São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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Prancheta do PVC

PAULO VINICIUS COELHO - pvc@uol.com.br

Seleção não é momento

SE VOCÊ é daqueles que ouvem o chavão de que "seleção é momento" e balança a cabeça positivamente, esqueça. Não é. Há décadas não se faz mais seleções como se fazia no Brasil nos anos 50, 60, 70... Quando se reunia um grupo para uma sequência de jogos, realizava-se uma excursão depois de treinar dez dias e a preparação para a Copa durava 40 dias. Não é mais assim. Quer dizer que você monta um time ao longo de convocações para dois jogos, com quatro, cinco dias de treino, ou está frito.
É por isso que se fecha o grupo mais cedo, abre-se para poucas vagas, monta-se o time no decorrer de três anos. Pense na primeira equipe de Dunga, em 2006. Gente como Daniel Carvalho, Vagner Love, Fred, nenhum sobreviveu.
Em três anos de trabalho, é mérito quando se descobre jogadores, como Felipe Melo e Elano, ou quando se desiste de algum deles. O problema não é convocar Afonso Alves. É mantê-lo quando todos os indícios mandam desistir.
Dunga desistiu. Como de Vagner Love e até mesmo de Ronaldinho Gaúcho, enquanto o futebol do ex-melhor do mundo não recomenda pensar de novo em seu futebol. E desistiu de desistir de Kaká.
Montar um time para a Copa exige repetir o sistema tático a maior parte das vezes possível, como Dunga faz desde 2006. Seu padrão funciona pela continuidade, com dois volantes, um armador pela direita -Elano ou Ramires-, Kaká pelo centro, Robinho à esquerda e um centroavante. Se, no clube, cada jogador sabe sua parte porque a repete a cada dia, na seleção é preciso relembrar sua função a cada convocação. É por isso que seleção não é momento. É continuidade.
Em 1980, Giulite Coutinho assumiu a presidência da CBF falando em "seleção permanente". Foi a primeira vez em que a seleção se reuniu uma vez por mês para amistosos.
No decorrer de dois anos, jogos bons e ruins, como a derrota para a URSS no Maracanã. Ao final do trabalho, a lembrança de um time que perdeu, mas encantou, em 1982. Foi o mesmo com Parreira, em 1994. É o mesmo com Dunga para 2010. Time se monta com apostas e desistências. É mérito de Dunga apostar em Felipe Melo e desistir de Afonso Alves. É seu mérito o time que hoje existe.



ADOLESCENTE
Como nos conta Juca Kfouri, Dunga segue irritadiço como um adolescente na relação com a imprensa. Responde a perguntas como se fossem disparos de metralhadoras em sua cabeça. E se recusa a responder pessoalmente a quem ele próprio fez críticas -mentirosas!- publicamente.

ADULTO
Na montagem da equipe, é impossível discordar de Dunga hoje. Os diários argentinos diziam que há jogos que afirmam se um treinador amadureceu. Projetavam que vencer o Brasil seria prova de amadurecimento de Maradona. Foi a da maturidade de Dunga. Pelo menos, para montar a equipe.

DOIS MEIAS
O meia palmeirense Cleiton Xavier deu anteontem seu 11º passe para gol no Brasileiro. É o líder de assistências do campeonato e funciona em uma equipe que atua com dois meias e dois atacantes. É ótimo jogar assim, como faziam quase todos os times brasileiros durante boa parte dos anos 90. Mas nem sempre esse jeito de jogar funciona. Por exemplo: anteontem, o Palmeiras se complicou em parte do confronto contra o Barueri. Mas Cleiton Xavier apareceu de novo.


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