|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FÁBIO SEIXAS
O ano da gravata
Para Mosley, presidente da FIA, a chatice sem fim dos escândalos de espionagem ajudou na divulgação da F-1
ERAM 13h34 de ontem quando
um e-mail da FIA piscou na
caixa de entrada. O título:
Imagens do Conselho Mundial. O
conteúdo, quatro fotos em alta definição da reunião, em Mônaco, que
analisava as acusações de espionagem da McLaren contra a Renault.
Difícil escolher a imagem mais desanimada, mais desinteressante,
mais distante dos conceitos clássicos e basais do esporte. Em todas,
homens engravatados, advogados,
testemunhas, dirigentes, olhares vazios, de elevador. De dar sono.
Duas horas e 33 minutos depois,
outro e-mail da FIA. Seis linhas,
anunciando que a Renault foi considerada culpada de espionar a McLaren, mas que não caberá punição.
Tudo isso um dia depois de Max
Mosley declarar, num evento lá
mesmo, em Mônaco, que os escândalos de espionagem não marcaram
tampouco atrapalharam o campeonato deste ano. Pelo contrário, aliás.
Na opinião do inglês, os casos atraíram a atenção de um público que
normalmente não acompanha a categoria. "Por esse aspecto, foi até positivo", bradou o presidente da FIA.
Três movimentos sintomáticos e
que, sim, formam a cara de um Mundial que insiste em não terminar.
O ano para a F-1 foi sensacional
dentro das pistas. A primeira temporada sem Schumacher conheceu
o novato de ascensão mais meteórica da história da categoria, viu um
bicampeão descontrolado, assistiu a
um campeão surpreendente na última corrida de um longo calendário.
O ano teve o duelo Massa x Kubica
em Fuji, as trapalhadas do tal novato-revelação em Xangai e Interlagos,
a tempestade de Nurburgring, o
ponto de Vettel em Indianápolis, a
tentativa de trapaça de Alonso em
Budapeste, o inexplicável e vergonhoso fiasco da Honda, Dennis chorando em Monza. O epílogo ainda
contou com Schumacher testando e
arrasando e com o retorno dos
slicks, nesta semana, em Jerez.
Mas, não. Nada disso teve força
para marcar a temporada. O 58º
Mundial da F-1 será lembrado como
aquele em que os engravatados distribuíram as cartas. E as caras.
Não se trata de negar às equipes o
direito de reclamar. Ferrari e McLaren sentiram-se prejudicadas e acionaram a FIA, acontece o tempo todo
em todos os esportes, é normal.
O que soava incompreensível era
o cartaz que a entidade deu aos escândalos. Enviar foto de testemunhas de um julgamento aguardando
numa ante-sala? Essa foi inédita.
Mas graças a Mosley e sua língua
solta, a razão para tanto bafafá surgiu antes da última coluna do ano.
Na lógica do comandante da FIA,
má publicidade é publicidade mesmo assim, deixar o esporte fazer a
sua parte é arriscado, o negócio é intervir. Sempre. Sempre. Sempre.
Que 2008 seja tão bom nas pistas e
menos ruim fora delas. E para não
dizerem que fugi do assunto: Alonso
e Nelsinho correrão na Renault, Kovalainen seguirá para a McLaren.
Até lá.
fseixas@folhasp.com.br
Texto Anterior: São Paulo: Clube espera posição do Grêmio por meia Próximo Texto: Sem títulos, Caio Jr. deixa o Palmeiras Índice
|