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Torcedor banca Adriano, afirma Juvenal Juvêncio
Presidente do São Paulo diz que torcida apóia o jogador por ser figura internacional
Perto das eleições, cartola diz que mudança no estatuto sobre tempo de mandato foi sugestão da própria oposição do clube
JULYANA TRAVAGLIA
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Juvenal Juvêncio diz não ter
mais alegrias como nos tempos
de torcedor. Presidente do São
Paulo e candidato à reeleição, o
advogado de 69 anos, 40 deles
dedicados ao clube do Morumbi, afirma que a vida de cartola é
de sofrimento constante.
Prova disso foi o momento
difícil que passou com o atacante Adriano na última semana,
quando o atleta deixou o CT do
clube sem autorização.
Em entrevista à Folha, Juvenal falou sobre as dificuldades
em domar o camisa 10 do time,
as eleições e o tempo em que
era feliz como torcedor, quando desfrutava os jogos do ponta-esquerda Canhoteiro, ídolo
são-paulino dos anos 50.
Sempre fumando um cachimbo, seu companheiro desde que descobriu que não poderia mais fumar cigarros, há
30 anos. "Eu não estou recomendando. Mas é uma boa maneira de ficar relaxado."
FOLHA - Como contornar um caso
como o de Adriano, ocorrido na semana passada?
JUVENAL JUVÊNCIO - O atleta precisa respeitar o dirigente não
pela autoridade, e sim pela postura. Quando há uma desordem
como essa, fica pululando entre
a comissão técnica e os atletas.
Quando fomos para o auditório, disse: "Vou falar forte e dizer a eles que aquilo que está
acontecendo com você acontecerá com qualquer um deles
[multa de 40% no salário]. É
um deslize. Em seguida, você
fala para reconhecer o erro e se
desculpar com os colegas e com
a comissão. Depois, vamos falar
com a imprensa." Sem a imprensa, como falar com nossos
aficionados? Seria uma dicotomia, um Muro de Berlim.
FOLHA - Qual foi o tom da conversa? De patrão? De conselho? De pai?
JUVENAL - Não é paternal, não é
aconselhativa, não é conciliadora, mas não é bravateira. É
uma postura ereta, direta, sem
adjetivação. Você cometeu um
deslize. Não falemos sobre ele.
Agora, assine esse documento
que é a sua punição. Primeiro,
ele assinou, depois, pôde falar.
FOLHA - Qual foi o pior deslize?
JUVENAL - O atraso foi um pecado venial. Insubordinação ao
tratamento, um pecado capital.
FOLHA - Ele falou que queria ser
chamado novamente de Imperador.
JUVENAL - Entendi como um
momento de nervosismo.
Quem tem uma ressonância
maior repercute mais na imprensa. Isso mexe com o grande público. O torcedor quer um
time competitivo, que ganhe,
mas ele tem duas, três figuras
em que se fixa. O Adriano é isso, uma figura internacional.
FOLHA - Ele entendeu o recado?
JUVENAL - Entendeu. Ele e todos. Todos sabem o que eu
acho. Mas mexo com o coletivo,
com um público enorme lá fora.
A mídia ficará contra o Adriano
porque ele cometeu um deslize.
FOLHA - Passou pela cabeça do senhor que ele pudesse deixar o clube?
JUVENAL - Poderia sair se não
assinasse. Era uma coisa sem
retorno. Não é uma unanimidade. O torcedor quer a grande figura. Ele age com paixão, a razão fica com os dirigentes. Era
um momento crucial. E coisas
graves devem ser resolvidas
com força. Oxalá volte a brilhar.
FOLHA - O São Paulo é sempre citado como um clube exemplar. Como
o senhor vê essa posição, quando o
mandato da presidência é mudado
de dois para três anos no estatuto a
poucos meses das eleições?
JUVENAL - Sempre resisti a isso.
O primeiro a protocolar isso foi
o José Augusto Bastos Neto, da
oposição. Ele disse que precisávamos mudar e também queria
que eu fosse candidato único,
mas falei que tinha de ter disputa, que era mais democrático. Mas não tem nada demais.
O próximo presidente vai ter,
em vez de dois, três anos.
FOLHA - Então o senhor confirma
que a proposta partiu da oposição?
JUVENAL - Partiu deles a idéia
de protocolar e nós a apoiamos.
Na votação, eles foram contra.
FOLHA - E quando o candidato Aurélio Miguel fala justamente disso
em sua campanha?
JUVENAL - Aí tem de perguntar
para o José Augusto, chefe dele.
FOLHA - Por que a mudança?
JUVENAL - "Jus esperniandi" é
uma expressão latina que quer
dizer que o cidadão tem direito
ao esperneio. Isso é do processo, é natural. Do mesmo jeito
que tem o sujeito que perde
uma partida por 4 a 0. No direito, isso é permitido, o protesto.
FOLHA - Qual foi o maior ídolo do
senhor como torcedor do São Paulo?
JUVENAL - Eu gostava muito do
Canhoteiro. Ele era extremamente habilidoso e me deu
muitas alegrias. Agora, como
dirigente, não tenho mais alegrias, só problemas. Depois que
acaba o jogo, ganhando ou perdendo, já tenho de pensar em
um monte de coisas.
FOLHA - E o Rogério?
JUVENAL - Eu o conheci como
dirigente, não tenho a visão de
torcedor. Mas acho que já passou o Canhoteiro como ídolo.
FOLHA - É verdade que ele sonda
jogadores para virem para o clube?
JUVENAL - Foi ele quem indicou
o Fabão para vir e ainda referendou o André Dias. Ele conhece muito bem os jogadores.
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