São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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SONINHA

O grande segredo


Com os resultados menos prováveis, São Paulo e Inter mantiveram-se na disputa para levantar o Brasileiro


TARDE quente na Vila Belmiro. Já passava da hora de os times estarem em campo e nada de os técnicos informarem as escalações. Em situações assim, especialmente quando os adversários se conhecem tão bem, lembro de colegas ironizando: "Será que entrarão o Eto'o de um lado e o Henry do outro? O Kaká voltou ao São Paulo e o Robinho, ao Santos? Que grande surpresa estarão preparando?"
Para quem vai trabalhar na transmissão do jogo, é um chateação. Todo bom profissional gosta de se preparar com antecedência, confirmando os números das camisas, a formação tática, o banco de reservas... Nada incontornável. Diante de uma reclamação mais contundente dos profissionais da mídia esportiva, os próprios técnicos poderiam dizer: "Ora, vocês já não sabem quem joga no time? Podem adiantar 80% da escalação e tirar uma ou duas dúvidas na última hora". E teriam razão. Então... Por que o mistério todo em torno de uma ou duas possibilidades?
Faria sentido se o técnico adversário fosse muito inexperiente ou estivesse há muito pouco tempo com o grupo. Do contrário, ele saberia preparar seu time para todas as alternativas: dois ou três zagueiros, meio-campo com mais volantes ou mais homens "de criação", um ou dois atacantes... Trabalhando com uma equipe durante meses, seria muito difícil prever duas ou três saídas estratégicas?
Lembrei daquele Santos x Corinthians do Campeonato Paulista, em que eu impliquei com o "nó tático" (sempre ele...) atribuído ao Luxemburgo (sempre ele!). Diante de uma surpresinha do técnico do Santos - abriu mão de um atacante (Geílson) e escalou um terceiro zagueiro, vejam vocês que "heterodoxo"-, Antonio Lopes fez o maior escarcéu: chamou jogadores à beira do campo, gesticulou, parecia que precisava reescrever o regulamento do jogo.
O Santos deixou de sofrer gols por muito pouco (no primeiro tempo, levou duas bolas no travessão) e ganhou com um gol justamente do Geílson, que entrou no lugar do Reinaldo, machucado... Os louros da vitória (importantíssima!) ficaram todos com o Luxa. Como observaram alguns, a própria performance do Lopes (que talvez quisesse ser exaltado, depois, por desmanchar o incrível nó) valorizou o santista...
Com os times em campo no domingo, o que se viu? Lenilson no lugar de Aloisio, machucado. E três zagueiros. "Grande" novidade! No Santos, o "segredo" era um monte de gente no meio-campo gente demais, como TODOS concluíram facilmente. Torcedores, narradores, comentaristas e até o Zé Roberto, que não se furtou a fazer essa avaliação no intervalo.
Ficou à vontade para isso porque Luxemburgo já tinha corrigido o equívoco em duas etapas, a primeira desajeitada - Cléber Santana já tinha se machucado quando o técnico decidiu que o meia substituído por um atacante seria André Luis... Cléber teve de ser sacado logo depois.
Foi um jogo disputado, quente, mas não bonito. Exceto, é claro, por alguns lances, como o do gol. Um lampejo individual pode desmontar todo o planejamento; o calcanhar do Lenilson foi dessa categoria (ainda que se identifiquem falhas no esquema do Santos). E a conclusão do Mineiro foi um primor.
Será possível que não ser atacante (e não ter a "obrigação" de acertar uma bola como aquela) é o que dá a tranqüilidade necessária para não errar? O lance do gol do Santos também foi bacana. Por mais improvável (e injusto) que pareça, o bandeira acertou ao anulá-lo.
Com os resultados mais improváveis, vitórias em clássicos fora de casa, São Paulo e Inter continuam postulantes ao título, com vantagem gritante para o primeiro. Continuo gostando do campeonato e tudo que ainda há em disputa.

soninha.folha@uol.com.br


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