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SURFE
Polêmica sobre pioneirismo do esporte no país tem novo personagem, que "andou" uma onda em Santos nos anos 30
Thomas, 84, o primeiro surfista do Brasil
CARLOS SARLI
DA "TRIP"
Reconhecidos como os pioneiros do surfe no país até o final da
década de 80, os cariocas ainda relutam em aceitar a versão publicada em "A História do Surf no Brasil", de Alex Gutenberg, segundo
a qual os autênticos pioneiros foram os paulistas de Santos Osmar
Gonçalves e Jua Haffers.
Cerca de 20 anos separam as
duas fases do surfe nacional. Enquanto Osmar e Jua deram suas
primeiras deslizadas no canal 3,
em 1938, Paulo Preguiça, Irencyr
Beltrão e Jorge Paulo Lehman experimentaram as emoções das
"tábuas havaianas" no Arpoador,
em meados dos anos 50.
Os cariocas argumentam que as
pranchas utilizadas pelos santistas eram de remada, mas imagens
dos santistas em pé sobre a prancha não dão margem a dúvidas.
Se essa discussão andava esquecida, outra surge para levantar a
memória do surfe brasileiro. A
partir de uma informação de Diniz Iozzi, pesquisador do assunto,
a revista "Trip" chegou ao senhor
Thomas Rittscher, 84, o santista
que afirma não ter visto ninguém
surfando no Brasil antes dele.
A seu favor, a idade -é cerca de
oito anos mais velho que os conterrâneos-, a prancha modelo
Tom Blake anterior, as anotações
nas imagens e o fato de Jua, uma
das poucas testemunhas vivas,
quando indagado sobre o assunto, não ter negado. Afirmou, isto
sim, que ele e Osmar é que levaram adiante o esporte. Rittscher
confirma. Além disso, é claro, o
testemunho de um octogenário
acima de qualquer suspeita. Confira a seguir e tire suas conclusões.
Pergunta - O senhor é o primeiro
a surfar uma onda no Brasil?
Thomas Rittscher - Sou. Na praia
juntava gente para assistir. "Olha
o homem andando em cima da
onda", o povo dizia. Eu não vi
ninguém surfando [no Brasil" antes de mim. Pode ser que tenha tido alguém, mas duvido.
Pergunta - Em que ano foi isso?
Rittscher - Não me lembro bem,
estou com 84 anos... Mas foi entre
1934 e 1936.
Pergunta - Durante quanto tempo o senhor surfou?
Rittscher - Não muito. Eu não
era muito persistente numa porção de coisas. Comecei com a tábua havaiana, que tirei daquela
revista ["A História do Surf no
Brasil" conta que foi o pai de Osmar quem teria trazido dos EUA
um exemplar da "Popular Mechanics", revista sobre mecânica
de onde ele e Jua tiraram o modelo da prancha". Depois, fiz um
barquinho pequeno: peguei duas
tábuas, juntei, tampei para não
entrar água e me dediquei à vela.
Pergunta - Essa revista é aquela
que Osmar e Jua usaram para fazer
as pranchas deles?
Rittscher - Sim. A revista era minha. Emprestei-a para o Jua Haffers, e foi daí que ele e o Osmar
construíram a segunda prancha.
Pergunta - O senhor lembra de
ter visto Osmar e Jua surfando?
Rittscher - Não. Acontece que
estourou a Segunda Guerra, e fui
trabalhar numa firma no Rio. Lá,
me dediquei mais à vela, não cheguei a ver ninguém surfando.
Pergunta - E como era levar aquela prancha enorme para a praia?
Rittscher - Vinha com ela nas
costas, bufando. Aquela porcaria
pesava pra burro. É que o pessoal
já morreu, senão qualquer um
poderia te dizer se eu passava com
ela nas costas ou não. O pessoal se
reunia em frente à rua Jorge Tibiriçá, e nós ficávamos brincando
com peteca, essas coisas. Se tinha
onda, eu andava [surfava" um
pouco, se não, ficava deitado em
cima, como fazem no seriado de
TV "Baywatch".
Pergunta - O senhor teve algum
interesse em acompanhar a evolução do surfe?
Rittscher - Naquela época, eu
surfava e gostava muito. Depois,
apareceu o negócio de barco a vela, as regatas daqui [de Santos" ao
Rio de Janeiro e outras mais longas. Sou um dos fundadores do
Iate Clube de Santos e me interessei mais pela vela.
Pergunta - O senhor sabe que Osmar foi reconhecido como o pioneiro do surfe no Brasil?
Rittscher - Sim.
Pergunta - Isso não chateou o senhor de alguma forma?
Rittscher - Não, não. Talvez eu
seja o culpado, não estava ligando
muito para isso, não acompanhei
o surfe. Não sou, como o pessoal
fala, um rato de praia.
Pergunta - À época, o senhor procurava ondas em outros lugares?
Rittscher - Eu gostava de ondas
maiores, de um metro e meio, um
pouco mais. Entre a ilha Porchat e
a praia das Vacas tinha ondas
muito boas...
Pergunta - Como o senhor fazia
para explorar praias distantes?
Rittscher - Minha irmã tinha um
conversível. Era só pôr no carro.
Pergunta - Osmar e Jua eram seus
amigos?
Rittscher - O Jua era meu amigo.
Não tinha ligação com o Osmar.
Pergunta - Faltou ética a eles ao
não mencionarem o senhor quando tiveram oportunidade?
Rittscher - Tenha paciência...
Você faria isso?
Pergunta - Mas o senhor foi definitivamente o primeiro surfista do
Brasil?
Rittscher - Fui, sim senhor.
A íntegra desta entrevista será publicada
na próxima edição da revista "Trip"
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