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Com cabeça em Pequim, Rebeca encara maratona
Brasileira enfrenta mais de cinco horas de audiência em tribunal, e advogado diz que chance de absolvição é pequena
Nadadora pode receber
dois anos de suspensão caso
seja considerada culpada;
veredicto do CAS deve demorar mais de um mês
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A LAUSANNE
"Todo os dias acordo pensando em Pequim", diz a nadadora
Rebeca Gusmão. "É isso que me
dá forças para continuar treinando." Ontem pela manhã, na
Corte de Arbitragem do Esporte, em Lausanne, na Suíça, a nadadora enfrentou a primeira
batalha para realizar o sonho
de disputar os próximos Jogos.
Durante cinco horas, Rebeca
ficou diante dos três juízes que
decidirão sobre um caso de doping de 2006, pelo qual a atleta
pode pegar até dois anos de suspensão, o que destruiria o sonho olímpico. O advogado Breno Tannuri, que defende a nadadora, saiu da audiência do
mesmo jeito que entrou: pessimista. "Acho que temos uma
chance em dez", disse Tannuri.
"O caso é muito complexo,
cheio de nuances. Mas me agarro na chance que temos."
No caso julgado ontem, a defesa argumenta que a contraprova do exame antidoping estava contaminada e que por isso deveria ter sido descartada.
O exame, realizado por um
laboratório do Canadá, foi feito
a partir de amostras recolhidas
durante o Troféu José Finkel,
em 2006. Renata Castro, ex-diretora médica da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), depôs em favor
de Rebeca, afirmando que um
exame contaminado não é confiável cientificamente.
Vestindo terno cinza e camisa branca e aparentando cansaço após a longa audiência, Rebeca procurava manter a esperança, apesar do ceticismo de
seu advogado. "Fui a primeira
mulher a ganhar um ouro para
o Brasil no Pan e acho que posso repetir numa Olimpíada",
disse, com sorriso tímido.
Sobre a decepção com a
CBDA, que parou de apoiá-la, e
com o Comitê Olímpico Brasileiro, que pediu inquérito criminal sobre outra suspeita do
doping, detectado no dia de
abertura do Pan do Rio -será
julgada na segunda-feira na Fina-, Rebeca disse que não afetará sua motivação de disputar
a Olimpíada de Pequim.
"Nunca nadei por ninguém,
só por mim e pelo meu país",
diz a nadadora. "Duvido de que
vá ter alguma nadadora mais
motivada do que eu", disse ela.
Embora o CAS tenha até 40
dias para anunciar um veredicto, o advogado de Rebeca crê
que a decisão sairá na próxima
semana. "Os juízes estavam
bem preparados, conhecem o
caso a fundo", disse Tannuri.
Além de decidirem se Rebeca
merece a suspensão, os juízes
também avaliam se houve erro
da Fina, que pulou uma etapa e
enviou o caso diretamente ao
CAS, em vez de formar o seu
próprio painel. O suposto erro
da Fina estava entre os argumentos apresentados pela defesa, mas o reconhecimento dele por parte dos juízes não significa necessariamente vantagem para a nadadora brasileira.
Se isso acontecer, o caso volta
à estaca zero no Brasil, o que
pode complicar as pretensões
de Rebeca de disputar Pequim.
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