São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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"Criança", Fofão se despede da seleção

Mais vitoriosa jogadora do país dá adeus após subir ao pódio olímpico com garotas que a ensinaram a ser menos séria

Levantadora diz que jeito reservado é trunfo para ganhar a confiança das companheiras, mas que aprendeu também a brincar

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o técnico José Roberto Guimarães a chamou de volta para a seleção, Fofão teve medo. A lista de convocadas abrigava atletas que nem haviam nascido quando ela já jogava vôlei. Uma nova geração.
A levantadora, no entanto, aceitou o desafio. Teria quase quatro anos para ajudar a transformar aquela juventude em um equipe vitoriosa.
No alto do pódio em Pequim, com a inédita medalha dourada no peito, Fofão cumpriu a missão. Mas, após um ciclo olímpico ao lado das companheiras, viu que não era apenas o time que estava diferente, ela também havia se transformado.
"Elas tinham outra cabeça, outro jeito de ser, eram brincalhonas, achei que não iria me adaptar. Acabei me vendo no meio da bagunça delas. Abri um pouco do meu lado sério no dia-a-dia. Com elas, voltei a ser criança", afirma a levantadora.
Hoje, aos 38 anos, no Final Four, em Fortaleza, Fofão dá adeus à camisa que vestiu por quase duas décadas -o Brasil, que ontem venceu a Argentina (3 a 0), pega a República Dominicana na decisão.
A levantadora que se despede é diferente da que estreou 18 anos atrás. Mais aberta, menos séria, e vitoriosa como nunca.
Além de ter conquistado o inédito ouro em Pequim, a levantadora é a brasileira com maior sucesso em Olimpíadas (tem mais dois bronzes). Detém também o recorde de participações nos Jogos-cinco.
"Ela foi fundamental, foi a alma do time. Cada jogadora tinha suas razões para buscar o ouro, e todas queriam também ganhar por ela. Ela é especial, do bem, e batalhou durante muito tempo por um lugar ao sol", diz a psicóloga da seleção, Sâmia Hallage, que acompanhou a equipe na China.
Zé Roberto sabe o quanto a liderança e o talento da veterana jogadora farão falta e já tenta sabotar sua aposentadoria.
"Por mim, ela não pára. Vou tentar convencê-la ainda", diz.
Fofão (apelido dado por um técnico que achava suas bochechas parecidas com as do personagem) chegou à seleção em 1991 e foi reserva até 1999. A titular era Fernanda Venturini.
Na equipe de Zé Roberto, além de comandar as jogadas, Fofão também virou capitã.
"Nos primeiros treinos eu tive um frio na barriga, ia treinar com meus ídolos. Mas ela faz questão de mostrar que não é mais do que ninguém, ajuda todo mundo, independentemente de quem for", afirma a central Thaisa, 21 anos, nascida quando Fofão já estava na quadra, mas ainda era atacante.
A admiração das novatas surpreendeu Fofão. Algumas escreveram cartas durante a Olimpíada para contar o que pensavam sobre ela.
"Quando a gente ganhava elas diziam que eu merecia. Nas derrotas, falavam queriam ter me dado a medalha, me retribuir por eu ter me entregado tanto a esse grupo."


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