemos os tais zagueiros absolutos, temos agora quatro defensores confiáveis, daqueles que não inventam e fazem o atacante pensar duas vezes antes do drible.
Mas pensemos um pouco no futuro desta seleção. Me parece uma maldade não deixar Ronaldinho, Kaká e Robinho no mesmo time (falando em Robinho, ele cresceu tanto nos últimos meses que nem merece mais o "inho"). Deve-se fazer algo como em 70, quando havia cinco camisas 10 em campo (Gérson, Pelé, Tostão, Jairzinho e Rivellino). O talento destes três atletas não pode ser desperdiçado. E, entre os três, o que me parece jogar melhor é Robinho.
Seguindo um pouco o modelo barcelonista, poderíamos colocar Fred na frente e, atrás dele, três jogadores que fossem atacantes e meias ao mesmo tempo. Ronaldinho pela esquerda, Kaká pelo meio e Robinho pela direita. Os volantes poderiam ser Elano e Juninho Pernambucano, os laterais talvez fossem os jovens Cicinho e Marcelo, no miolo de zaga Juan, que sai jogando e às vezes vai ao ataque, e Alex, que tem um chute de demolir paredes. Só para completar o delírio, colocaríamos o Rogério Ceni no gol. E assim teríamos 11 sujeitos em campo capazes de balançar a rede adversária.
Se isso daria certo, eu não sei. É uma proposta irresponsável mesmo. Por isso é tão bom ser comentarista, e não técnico.

torero@uol.com.br


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