São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Torcedor banca Adriano, afirma Juvenal Juvêncio

Presidente do São Paulo diz que torcida apóia o jogador por ser figura internacional

Perto das eleições, cartola diz que mudança no estatuto sobre tempo de mandato foi sugestão da própria oposição do clube


JULYANA TRAVAGLIA
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Juvenal Juvêncio diz não ter mais alegrias como nos tempos de torcedor. Presidente do São Paulo e candidato à reeleição, o advogado de 69 anos, 40 deles dedicados ao clube do Morumbi, afirma que a vida de cartola é de sofrimento constante. Prova disso foi o momento difícil que passou com o atacante Adriano na última semana, quando o atleta deixou o CT do clube sem autorização. Em entrevista à Folha, Juvenal falou sobre as dificuldades em domar o camisa 10 do time, as eleições e o tempo em que era feliz como torcedor, quando desfrutava os jogos do ponta-esquerda Canhoteiro, ídolo são-paulino dos anos 50. Sempre fumando um cachimbo, seu companheiro desde que descobriu que não poderia mais fumar cigarros, há 30 anos. "Eu não estou recomendando. Mas é uma boa maneira de ficar relaxado."

 

FOLHA - Como contornar um caso como o de Adriano, ocorrido na semana passada?
JUVENAL JUVÊNCIO -
O atleta precisa respeitar o dirigente não pela autoridade, e sim pela postura. Quando há uma desordem como essa, fica pululando entre a comissão técnica e os atletas. Quando fomos para o auditório, disse: "Vou falar forte e dizer a eles que aquilo que está acontecendo com você acontecerá com qualquer um deles [multa de 40% no salário]. É um deslize. Em seguida, você fala para reconhecer o erro e se desculpar com os colegas e com a comissão. Depois, vamos falar com a imprensa." Sem a imprensa, como falar com nossos aficionados? Seria uma dicotomia, um Muro de Berlim.

FOLHA - Qual foi o tom da conversa? De patrão? De conselho? De pai?
JUVENAL -
Não é paternal, não é aconselhativa, não é conciliadora, mas não é bravateira. É uma postura ereta, direta, sem adjetivação. Você cometeu um deslize. Não falemos sobre ele. Agora, assine esse documento que é a sua punição. Primeiro, ele assinou, depois, pôde falar.

FOLHA - Qual foi o pior deslize?
JUVENAL -
O atraso foi um pecado venial. Insubordinação ao tratamento, um pecado capital.

FOLHA - Ele falou que queria ser chamado novamente de Imperador.
JUVENAL -
Entendi como um momento de nervosismo. Quem tem uma ressonância maior repercute mais na imprensa. Isso mexe com o grande público. O torcedor quer um time competitivo, que ganhe, mas ele tem duas, três figuras em que se fixa. O Adriano é isso, uma figura internacional.

FOLHA - Ele entendeu o recado?
JUVENAL -
Entendeu. Ele e todos. Todos sabem o que eu acho. Mas mexo com o coletivo, com um público enorme lá fora. A mídia ficará contra o Adriano porque ele cometeu um deslize.

FOLHA - Passou pela cabeça do senhor que ele pudesse deixar o clube?
JUVENAL -
Poderia sair se não assinasse. Era uma coisa sem retorno. Não é uma unanimidade. O torcedor quer a grande figura. Ele age com paixão, a razão fica com os dirigentes. Era um momento crucial. E coisas graves devem ser resolvidas com força. Oxalá volte a brilhar.

FOLHA - O São Paulo é sempre citado como um clube exemplar. Como o senhor vê essa posição, quando o mandato da presidência é mudado de dois para três anos no estatuto a poucos meses das eleições?
JUVENAL -
Sempre resisti a isso. O primeiro a protocolar isso foi o José Augusto Bastos Neto, da oposição. Ele disse que precisávamos mudar e também queria que eu fosse candidato único, mas falei que tinha de ter disputa, que era mais democrático. Mas não tem nada demais. O próximo presidente vai ter, em vez de dois, três anos.

FOLHA - Então o senhor confirma que a proposta partiu da oposição?
JUVENAL -
Partiu deles a idéia de protocolar e nós a apoiamos. Na votação, eles foram contra.

FOLHA - E quando o candidato Aurélio Miguel fala justamente disso em sua campanha?
JUVENAL -
Aí tem de perguntar para o José Augusto, chefe dele.

FOLHA - Por que a mudança?
JUVENAL -
"Jus esperniandi" é uma expressão latina que quer dizer que o cidadão tem direito ao esperneio. Isso é do processo, é natural. Do mesmo jeito que tem o sujeito que perde uma partida por 4 a 0. No direito, isso é permitido, o protesto.

FOLHA - Qual foi o maior ídolo do senhor como torcedor do São Paulo?
JUVENAL -
Eu gostava muito do Canhoteiro. Ele era extremamente habilidoso e me deu muitas alegrias. Agora, como dirigente, não tenho mais alegrias, só problemas. Depois que acaba o jogo, ganhando ou perdendo, já tenho de pensar em um monte de coisas.

FOLHA - E o Rogério?
JUVENAL -
Eu o conheci como dirigente, não tenho a visão de torcedor. Mas acho que já passou o Canhoteiro como ídolo.

FOLHA - É verdade que ele sonda jogadores para virem para o clube?
JUVENAL -
Foi ele quem indicou o Fabão para vir e ainda referendou o André Dias. Ele conhece muito bem os jogadores.


Texto Anterior: José Geraldo Couto: A noite de Dodô
Próximo Texto: Aurélio Miguel admite que chegou tarde, mas diz que, se perder, tudo bem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.