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Brasil usou "gato" que agora está na mira do São Paulo
Carlos Alberto, do Figueirense, tem 5 anos a mais do que diz, mostra certidão obtida na sua cidade de nascimento
Caso é mais um na
longa lista de fraudes de jogadores nacionais, em prática que a Fifa já puniu o México, mas nunca o Brasil
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O volante Carlos Alberto, do
Figueirense, é ""gato", gíria para
identificar um jogador com idade adulterada. Campeão Mundial sub-20 pela seleção brasileira em 2003, nos Emirados
Árabes (quando tinha 25 anos),
o jogador nascido no Rio adulterou a sua idade em cinco
anos, um recorde nas fraudes
de atletas que disputaram competições oficiais por seleções
brasileiras -o recorde anterior
pertencia a Bell, que "rejuvenesceu" três anos.
Uma segunda via da certidão
de nascimento do atleta obtida
pela Folha revela que Carlos
Alberto de Oliveira nasceu em
24 de janeiro de 1978. Pela documentação do jogador no clube catarinense, ele se declara
como tendo nascido em 24 de
janeiro de 1983. O atleta tem 28
anos e não 23 como afirma.
A fraude na idade de jogadores já tirou o México de competições mundiais por dois anos,
mas a Fifa não puniu o Brasil
em 1999, quando a Folha revelou que quatro jogadores (Sandro Hiroshi, Bell, Anaílson e
Henrique) jogaram sul-americanos ou Mundiais da entidade
com documentos falsos.
O Brasil ainda exportou "gatos" para a Copa do Mundo de
1998 -o atacante Oliveira, que
defendeu a Bélgica, e o lateral
Clayton, pela Tunísia.
A Fifa alegou na ocasião que
a CBF não havia participado
das fraudes.
Além de alterar a idade, o volante adulterou o seu nome e a
cidade em que nasceu. De acordo com a assessoria de imprensa do Figueirense, consta na
carteira de identidade do atleta
que ele nasceu em "São Matheus (RJ)". Não existe município com esse nome no Estado
do Rio. No documento, seu nome aparece como Carlos Alberto de Oliveira Júnior.
A certidão de nascimento
verdadeira do jogador está registrada no cartório de Rio Bonito (município a 74 km da capital fluminense), cidade onde
nasceu e iniciou a carreira.
Maternidade
No documento oficial, Elza
Maria de Oliveira, mãe do atleta da equipe catarinense, declara que o filho nasceu às 23h do
dia 24 de janeiro de 1978 no
Hospital Regional Darcy Vargas, localizado em Rio Bonito.
O documento mostra que o
volante do Figueirense foi registrado pela família quando já
tinha quatro anos. A certidão
foi expedida no dia 20 de maio
de 1981. De acordo com funcionários do cartório, o fato não é
incomum.
Antes da alteração da lei que
regula os registros de nascimento, não era necessário o ofício da maternidade para obter
uma certidão. A criança podia
ser registrada na presença de
duas testemunhas, o que ocorreu no caso de Carlos Alberto.
Registros obtidos no Hospital Regional Darcy Vargas mostram que a mãe do jogador teve
um filho na maternidade 19
dias antes do declarado na certidão de nascimento (24 de janeiro de 1978). Pelo livro do
hospital, a mãe do jogador teve
uma criança às 23h55 do dia 5
de janeiro de 1978. Na documentação, está escrito que o
bebê pesava 3,7 kg e tinha estatura de 50 cm.
Além das sanções esportivas,
o volante do Figueirense pode
responder na Justiça a acusação de falsidade ideológica
("omitir, em documento público ou particular, declaração
que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa com o fim
de alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante"). A
pena prevista neste caso, se
condenado, é de reclusão, de
um a cinco anos, e multa, se o
documento é público.
Destaque no futebol de Rio
Bonito, o volante Carlos Alberto começou no Joinville, no ano
2000. Depois, jogou no Marcílio Dias-SC, no Guarani-MG e
no Caxias de Joinville. Em
maio de 2003, transferiu-se para o Figueirense, atual nono colocado da Série A do Brasileiro.
Um primo de Carlos Alberto
já foi envolvido em outro escândalo internacional sobre
""gatos'" no futebol.
Em 2002, o hoje Eriberto, do
Chievo, admitiu que falsificou a
identidade. O jogador se chama
Luciano Siqueira de Oliveira e é
três anos mais velho do que declarava. Em reportagem publicada em um jornal italiano, ele
declarou que alterou sua documentação em 1996 para virar
profissional e ""sair da pobreza"
em que vivia no Brasil.
Carlos Alberto está nos planos do São Paulo para a próxima temporada. A diretoria do
clube do Morumbi prefere não
comentar sobre a negociação
com o jogador. Mesmo assim, o
técnico Muricy Ramalho não
poupa elogios para o volante.
""Carlos Alberto é muito bom
jogador. Marca bem, e o condicionamento físico é invejável. É
jovem e tem uma vida útil longa
para o São Paulo. Todo o histórico do atleta me agrada", declarou Muricy, na semana passada, aparentemente sem saber
da fraude que o envolve.
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