São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

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LOS GRINGOS - JOHN CARLIN

Tragédia brasileira


Se no Real Madrid Robinho parecia perdido, no City mal foi sombra do que deveria ser


NO TERCEIRO TRIMESTRE de 2005, Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, recebeu do Brasil vídeo com jogadas magníficas de Robinho. Pérez e seus assessores babaram. Com 21 anos, o atleta do Santos parecia fazer jus aos superlativos que recebia no Brasil: lá estava, enfim, o herdeiro de Pelé.
Robinho foi espetacular em seu primeiro jogo pelo Real. Todo torcedor sonha com um redentor, um jogador de atributos divinos que venha a se impor no mais humano dos jogos. Robinho, os torcedores se convenceram, era a resposta às suas preces.
Mas depois, nas partidas seguintes, o brasileiro sumiu. O futebol europeu parecia rápido demais, forte demais para ele. Robinho parecia pequeno e perdido, como um garotinho talentoso jogando entre homens maduros e impiedosos. Lembro-me de brasileiros em Madri dizendo: "Tenha paciência.
Não se preocupe. Ele só precisa de tempo".
E o time lhe deu tempo. Queriam muito acreditar.
Três anos se passaram, e os momentos de bom desempenho eram só esporádicos. Ele raramente controlava os jogos e os vencia sem ajuda, exatamente o que se esperava de um jogador de sua categoria e exatamente o jeito pelo qual, para desespero de Pérez e do Real, um certo Leo Messi vinha jogando no Barcelona.
Robinho, como o definiu David Beckham certa vez, era um grande malabarista da bola, mas, se o melhor do mundo jogava na Espanha, certamente a definição não se aplicava a ele.
Sua sorte piorou quando decidiu que o Real não era o clube para provar o seu gênio e que tentaria a sorte na Inglaterra. Ninguém sabe o que teria acontecido se tivesse sido contratado pelo Chelsea, então sob Luiz Felipe Scolari (que o desejava); mas, tentado por um vasto salário, ele optou pelo Manchester City. Se no Real ele parecia perdido, no City mal foi sombra do que supostamente deveria ser.
Conhecemos o resto. Emprestado ao Santos, onde o ritmo mais lento brasileiro permitiu que voltasse a brilhar, e agora contratado pelo Milan, um túmulo para atletas velhos ou que passaram do pico.
Qual é a lição a ser extraída dessa triste história?
A de que para ser um grande jogador, no mais alto nível, é preciso caráter, inteligência e capacidade de trabalho, tanto quanto talento natural ou divino. Messi tem tudo isso; Robinho, não.
Que decepção. Que tristeza.


JOHN CARLIN é colunista do diário espanhol "El País" e autor de "Conquistando o Inimigo", livro que inspirou o filme "Invictus"

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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