São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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COMENTÁRIO

Santos recebe craque para viver segunda lua de mel

Clube é mulher traída e apaixonada, que aceita de volta seu grande amor

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

CARA LEITORA, imagine-se na seguinte situação: seu esposo, seu amado esposo, fugiu com uma espanhola, deixando saudades em você e nas crianças. Para piorar, lá pelas Europas ele flertou com várias e trocou a espanhola por uma inglesa feia, daquelas branquelas de nariz adunco e olhos vesgos. Porém, após um tempo, ele se enfada e diz que quer voltar para você, para seu primeiro e verdadeiro amor.
O que você faria? Expulsaria o adúltero, dizendo não querer vê-lo nem pintado de ouro? Faria ar de difícil, dizendo que pensaria no caso? Ou o aceitaria de volta?
É claro que o aceitaria! E nem teria opção. Mulher apaixonada não pensa duas vezes. Nem uma. Mesmo que ele dissesse que vinha por uns dias, por um fim de semana para pegar uma praia, você estenderia o tapete vermelho, levaria café na cama com melãozinho cortado, vestiria camisola roxa de cetim.
Foi o que se deu com o Santos. Recebeu Robinho de braços abertos e olhos úmidos. Fez festa, chamou os vizinhos, disse com orgulho que seu amor estava de volta. As crianças poderiam estranhar, mas não. Robinho foi recebido com risos sinceros e abraços apertados. É só ver a alegria dele e dos jogadores após o final do jogo. Aliás, jogo perfeito para uma volta.
De início, o filho caçula, que é a cara do pai, marcou gol com paradinha. Coisa de criança traquina. Um gol daqueles que deixa o goleiro com vontade de arrancar os poucos cabelos.
Depois, Robinho entrou em campo. A torcida comemorou quando ele deu as primeiras pedaladas. Até o primeiro passe errado foi aplaudido. Ele levantou a gola para ficar com cara de mau e por pouco não fez o segundo gol. Mas Rogério Ceni, com uma defesa de pontinha de dedo, que ele não faria se tivesse aparado as unhas, impediu tal alegria. Um crime de lesa-futebol. Seria o gol perfeito, uma tabelinha entre Neymar e Robinho, para contar aos netos.
Para dar mais emoção, o São Paulo empatou. As grandes alegrias têm que ter uma pitada de tristeza, senão são alegrias bobas, esquecidas na manhã seguinte. Vitória fácil em clássico não tem graça. A emoção é vencer o inimigo por um triz.
E esse triz foi feito por Robinho, como numa história de amor com final feliz. Um gol de letra. Para matar as saudades. Seu toque de calcanhar foi um coroamento, uma chave de ouro, um gran finale, ou, para voltarmos à metáfora conjugal, um orgasmo com música de orquestra e fogos de artificio.
Enfim, foi uma perfeita tarde de lua de mel.
Robinho voltou para sua amada e se deu bem com as crianças. Brincou com elas, riu, se divertiu. Ah, as tabelas que eles farão, as brincadeiras que inventarão... Por quatro meses o Santos será um time de sonho. Será como uma família feliz fazendo piquenique na relva, como uma família de comercial de margarina.
Em agosto, ele deve retornar para os braços magros de sua inglesa feia. Mas vai ficar com saudade. E, de vez em quando, vai suspirar pelo seu grande amor e sussurrar baixinho: "Um dia eu vou voltar, um dia vou voltar para sempre...".


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