São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Com cabeça em Pequim, Rebeca encara maratona

Brasileira enfrenta mais de cinco horas de audiência em tribunal, e advogado diz que chance de absolvição é pequena

Nadadora pode receber dois anos de suspensão caso seja considerada culpada; veredicto do CAS deve demorar mais de um mês


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A LAUSANNE

"Todo os dias acordo pensando em Pequim", diz a nadadora Rebeca Gusmão. "É isso que me dá forças para continuar treinando." Ontem pela manhã, na Corte de Arbitragem do Esporte, em Lausanne, na Suíça, a nadadora enfrentou a primeira batalha para realizar o sonho de disputar os próximos Jogos.
Durante cinco horas, Rebeca ficou diante dos três juízes que decidirão sobre um caso de doping de 2006, pelo qual a atleta pode pegar até dois anos de suspensão, o que destruiria o sonho olímpico. O advogado Breno Tannuri, que defende a nadadora, saiu da audiência do mesmo jeito que entrou: pessimista. "Acho que temos uma chance em dez", disse Tannuri. "O caso é muito complexo, cheio de nuances. Mas me agarro na chance que temos."
No caso julgado ontem, a defesa argumenta que a contraprova do exame antidoping estava contaminada e que por isso deveria ter sido descartada.
O exame, realizado por um laboratório do Canadá, foi feito a partir de amostras recolhidas durante o Troféu José Finkel, em 2006. Renata Castro, ex-diretora médica da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), depôs em favor de Rebeca, afirmando que um exame contaminado não é confiável cientificamente.
Vestindo terno cinza e camisa branca e aparentando cansaço após a longa audiência, Rebeca procurava manter a esperança, apesar do ceticismo de seu advogado. "Fui a primeira mulher a ganhar um ouro para o Brasil no Pan e acho que posso repetir numa Olimpíada", disse, com sorriso tímido.
Sobre a decepção com a CBDA, que parou de apoiá-la, e com o Comitê Olímpico Brasileiro, que pediu inquérito criminal sobre outra suspeita do doping, detectado no dia de abertura do Pan do Rio -será julgada na segunda-feira na Fina-, Rebeca disse que não afetará sua motivação de disputar a Olimpíada de Pequim.
"Nunca nadei por ninguém, só por mim e pelo meu país", diz a nadadora. "Duvido de que vá ter alguma nadadora mais motivada do que eu", disse ela.
Embora o CAS tenha até 40 dias para anunciar um veredicto, o advogado de Rebeca crê que a decisão sairá na próxima semana. "Os juízes estavam bem preparados, conhecem o caso a fundo", disse Tannuri.
Além de decidirem se Rebeca merece a suspensão, os juízes também avaliam se houve erro da Fina, que pulou uma etapa e enviou o caso diretamente ao CAS, em vez de formar o seu próprio painel. O suposto erro da Fina estava entre os argumentos apresentados pela defesa, mas o reconhecimento dele por parte dos juízes não significa necessariamente vantagem para a nadadora brasileira.
Se isso acontecer, o caso volta à estaca zero no Brasil, o que pode complicar as pretensões de Rebeca de disputar Pequim.


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