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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Vidas amargas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

O Campeonato Brasileiro entra num momento decisivo. Depois de uma fase morna, com estádios vazios e jogos que não despertavam muito interesse, chegam agora os duelos de vida ou morte.
É verdade que os cariocas não vêm fazendo boa campanha e o Corinthians foi só decepção. Por outro lado, o Galo vem firme, o clube paraense mostra-se brioso, e o esquadrão azul do ABC, se não foi brilhante, mostrou-se ao menos bem regular. Porém surpresa mesmo é o time do Centro-Oeste, que vem encantando o país com suas atuações.
O que você está dizendo, leitor? O que você quer saber, leitora? Por que não mencionei o Cruzeiro? Por que não falei do Coritiba? Por que não escrevi uma única linha sobre Santos e São Paulo?
Perdão, amigos, acho que não estamos falando a mesma língua. Vocês estão pensando no campeonato da Série A. Já eu me refiro à gloriosa Série C.
Entre os cariocas que decepcionaram cito Bangu, Americano e Olaria. Corinthians, claro, é o Corinthians de Alagoas. Por Galo entenda-se o Ituano, por clube paraense, o Tuna Luso, e por esquadrão azul do ABC, o Santo André. Quanto ao time que vem dando as cartas no Brasil-Central, obviamente é o Palmas, de Tocantins.
Dizem que a solução para o nosso futebol é a valorização das divisões inferiores, mas a verdade é que quase ninguém liga para os pobres do mais rico dos esportes.
Antes de mais nada, é difícil encontrar informações sobre o campeonato:
Nos jornais, normalmente só encontramos os resultados em letrinhas invisíveis.
Nos programas esportivos, podemos ficar horas ouvindo sobre a unha encravada de um craque e não ouvirmos uma palavra sobre a Série C.
Na internet, ela não aparece na grande maioria dos sítios sobre futebol.
Como se vê, ou como não se vê, para muitos é como se a terceira divisão não existisse. Mas existe. Existe e retrata nosso futebol de uma maneira mais fiel do que o campeonato da Série A ou mesmo da agora prestigiada Série B.
Nós nos habituamos a pensar na vida do jogador comparando-a com a carreira bem-sucedida de astros como Romário, Kaká, Roberto Carlos e os Ronaldos, mas, para a maioria dos atletas, a vida é mais espartana, e é essa maioria que está suando a camisa no anonimato da Série C.
São viagens de ônibus, refeições no quilo, vestiários apertados, chuteiras com buracos nos dedões e salários sem indexação ao dólar. Isso para entrar em campos esburacados e disputar partidas árduas sem que ninguém, ou quase ninguém, fique sabendo.
Oito times chegaram à quinta fase do torneio. Desse mata-mata sairão os quatro times que disputarão o acesso.
Não custa lembrar que o São Caetano já conquistou um título da Série C e que o Marília foi o vencedor do ano passado.
Está na hora de notar a existência da Terceirona.

Flamenguistas
Eurico Miranda venceu a disputa contra Roberto Dinamite e seguirá como presidente do Vasco. E por uma diferença curiosa: 111 votos. 111 é mesmo um número fatídico. Para quem não lembra, é o número de assassinados no massacre do Carandiru, durante o governo Fleury. Ouvi várias explicações para a vitória de Eurico Miranda. Uns falam em seu carisma, outros no eficiente e truculento trabalho de boca-de-urna, uns outros em defuntos eleitores. Meu palpite é que centenas de flamenguistas se tornaram sócios do Vasco só para votar. Afinal, a quem mais interessa a permanência de Eurico?

Haicai
Do leitor Carlos Mallmann: Errou o pênalti/ foi para o banco/ pagar a conta.

E-mail torero@uol.com.br


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