São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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XICO SÁ

Crônica para um corintiano


É preciso que o Corinthians ganhe, que o Corinthians suba, para que a cidade fique mais linda, mais civilizada


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, é preciso que o Corinthians ganhe, que o Corinthians suba, porque quando o Corinthians ganha a cidade fica bem melhor, mais civilizada, mais linda, dom Marivaldo sorri lá em Taipas, meu tio Alberto, no Parque São Rafael, ZL, esquece até que não pode mais tomar os velhos pileques, tia Nina fica feliz e libera uma gelada, duas, se muito, ele merece; Mário, o japa aqui da banca da esquina, tira onda, Josmar Jozino lembra do dia em que mordeu o cachorro em Itaquera, pobre cãozinho, isso é que é notícia, o resto é cozidão de véspera de feriado.
Os ônibus andam mais rápido quando vence o Corinthians, porque a cabeça da massa é o verdadeiro biodiesel, os trens fazem faísca nos trilhos, até os corintianos da ""elite branca" ficam menos perversos quando o alvinegro triunfa, suspendem eterna luta de classes por 15 minutos, se muito, de preferência na troca de turnos das fábricas, para não dar prejuízo, claro, porque eles também não são bestas e precisam esfolar até a alma de outros corintianos malucos.
Tudo muda quando o Corinthians sai da lama, baixa até um Charles Dickens ludopédico neste cronista, vejo as luzes da cidade como quem tomou um ácido das antigas.
Mesmo que seja contra os meus próprios augúrios, que anteontem fui ao Pacaembu crente numa vitória do América, acredite, jovem escriba Fialho!
Assim como domingo, no mesmo estádio, não tinha dúvida de que os deuses cortariam a gravata da soberba, impondo uma derrota a Luxemburgo e ao Santos, a maior equipe de todos os tempos e de todas as galáxias. Cortariam a gravata do Luxa como amigos lindamente bêbados trituram, sempre que podem, a gravata do noivo querido em sua festa de casamento.
Os deuses da aldeia, quando em uma peleja histórica, não aceitam tanta contrariedade em um só embate, por isso fizeram de Nilton, um zagueiro movido a pequi e bons laços familiares, o reinventor da bomba atômica. Um gol que parecia de futebol de botão, capaz de fazer do arqueiro uma imóvel caixa de fósforo -no futebol de botão mais tosco, o goleiro, no meu tempo, era feito de caixa de fósforo, devidamente ornamentado com as cores do time da sístole e da diástole.
É preciso que o Corinthians ganhe, saia da lama, para que os nossos cunhados assem as melhores picanhas nos churrascos dos feriadões... É preciso que o Timão saia da linha da sombra, da linha do perigo, mas também não exageremos, aí está de bom tamanho, não tem time para muito mais, não acha?
Na volta do Pacaembu ainda deu tempo para testemunhar o final das peladas na tevê... O Peixe, apesar do gol que o Fábio Costa não tomaria nem com uma mão amputada na Guerra do Iraque, subiu para nunca mais descer. E já que os goleiros são a grande notícia do certame, o que falar do Rogério Ceni, meu amigo sorocabano e tricolor Antonio Carlos? Ora, esse cara merece todas as placas, e olha que eu queria que ele vazasse todas, sempre. Melhor do que pegar o pênalti contra o Galo foi ser arrojado naquele rebote. O número 1 do tricolor inverteu o clássico medo do goleiro diante do pênalti. Com ele, a tremelica passou a ser de quem bate. Palmas!


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