São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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FÁBIO SEIXAS

O ano da gravata

Para Mosley, presidente da FIA, a chatice sem fim dos escândalos de espionagem ajudou na divulgação da F-1

ERAM 13h34 de ontem quando um e-mail da FIA piscou na caixa de entrada. O título: Imagens do Conselho Mundial. O conteúdo, quatro fotos em alta definição da reunião, em Mônaco, que analisava as acusações de espionagem da McLaren contra a Renault.
Difícil escolher a imagem mais desanimada, mais desinteressante, mais distante dos conceitos clássicos e basais do esporte. Em todas, homens engravatados, advogados, testemunhas, dirigentes, olhares vazios, de elevador. De dar sono. Duas horas e 33 minutos depois, outro e-mail da FIA. Seis linhas, anunciando que a Renault foi considerada culpada de espionar a McLaren, mas que não caberá punição. Tudo isso um dia depois de Max Mosley declarar, num evento lá mesmo, em Mônaco, que os escândalos de espionagem não marcaram tampouco atrapalharam o campeonato deste ano. Pelo contrário, aliás.
Na opinião do inglês, os casos atraíram a atenção de um público que normalmente não acompanha a categoria. "Por esse aspecto, foi até positivo", bradou o presidente da FIA. Três movimentos sintomáticos e que, sim, formam a cara de um Mundial que insiste em não terminar. O ano para a F-1 foi sensacional dentro das pistas. A primeira temporada sem Schumacher conheceu o novato de ascensão mais meteórica da história da categoria, viu um bicampeão descontrolado, assistiu a um campeão surpreendente na última corrida de um longo calendário.
O ano teve o duelo Massa x Kubica em Fuji, as trapalhadas do tal novato-revelação em Xangai e Interlagos, a tempestade de Nurburgring, o ponto de Vettel em Indianápolis, a tentativa de trapaça de Alonso em Budapeste, o inexplicável e vergonhoso fiasco da Honda, Dennis chorando em Monza. O epílogo ainda contou com Schumacher testando e arrasando e com o retorno dos slicks, nesta semana, em Jerez.
Mas, não. Nada disso teve força para marcar a temporada. O 58º Mundial da F-1 será lembrado como aquele em que os engravatados distribuíram as cartas. E as caras. Não se trata de negar às equipes o direito de reclamar. Ferrari e McLaren sentiram-se prejudicadas e acionaram a FIA, acontece o tempo todo em todos os esportes, é normal.
O que soava incompreensível era o cartaz que a entidade deu aos escândalos. Enviar foto de testemunhas de um julgamento aguardando numa ante-sala? Essa foi inédita. Mas graças a Mosley e sua língua solta, a razão para tanto bafafá surgiu antes da última coluna do ano.
Na lógica do comandante da FIA, má publicidade é publicidade mesmo assim, deixar o esporte fazer a sua parte é arriscado, o negócio é intervir. Sempre. Sempre. Sempre. Que 2008 seja tão bom nas pistas e menos ruim fora delas. E para não dizerem que fugi do assunto: Alonso e Nelsinho correrão na Renault, Kovalainen seguirá para a McLaren. Até lá.

fseixas@folhasp.com.br


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