São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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JUCA KFOURI

Dia Dunga



Este pode ser o último domingo de Dunga à frente da seleção, embora ele seja um culpado secundário

PRIMEIRO FOI Paulo Roberto Falcão, substituto de Sebastião Lazaroni logo depois do fiasco na Copa do Mundo de 1990, na Itália. E bote fiasco nisso. A escolha revelou-se equivocada, mas era perfeitamente compreensível, qualquer um a faria. Não só porque Ricardo Teixeira dava seus primeiros passos como presidente da CBF. Mas porque havia naquela Copa mesmo o exemplo bem sucedido de Franz Beckenbauer. E vamos concordar que ninguém era mais parecido com o Kaiser, no Brasil, do que o Rei de Roma. E em todos os sentidos, na elegância inclusive, além de ter sido um craque da mesma estirpe. Claro, se por aqui não deu certo como na Alemanha, era para o cartola ter aprendido para não reincidir no erro 16 anos depois, logo após o fracasso em outra Copa, como a de 2006, a da Alemanha. E com alguém como Dunga, em muitos aspectos o inverso de Falcão e de Beckenbauer. O principal responsável por Dunga, portanto, é o cartola, embora o capitão da seleção do tetra tenha aceitado o papel de bom grado, sem reconhecer suas limitações, algo também perfeitamente compreensível, diga-se, porque muito poucos, como o grande Dino Sani, em 1970, recusariam a tentação. Sim, Dino Sani, sabem os mais antigos, foi a primeira opção de João Havelange para substituir João Saldanha às vésperas da primeira Copa do Mundo no México. Dino fazia enorme sucesso à frente do Corinthians, depois de ter sido um meio campista da família dos grandes, tanto no Palmeiras quanto no São Paulo, Boca Juniors, Milan e Corinthians, clube em que abandonou a carreira de jogador para começar a de treinador. Dino não quis, Zagallo, também em início de carreira no Botafogo, topou na hora e deu no que deu, no tricampeonato mundial. Curioso observar como as vidas se cruzam: Zagallo, que aceitou o que Dino recusou; Dino, que lançou Falcão; Falcão, que substituiu Lazaroni, que foi responsável pela era Dunga; Dunga, que foi capitão do time de Carlos Alberto Parreira, a quem substituiu, depois de um fiasco compartilhado por Zagallo. Feita tamanha digressão, resta acrescentar que a campanha de Dunga, até este seu domingo, rigorosamente seu Dia D, é mais que aceitável, é muito boa. Porque são 27 vitórias em 40 jogos, com seis derrotas, uma surpreendente medalha de ouro na Copa América e outra previsível, de bronze, na Olimpíada de Pequim. Ocorre que tão grave como o incômodo quinto lugar nas eliminatórias, posição que ficará pior com uma derrota hoje à noite em Santiago, é o fato de Dunga não ter conseguido, a não ser em raras ocasiões e sempre contra a Argentina, fazer seu time jogar bem, pecado que comete entre outras razões porque jamais se preocupou com o jogar bem, só com o ganhar. Ganhar jogando mal é um vício que o país já adquiriu desde as vitórias, na maioria dos jogos, nas Copas de 1994 e 2002. Mas perder sem jogar bem pode ser insuportável, coisa que, tomara, Dunga não aprenda hoje com mais uma derrota fora de casa. Que é o mais provável...
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