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FUTEBOL
Vidas amargas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
O Campeonato Brasileiro
entra num momento decisivo. Depois de uma fase morna,
com estádios vazios e jogos que
não despertavam muito interesse,
chegam agora os duelos de vida
ou morte.
É verdade que os cariocas não
vêm fazendo boa campanha e o
Corinthians foi só decepção. Por
outro lado, o Galo vem firme, o
clube paraense mostra-se brioso,
e o esquadrão azul do ABC, se
não foi brilhante, mostrou-se ao
menos bem regular. Porém surpresa mesmo é o time do Centro-Oeste, que vem encantando o país
com suas atuações.
O que você está dizendo, leitor?
O que você quer saber, leitora?
Por que não mencionei o Cruzeiro? Por que não falei do Coritiba?
Por que não escrevi uma única linha sobre Santos e São Paulo?
Perdão, amigos, acho que não
estamos falando a mesma língua.
Vocês estão pensando no campeonato da Série A. Já eu me refiro à gloriosa Série C.
Entre os cariocas que decepcionaram cito Bangu, Americano e
Olaria. Corinthians, claro, é o Corinthians de Alagoas. Por Galo
entenda-se o Ituano, por clube
paraense, o Tuna Luso, e por esquadrão azul do ABC, o Santo
André. Quanto ao time que vem
dando as cartas no Brasil-Central, obviamente é o Palmas, de
Tocantins.
Dizem que a solução para o
nosso futebol é a valorização das
divisões inferiores, mas a verdade
é que quase ninguém liga para os
pobres do mais rico dos esportes.
Antes de mais nada, é difícil encontrar informações sobre o campeonato:
Nos jornais, normalmente só
encontramos os resultados em letrinhas invisíveis.
Nos programas esportivos, podemos ficar horas ouvindo sobre
a unha encravada de um craque e
não ouvirmos uma palavra sobre
a Série C.
Na internet, ela não aparece na
grande maioria dos sítios sobre
futebol.
Como se vê, ou como não se vê,
para muitos é como se a terceira
divisão não existisse. Mas existe.
Existe e retrata nosso futebol de
uma maneira mais fiel do que o
campeonato da Série A ou mesmo
da agora prestigiada Série B.
Nós nos habituamos a pensar
na vida do jogador comparando-a com a carreira bem-sucedida de
astros como Romário, Kaká, Roberto Carlos e os Ronaldos, mas,
para a maioria dos atletas, a vida
é mais espartana, e é essa maioria
que está suando a camisa no anonimato da Série C.
São viagens de ônibus, refeições
no quilo, vestiários apertados,
chuteiras com buracos nos dedões
e salários sem indexação ao dólar. Isso para entrar em campos
esburacados e disputar partidas
árduas sem que ninguém, ou
quase ninguém, fique sabendo.
Oito times chegaram à quinta
fase do torneio. Desse mata-mata
sairão os quatro times que disputarão o acesso.
Não custa lembrar que o São
Caetano já conquistou um título
da Série C e que o Marília foi o
vencedor do ano passado.
Está na hora de notar a existência da Terceirona.
Flamenguistas
Eurico Miranda venceu a disputa contra Roberto Dinamite
e seguirá como presidente do
Vasco. E por uma diferença curiosa: 111 votos. 111 é mesmo
um número fatídico. Para
quem não lembra, é o número
de assassinados no massacre do
Carandiru, durante o governo
Fleury. Ouvi várias explicações
para a vitória de Eurico Miranda. Uns falam em seu carisma,
outros no eficiente e truculento
trabalho de boca-de-urna, uns
outros em defuntos eleitores.
Meu palpite é que centenas de
flamenguistas se tornaram sócios do Vasco só para votar.
Afinal, a quem mais interessa a
permanência de Eurico?
Haicai
Do leitor Carlos Mallmann: Errou o pênalti/ foi para o banco/
pagar a conta.
E-mail torero@uol.com.br
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