São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Professor dos professores

Zé Cabala encarna Brandão, o único técnico que se sagrou campeão paulista por todos os clubes do Trio de Ferro

Q UANDO ENTREI na sacrossanta de sala de Zé Cabala, encontrei-o sentado em posição de lótus, usando um turbante verde-e-rosa e cantarolando: "Eu vou dos versos de Camões/ Às folhas secas caídas de Mangueira...".
Pigarrei e perguntei: "Cantando, mestre?". "Claro que não, meu rapaz, eu estava meditando. Só que não gosto de usar aqueles mantras sem graça. Vamos lá, qual jogador você quer entrevistar hoje?" "Pensei em falar com um técnico, só para variar."
Então o grande carteiro das almas levantou-se, deu uns giros que pareciam passos de mestre-sala e afirmou: "Boa tarde, meu nome é Oswaldo Brandão".
"Brandão?! Aquele que foi campeão paulista pelos três times do Trio de Ferro? Aquele que nasceu em Taquara, no Rio Grande do Sul, em 18 de setembro de 1916? Aquele que..."
"Pelo jeito você já sabe tudo e não precisa perguntar mais nada." "Desculpe, eu me emocionei.
Bem, é... o sr. foi jogador de futebol?" "Fui. Só que me machuquei e pendurei as chuteiras. Então virei técnico. Logo de cara fui campeão paulista como técnico do Palmeiras. E eu tinha só 31 anos."
"Rápido, hein?"
"E também me aposentei rápido. Fui ser gerente de cinema. Mas o Corinthians me chamou, e voltei." "Vamos falar do Trio de Ferro. Pouca gente lembra que o senhor foi técnico do São Paulo."
"Mas eu fui. E por 143 jogos, com 85 vitórias. Ganhamos o Paulista de 71, mas eu gosto mesmo é de lembrar daquele jogo contra o Santos de Pelé em 63. Eles eram os campeões mundiais, os tais, os bambambãs, mas, no começo do segundo tempo, nós já ganhávamos de 4 a 1. Os santistas começaram a cair em campo para acabar com o jogo. Um vexame para eles e uma glória para mim!"
"Mas o senhor tem uma história triste com o Santos, não é?" "Nem me lembre... Eu era o técnico do Botafogo de Ribeirão Preto naqueles 11 a 0, quando o Pelé marcou oito vezes. E duas semanas depois estava no Corinthians quando perdemos de 7 a 4. Foram 18 gols em 15 dias. Bah!"
"Qual o melhor time que o senhor já montou?"
"Ah, sem dúvida foi a Segunda Academia do Palestra. Só para você ter uma idéia, em 1972, nós fizemos 78 jogos e perdemos apenas cinco. Fomos campeões paulistas invictos e ganhamos o Brasileiro. Era um timaço!"
"O Palmeiras foi o time que o senhor mais dirigiu?" "Foi. 580 jogos e 335 vitórias." "O senhor fazia o estilo paizão, não é?"
"É. Naquele tempo não tinha esse negócio de psicólogo nem de procurador. Os rapazes precisavam de ajuda para andar na linha. Teve um que eu não escalei enquanto ele não devolveu um carro caríssimo que ele tinha comprado."
"O senhor também foi o técnico mais importante da história do Corinthians, não é?" "Pode ser. Foram 438 jogos e 249 vitórias. Eu ganhei o último título antes dos 22 anos de jejum, o do 4º Centenário, e estava no banco quando o Basílio fez aquele gol na Ponte Preta. Nesse meio tempo o time trocou 27 vezes de técnico, mas só foi ser campeão comigo, naquele 13 de outubro de 1977."
"Falando nisso, conta a lenda que, no dia da final contra a Ponte Preta, o senhor foi até o quarto do Basílio e disse para ele: "Negão, descanse aí que amanhã você vai me fazer o gol da vitória". É verdade?"
"Verdade verdadeira."
"E como o senhor sabia disso?" "Eu era espírita e tinha recebido a informação de uma fonte segura. Aliás, dê uma generosa gorjeta ao grande Zé Cabala. Ele merece."

torero@uol.com.br


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