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ENTREVISTA
FELIPE
Quero ser como Rogério
Maior ídolo do Corinthians na atualidade, goleiro diz que colega são-paulino é o melhor do Brasil
e que merece chance na seleção
Para se tornar jogador, ele conta ter sofrido resistência
do pai, que o surrava com fio
de geladeira quando se dava
conta de que o filho ia a treinos
EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na primeira vez em que
atuou no gol, Luís Felipe Ventura fez feio. Tinha nove anos,
era uma brincadeira em Salvador. Viu a bola entrar em suas
redes 20 vezes. Mas fez uma defesa, sem querer, e decidiu ser
goleiro, contra a vontade do
pai, militar que gostaria de ver
o único filho homem seguir seu
caminho. Não adiantou.
Contra a vontade do "velho",
que lhe castigava até com fio de
geladeira quando descobria
que ele estava treinando, o menino prosperou. Hoje, aos 23
anos, Felipe é o ídolo único do
combalido time do Corinthians. Em entrevista à Folha,
disse que estará hoje diante do
melhor goleiro do Brasil: o são-paulino Rogério. "Quem sabe
posso ser como ele."
FOLHA - Você esperava, em tão
pouco tempo de clube, transformar-se em ídolo do time?
FELIPE - Não com essa dimensão. Quando a equipe não passa
por bom momento, acho que o
goleiro sempre se destaca mais.
FOLHA - Em algumas derrotas, você chegou a apontar falta de vontade de alguns companheiros, e o que
falava para a imprensa dizia no vestiário também. Isso trouxe a você
problemas com o elenco?
FELIPE - É normal você sair de
cabeça quente após uma derrota. Você fala coisas e é entendido de outra forma. Uns atletas
sabem ouvir mais do que outros, e alguns não gostaram,
mas isso já passou.
FOLHA - O Betão disse que teve
uma conversa com você. Como foi?
FELIPE - Ele me disse para ter
cuidado e não trazer outro problema para o grupo. Disse que
eu poderia estar fazendo bonito
para a imprensa, mas que ficaria mal com o grupo. Eu sei que
me excedi em algumas coisas.
FOLHA - A situação política contribuiu para a derrocada do time?
FELIPE - Os problemas não fazem nem tomam gols, mas é
chato ouvir falarem mal do seu
time todos os dias por problemas fora do campo.
FOLHA - O time do Corinthians é limitado?
FELIPE - Todo time no campeonato tem suas limitações. Até o
São Paulo, que é o virtual campeão. Mas, quando a equipe sabe lidar com as falhas, ganha jogos que ninguém espera.
FOLHA - Como você decidiu que
queria ser goleiro?
FELIPE - Desde criança, com oito, nove anos. Por ser o mais alto da turma, um dia fui jogar
futsal, o goleiro faltou, e me colocaram. Sofri 20 gols nesse dia.
FOLHA - Depois de levar 20 gols,
quis ser goleiro ainda?
FELIPE - É porque estava cheio
de gente. Era gol de todo jeito. E
teve uma hora que um cara
chutou, eu virei de costas e tirei
a bola. Todo mundo gritou. Foi
uma motivação a mais aquilo, e
acabei levando a sério quando
entrei no Vitória.
FOLHA - É verdade que o seu
pai era contra, que você até apanhava dele?
FELIPE - Eu tive mais apoio da
minha mãe, era incondicional.
Meu pai é militar e queria que
eu fosse também. Até os 17, 18
anos, foi difícil convencer o velho de que eu queria ser goleiro.
Tive que morar fora de casa
dois anos por causa disso. A
pancada em casa era dura.
Quando chegava e ele descobria que tinha ido treinar, o
couro comia. Apanhava de pau,
vassoura, rodo, fio de geladeira.
Mas hoje ele me apóia e reclama muito quando tomo gol.
FOLHA - Se o Corinthians for rebaixado, você vai querer continuar?
FELIPE - Tenho contrato até
2011. Pretendo permanecer como Rogério, Marcos. Demorei
para chegar a uma equipe grande e não me vejo fora.
FOLHA - É uma situação difícil,
não? O time está mal, e você, por outro lado, está agarrando sua chance.
FELIPE - Eu preferia estar vivendo em outras fases, mas não cabe à torcida criticar todo mundo. Tem que apoiar a todos.
FOLHA - O Finazzi disse que o Corinthians começa o clássico com
vantagem porque tem o melhor goleiro. Concorda com isso?
FELIPE - É bom ouvir isso. Mas
do outro lado está o melhor goleiro do Brasil, que é o Rogério.
Não é fácil tomar só nove [na
verdade, dez] gols em 29 jogos.
FOLHA - Você pensa em cobrar faltas e pênaltis como Rogério?
FELIPE - Primeiro, tenho que
me preocupar em tirar bolas. O
Rogério tem o dom e não foi da
noite para o dia que começou.
FOLHA - Qual é sua meta?
FELIPE - Todo mundo pensa em
chegar à seleção e conquistar títulos. Quero fazer história aqui
como Rogério fez no São Paulo.
FOLHA - Acha que merece chance
na seleção brasileira?
FELIPE - Acho que o Rogério
merece mais agora. Ele é o melhor. Eu tenho 23 anos e, quem
sabe, possa ser como ele, chegar
ao nível dele.
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