São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Inglês "pilota" Massa na Ferrari

Engenheiro do brasileiro desde meados de 2006, Rob Smedley diz que pupilo só faz o que ele manda

Relação que começou com pódio já na primeira corrida assiste a transformação de ferrarista, que deixa de ser um "menino" na escuderia

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A SPA-FRANCORCHAMPS

Há quem diga que a evolução de Felipe Massa nos últimos anos tem nome: Rob Smedley, 34. Engenheiro do piloto da Ferrari desde meados de 2006, o inglês de Middlesbrough sorri. "As pessoas sempre perguntam sobre nossa relação. O segredo é que cada um faz seu trabalho", disse à Folha, em uma sala emprestada no motorhome da equipe na Bélgica. "Às vezes ele tem uma idéia, eu tenho outra. Mas na maioria das vezes eu estou certo, e ele acaba fazendo o que digo", completou, antes de soltar uma gargalhada. "E, se ele não me obedece, pego a prancheta e bato na cabeça dele." Apesar das brincadeiras, Smedley sabe da importância de seu trabalho. Coincidência ou não, o primeiro pódio de Massa na F-1 veio justamente em Nurburgring, na corrida em que o inglês assumiu o posto que era ocupado por Gabriele delli Colli, ex-engenheiro de Rubens Barrichello. Até então ele trabalhava só nos testes. Em pouco mais de dois anos, Smedley e Massa parecem ter formado uma dupla perfeita, que agora tenta dar ao Brasil seu primeiro título da F-1 desde 1991, quando Ayrton Senna conquistou o tricampeonato. "Nós nos complementamos."

 

FOLHA - Desde que vocês começaram a trabalhar juntos, o que mudou no Felipe?
ROB SMEDLEY - Ele mudou imensamente. Cresceu muito como pessoa, deixou de ser um menino para ser um homem. Casou, seu comportamento e seu jeito de viver agora são muito mais compatíveis com o de um homem jovem do que com os de um cara de seus 20 anos. Como piloto, também mudou. Quando começou a trabalhar na Ferrari, seu conhecimento de como operar em um nível tão alto não era bom porque ele nunca havia feito isso. Ele não era burro, só não tinha experiência. Hoje ele é como uma esponja. Qualquer informação que damos ele absorve, entende e tenta usar. Não só com o carro, mas como funcionamos no final de semana e em testes.

FOLHA - Houve algum momento que marca a mudança de Massa ou foi um processo que ocorreu gradualmente?
SMEDLEY - Tem sido uma evolução gradual, como piloto e como pessoa, mas não houve um único momento. Claro que houve coisas marcantes, como a primeira pole, a primeira vitória, a primeira vez que se sentiu de fato na luta pelo título...

FOLHA - Acredita que ele está pronto para ser campeão?
SMEDLEY - Certamente. Sentado aqui nesta mesa agora eu não tenho nenhuma dúvida. O jeito que ele tem guiado, a maneira com que tem se comportado dentro e fora do carro... Claro que estou falando do ponto de vista técnico, mas acho que ele está absolutamente pronto para ser campeão. Sua performance está sensacional, muito consistente, corrida a corrida, volta a volta. Ele está pronto para vencer.

FOLHA - Quais as qualidades e defeitos do Massa piloto?
SMEDLEY - Ele é muito bom com a família atual de pneus, sabe como funcionam e como explorar isso. Sempre tentamos achar novos meios de melhorar o aproveitamento dos pneus e ele tem ajudado muito, o que lhe dá uma boa vantagem. Nos últimos anos trabalhamos muito para erradicar seus erros. Se olharmos como um projeto de três anos com o Felipe, no começo a idéia era tentar acabar com os déficits que ele tinha, e ele mesmo admite que tinha. Por isso trabalhamos muito. Posso até parecer convencido, mas acho que fizemos um bom trabalho [risos].

FOLHA - E como pessoa?
SMEDLEY - Ele é um cara legal, tranqüilo... É brasileiro [risos], relaxado e sabe que teve sorte na vida. E teve mesmo. Ele é um piloto top, foi abençoado com talento e tem usado isso. Temos que respeitar alguém como ele.

FOLHA - Quão importante é o trabalho psicológico com ele?
SMEDLEY - Hoje tenho que dar muito menos suporte psicológico do que em 2006, por exemplo. Naquela época havia muitas interrogações a respeito dele, como piloto, sua longevidade numa equipe de ponta. Agora há muito mais tranqüilidade. Por isso o Felipe também está muito mais confortável com ele mesmo e precisa menos apoio psicológico meu.

FOLHA - Então tem se concentrado mais na parte técnica...
SMEDLEY - Ainda tenho que me focar um pouco no psicológico às vezes também, mas muito mais na engenharia [risos].



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