São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Chileno Figueroa recebe honras da Fifa, funda entidade e se diz brasileiro

Don Elías entra no top 100 e lidera ex-atletas do mundo

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A CONCEPCIÓN

Só um chileno está entre os cem melhores jogadores de todos os tempos. Don Elías Figueroa, 57, tido por muitos como o melhor estrangeiro da história do Brasileiro, será homenageado no dia 4 de março em Londres. Em meio às celebrações do centenário da Fifa, o ex-jogador do Inter foi indicado para a seleta lista por Pelé.
O ex-zagueiro jogou três Copas (1966, 74 e 82) e, se o Chile tivesse se classificado para 1970 e 78, seria recordista de participações em Mundiais. À Folha, falou da homenagem, da entidade internacional de ex-jogadores que fundou, do Pré-Olímpico em seu país e de seu vinho.
 

Folha - Como recebeu a notícia de que estava na lista dos cem melhores da história?
Elías Figueroa -
Foi superagradável. Havia sido eleito para uma seleção ideal da América no século 20. Se estava entre os melhores sul-americanos, tinha chance de ficar entre os cem melhores do mundo. É um orgulho.

Folha - Indicado por Pelé...
Figueroa -
Joguei contra ele com 17 anos quando o Santos fez uma partida no Chile. Depois, no Brasil, tive a chance de enfrentá-lo algumas vezes. Foi o melhor de todos os tempos. E é um amigo.

Folha - Por ter sido zagueiro, o prêmio é mais valioso?
Figueroa -
É mais difícil ganhá-lo, mas eu já havia sido eleito melhor da América, não só o melhor defensor, em 1974, 1975 e 1976. É normal dar prêmios para os que fazem os gols, mas eu também fazia. Marquei um decisivo no campeonato de 1975 [final do Brasileiro, contra o Cruzeiro].

Folha - Há frustração por não ter jogado no futebol europeu?
Figueroa -
Pelé não jogou na Europa. Para mim, os melhores jogadores da Europa são sul-americanos. Tive proposta do Real Madrid, mas quis ficar no Brasil, no Inter. Hoje, todos vão à Europa por razões econômicas.

Folha - Como foi jogar no Brasil quase toda a década de 70?
Figueroa -
Quando cheguei ao Brasil, havia poucos estrangeiros, quatro ou cinco. Era difícil jogar no país, mas fui bem recebido. Para mim, não basta ser grande jogador. Quero ser reconhecido como boa pessoa. Sou reconhecido. As pessoas têm carinho por mim.

Folha - Onde nasceu o Don?
Figueroa -
Começou no Chile, quando atuei no Unión La Calera. O time era pequeno, mas ganhamos do Colo Colo, da Universidad Católica. Fomos ponteiros do campeonato e ficou o Don. Uso o nome no meu vinho [Don Elías].

Folha - Como vê a crise por que passa o futebol chileno?
Figueroa -
O futebol não acompanhou o crescimento econômico do país. Há muito a ser feito pelo futebol no Chile. A legislação esportiva vigente é de 1939. O Colo Colo deve US$ 32 milhões e ninguém é responsável. É má gestão atrás de má gestão.

Folha - O que acha do Pré-Olímpico em seu país?
Figueroa -
Vivo em Viña del Mar e assessorei a prefeitura [a cidade será sede da fase final]. Verifiquei locais de treinamento, estádio e instalações. Sobre times, o Brasil tem atletas de primeira linha. Me sinto brasileiro e sei que a Olimpíada é uma espinha para o Brasil. No Pré-Olímpico, o time tem muitas chances. A Argentina tem boa equipe. O Paraguai pode aparecer, e o Uruguai tem tradição.

Folha - E o Chile?
Figueroa -
Não existe uma grande confiança nesta seleção.

Folha - O que faz hoje?
Figueroa -
Sou o presidente da Fútbol Masters, entidade de ex-jogadores de todo o mundo. Não gosto de falar ex-jogador, pois não há ex-médico, ex-jornalista. Jogador é sempre jogador. Fazemos ações beneficentes e pensamos em montar uma seleção com esse fim. No dia 21 de fevereiro, tenho reunião na ONU em Nova York para um acordo para a Fútbol Masters. Há muitos nomes na entidade: Cubillas, Eusébio, Kevin Keegan, Rivellino...


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