São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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ENTREVISTA

FELIPE


Quero ser como Rogério

Maior ídolo do Corinthians na atualidade, goleiro diz que colega são-paulino é o melhor do Brasil e que merece chance na seleção

Para se tornar jogador, ele conta ter sofrido resistência do pai, que o surrava com fio de geladeira quando se dava conta de que o filho ia a treinos

EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na primeira vez em que atuou no gol, Luís Felipe Ventura fez feio. Tinha nove anos, era uma brincadeira em Salvador. Viu a bola entrar em suas redes 20 vezes. Mas fez uma defesa, sem querer, e decidiu ser goleiro, contra a vontade do pai, militar que gostaria de ver o único filho homem seguir seu caminho. Não adiantou.
Contra a vontade do "velho", que lhe castigava até com fio de geladeira quando descobria que ele estava treinando, o menino prosperou. Hoje, aos 23 anos, Felipe é o ídolo único do combalido time do Corinthians. Em entrevista à Folha, disse que estará hoje diante do melhor goleiro do Brasil: o são-paulino Rogério. "Quem sabe posso ser como ele."

 

FOLHA - Você esperava, em tão pouco tempo de clube, transformar-se em ídolo do time?
FELIPE
- Não com essa dimensão. Quando a equipe não passa por bom momento, acho que o goleiro sempre se destaca mais.

FOLHA - Em algumas derrotas, você chegou a apontar falta de vontade de alguns companheiros, e o que falava para a imprensa dizia no vestiário também. Isso trouxe a você problemas com o elenco?
FELIPE
- É normal você sair de cabeça quente após uma derrota. Você fala coisas e é entendido de outra forma. Uns atletas sabem ouvir mais do que outros, e alguns não gostaram, mas isso já passou.

FOLHA - O Betão disse que teve uma conversa com você. Como foi?
FELIPE
- Ele me disse para ter cuidado e não trazer outro problema para o grupo. Disse que eu poderia estar fazendo bonito para a imprensa, mas que ficaria mal com o grupo. Eu sei que me excedi em algumas coisas.

FOLHA - A situação política contribuiu para a derrocada do time?
FELIPE
- Os problemas não fazem nem tomam gols, mas é chato ouvir falarem mal do seu time todos os dias por problemas fora do campo.

FOLHA - O time do Corinthians é limitado?
FELIPE
- Todo time no campeonato tem suas limitações. Até o São Paulo, que é o virtual campeão. Mas, quando a equipe sabe lidar com as falhas, ganha jogos que ninguém espera.

FOLHA - Como você decidiu que queria ser goleiro?
FELIPE
- Desde criança, com oito, nove anos. Por ser o mais alto da turma, um dia fui jogar futsal, o goleiro faltou, e me colocaram. Sofri 20 gols nesse dia.

FOLHA - Depois de levar 20 gols, quis ser goleiro ainda?
FELIPE
- É porque estava cheio de gente. Era gol de todo jeito. E teve uma hora que um cara chutou, eu virei de costas e tirei a bola. Todo mundo gritou. Foi uma motivação a mais aquilo, e acabei levando a sério quando entrei no Vitória.

FOLHA - É verdade que o seu pai era contra, que você até apanhava dele?
FELIPE
- Eu tive mais apoio da minha mãe, era incondicional. Meu pai é militar e queria que eu fosse também. Até os 17, 18 anos, foi difícil convencer o velho de que eu queria ser goleiro. Tive que morar fora de casa dois anos por causa disso. A pancada em casa era dura. Quando chegava e ele descobria que tinha ido treinar, o couro comia. Apanhava de pau, vassoura, rodo, fio de geladeira. Mas hoje ele me apóia e reclama muito quando tomo gol.

FOLHA - Se o Corinthians for rebaixado, você vai querer continuar?
FELIPE
- Tenho contrato até 2011. Pretendo permanecer como Rogério, Marcos. Demorei para chegar a uma equipe grande e não me vejo fora.

FOLHA - É uma situação difícil, não? O time está mal, e você, por outro lado, está agarrando sua chance.
FELIPE
- Eu preferia estar vivendo em outras fases, mas não cabe à torcida criticar todo mundo. Tem que apoiar a todos.

FOLHA - O Finazzi disse que o Corinthians começa o clássico com vantagem porque tem o melhor goleiro. Concorda com isso?
FELIPE
- É bom ouvir isso. Mas do outro lado está o melhor goleiro do Brasil, que é o Rogério. Não é fácil tomar só nove [na verdade, dez] gols em 29 jogos.

FOLHA - Você pensa em cobrar faltas e pênaltis como Rogério?
FELIPE
- Primeiro, tenho que me preocupar em tirar bolas. O Rogério tem o dom e não foi da noite para o dia que começou.

FOLHA - Qual é sua meta?
FELIPE
- Todo mundo pensa em chegar à seleção e conquistar títulos. Quero fazer história aqui como Rogério fez no São Paulo.

FOLHA - Acha que merece chance na seleção brasileira?
FELIPE
- Acho que o Rogério merece mais agora. Ele é o melhor. Eu tenho 23 anos e, quem sabe, possa ser como ele, chegar ao nível dele.


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