São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Pequim poluída ajuda, diz Vanderlei

Bronze em Atenas-2004, maratonista afirma que condição ruim do ar favorecerá brasileiros na Olimpíada chinesa

Competidores não correrão "ao lado de escapamento de caminhão", justifica; médico responsável por preparação nacional recomenda máscara


MARIANA BASTOS
ENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS

Para astros da maratona, a idéia de correr 42,195 km em Pequim assusta. O motivo, a poluição da capital chinesa.
Para Vanderlei Cordeiro de Lima, não será um problema. Pelo contrário: é motivação.
O bronze nos Jogos de Atenas-2004 confia nos seus pulmões acostumados à situação crítica dos ares de São Paulo.
Quatro anos após ser abalroado por um padre irlandês na maratona grega, o brasileiro não se intimida com a poluição da capital chinesa, que, em um dia típico, atinge nível cinco vezes maior do que a Organização Mundial da Saúde recomenda como seguro.
"Não acho que a poluição possa influenciar no desempenho. Já disputei provas em São Paulo e não tive problema com isso. Além disso, o atleta não correrá ao lado de um escapamento de caminhão", disse Vanderlei, em evento no qual foi lançado um instituto com seu nome, em Campinas.
"Se as condições do ambiente [em Pequim] fossem ideais, seria uma maratona rápida, e eu acho que os brasileiros não chegariam nem entre os dez primeiros. Mas a maratona [em Pequim] vai ser dura, com temperatura alta e poluição. Isso favorece os brasileiros, principalmente a mim, que estou acostumado a competir em cidades poluídas", afirmou o atleta, que disputará a Meia Maratona de São Paulo amanhã.
Segundo o fisiologista Antônio Carlos da Silva, coordenador da preparação dos brasileiros, o único componente da poluição ao qual o atleta pode se adaptar é o ozônio.
Entretanto Pequim apresenta outros poluentes nocivos às vias respiratórias, como monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e partículas de poeira.
"Não acho que os brasileiros possam ter vantagem nisso. Os maratonistas estrangeiros já estão cientes do que podem encontrar em Pequim e estão se preparando para isso", analisa Silva, médico da Universidade Federal de São Paulo.
O fisiologista recomendará que atletas suscetíveis a broncoespasmos (constrição das vias aéreas por exposição a excesso de exercício ou a alergênicos) usem máscara antipoluição. Atletas britânicos, americanos e alemães também cogitam usar a proteção.
O maratonista brasileiro reconheceu a possibilidade de adotar a máscara quando estiver na capital chinesa.
"Se for recomendado para a delegação, eu usarei", disse Vanderlei. "Mas acredito que as autoridades chinesas vão melhorar o ar até os Jogos."
O comitê organizador dos Jogos corre contra o tempo para limpar o ar até o início do evento, em agosto. Desde 1998, Pequim já gastou mais de US$ 16,8 bilhões (cerca de R$ 28,3 bilhões) contra a poluição.
Mesmo com todos os esforços pequineses, alguns atletas mostram-se pessimistas quanto à melhora da qualidade do ar.
Um dos principais adversários de Vanderlei, o etíope Haile Gebrselassie, recordista mundial, cogita não participar da prova. Ele teme que seu problema com asma seja agravado devido à baixa qualidade do ar.
"Não seria ruim para mim, né?! Menos um para concorrer", concluiu Vanderlei, com um sorriso de canto de boca.


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