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COMENTÁRIO
Santos recebe craque para viver segunda lua de mel
Clube é mulher traída e apaixonada, que aceita de volta seu grande amor
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
CARA LEITORA, imagine-se na seguinte situação: seu esposo, seu
amado esposo, fugiu com uma
espanhola, deixando saudades
em você e nas crianças. Para piorar, lá pelas Europas ele flertou
com várias e trocou a espanhola
por uma inglesa feia, daquelas
branquelas de nariz adunco e
olhos vesgos. Porém, após um
tempo, ele se enfada e diz que
quer voltar para você, para seu
primeiro e verdadeiro amor.
O que você faria? Expulsaria
o adúltero, dizendo não querer
vê-lo nem pintado de ouro? Faria ar de difícil, dizendo que
pensaria no caso? Ou o aceitaria de volta?
É claro que o aceitaria! E nem
teria opção. Mulher apaixonada não pensa duas vezes. Nem
uma. Mesmo que ele dissesse
que vinha por uns dias, por um
fim de semana para pegar uma
praia, você estenderia o tapete
vermelho, levaria café na cama
com melãozinho cortado, vestiria camisola roxa de cetim.
Foi o que se deu com o Santos. Recebeu Robinho de braços abertos e olhos úmidos. Fez
festa, chamou os vizinhos, disse
com orgulho que seu amor estava de volta. As crianças poderiam estranhar, mas não. Robinho foi recebido com risos sinceros e abraços apertados. É só
ver a alegria dele e dos jogadores após o final do jogo. Aliás,
jogo perfeito para uma volta.
De início, o filho caçula, que é
a cara do pai, marcou gol com
paradinha. Coisa de criança
traquina. Um gol daqueles que
deixa o goleiro com vontade de
arrancar os poucos cabelos.
Depois, Robinho entrou em
campo. A torcida comemorou
quando ele deu as primeiras pedaladas. Até o primeiro passe
errado foi aplaudido. Ele levantou a gola para ficar com cara de
mau e por pouco não fez o segundo gol. Mas Rogério Ceni,
com uma defesa de pontinha de
dedo, que ele não faria se tivesse aparado as unhas, impediu
tal alegria. Um crime de lesa-futebol. Seria o gol perfeito,
uma tabelinha entre Neymar e
Robinho, para contar aos netos.
Para dar mais emoção, o São
Paulo empatou. As grandes alegrias têm que ter uma pitada de
tristeza, senão são alegrias bobas, esquecidas na manhã seguinte. Vitória fácil em clássico
não tem graça. A emoção é vencer o inimigo por um triz.
E esse triz foi feito por Robinho, como numa história de
amor com final feliz. Um gol de
letra. Para matar as saudades.
Seu toque de calcanhar foi um
coroamento, uma chave de ouro, um gran finale, ou, para voltarmos à metáfora conjugal,
um orgasmo com música de orquestra e fogos de artificio.
Enfim, foi uma perfeita tarde
de lua de mel.
Robinho voltou para sua
amada e se deu bem com as
crianças. Brincou com elas, riu,
se divertiu. Ah, as tabelas que
eles farão, as brincadeiras que
inventarão... Por quatro meses
o Santos será um time de sonho. Será como uma família feliz fazendo piquenique na relva, como uma família de comercial de margarina.
Em agosto, ele deve retornar
para os braços magros de sua
inglesa feia. Mas vai ficar com
saudade. E, de vez em quando,
vai suspirar pelo seu grande
amor e sussurrar baixinho:
"Um dia eu vou voltar, um dia
vou voltar para sempre...".
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