DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

A Globo exerceu seu direito de preferência contratual, retomou seus direitos sobre a transmissão do Campeonato Paulista de 2003 e criou uma saia justa sem precedentes na relação entre Eduardo José Farah, presidente da FPF, e o SBT, com quem a entidade havia, em dezembro, assinado contrato pela exibição do torneio.
É possível que o contrato entre a Globo e a Federação Paulista de Futebol seja assinado ainda hoje.
No último dia 30 de dezembro, a emissora carioca enviou ofício à Federação Paulista informando a entidade que aceitara a proposta de Farah pelo Estadual: R$ 12 milhões por 22 partidas.
O problema é que Farah não tinha informado a decisão da Globo à cúpula do SBT.
Anteontem à noite, na festa de lançamento do Estadual, o superintendente de rede da TV paulista, Julio Cesar Casares, dava entrevista para a emissora dizendo que o SBT transmitiria o torneio com exclusividade para todo o Brasil. O SBT cobriu com destaque a festa. Seu telejornal dedicou 2min05s ao assunto.
Ainda anteontem à noite, em seu discurso, Farah repetia que não abriria mão de "garantir ao torcedor" que os jogos teriam início no meio de semana às 21h, horário em que a Globo estaria impossibilitada de transmitir por causa da novela das oito.
O SBT só soube da decisão da Globo no meio da festa, quando Mario Celso Petraglia, homem-forte do Atlético-PR, comentou em sua mesa que a emissora carioca exercera a preferência.
Na mesma mesa estava Casares, que saiu da festa às pressas.
O constrangimento foi maior ainda quando a FPF distribuiu a revista oficial do Estadual. Em chamada na capa, a FPF anunciava que o SBT transmitiria o torneio com exclusividade. A publicação trazia uma entrevista de duas páginas com Guilherme Stoliar, superintendente comercial do SBT e articulador do negócio.
Octavio Florisbal, diretor-geral interino da Globo, também compareceu à festa da FPF, o que foi interpretado como uma forma de pressionar a entidade.
A Folha apurou que, apesar de a Globo ter exercido seu direito de preferência, o SBT pode entrar com medida judicial para garantir que o contrato que assinou com Farah seja validado.
Na Justiça, o SBT deverá argumentar que a Globo exerceu seu direito de preferência fora do prazo, uma vez que a data estipulada pela FPF era 29 de dezembro, um domingo. Deverá também afirmar que a Globo tem de aceitar as mesmas condições oferecidas ao SBT: três jogos às 21h de quartas, sete rodadas duplas aos sábados (às 16h e às 18h) e cinco partidas aos domingos, às 11h.
O SBT assinou contrato com a FPF após a Globo recusar, em outubro, proposta que pedia R$ 12 milhões por 12 jogos. Como a negociação com o SBT foi mais vantajosa (22 jogos), a Globo reivindicou seu direito de preferência pela nova oferta da FPF.


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