São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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órfãos

Bragantino e São Caetano brilham sós

Com morte de patronos, clubes perdem apoio de prefeituras, montam grupos modestos, mas têm sucesso no Paulista

Em Bragança, sem Nabi Abi Chedid, equipe teve de negociar dívidas, e no ABC, ex-time de Luiz Tortorello recebe verba de só R$ 5.000

EDUARDO OHATA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os patronos morreram, assim como a aliança com as prefeituras de suas cidades. Com pouco dinheiro, os elencos, antes estrelados para os padrões de clubes de tal porte, são formados por jogadores modestos.
Essa combinação parecia a garantia de Bragantino e São Caetano seguirem ladeira abaixo no Paulista-07. Mas não foi o que aconteceu. Os dois times começaram a penúltima rodada na zona de classificação às semifinais, deixando Corinthians e Palmeiras para trás.
O time do ABC, rebaixado em 2006 para a Série B do Brasileiro, em terceiro, e o de Bragança Paulista, em quarto.
Uma surpresa para quem perdeu muito mais que os padrinhos com os falecimentos de Nabi Abi Chedid, no ano passado, e Luiz Tortorello, em 2004.
Bragantino, feudo da família Chedid por décadas, e São Caetano, que teve o ex-prefeito da cidade como um de seus fundadores, são hoje um arremedo em relação ao tempo em que ganharam fama e títulos.
Isso porque as famílias de seus mecenas não têm agora a mesma força política em seus municípios, o que dificulta a vida financeira de ambos.
Jesus, irmão de Nabi, perdeu na Justiça eleitoral, por irregularidades na campanha, o seu mandato como prefeito de Bragança Paulista. Em seu lugar entrou um tucano opositor dos Chedid. Com "inimigos" no poder, as verbas públicas secaram. "Nem o rapaz que cortava a grama do estádio eles mandam mais", diz Marco Antônio Abi Chedid, filho de Nabi e presidente do Bragantino.
Domingos Alves, chefe de divisão de esportes da Secretaria da Juventude, Esportes e Lazer de Bragança, diz que a política de investimentos da cidade é assunto da prefeitura.
Sem auxílio estatal, o Bragantino, campeão paulista em 1990, fez uma reengenharia na sua dívida para voltar a brilhar na elite. O clube fez um acordo com a Justiça para parcelar seus débitos trabalhistas -segundo Abi Chedid, esse valor chegava a R$ 6 milhões.
Dentro de campo, acabou com a categoria de base e tem um elenco profissional que custa menos de R$ 200 mil mensais -menos da metade do que ganhava Leão no Corinthians.
Se o dinheiro não é o mesmo, o dirigente garante que seu clube segue com a força nos bastidores que tinha quando Nabi era vivo e vice-presidente da CBF. "Os amigos dele viraram meus amigos", afirma.
Brigas políticas também deixaram o São Caetano mais frágil. O atual prefeito, José Auricchio Jr., foi eleito com o apoio de Tortorello, mas hoje é desafeto da família do ex-prefeito.
"Hoje não existe mais o relacionamento entre prefeitura e clube. Todo o incentivo da prefeitura, o trabalho, não existe mais", reclama o ex-deputado estadual Marquinho Tortorello, filho do ex-prefeito.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a prefeitura de São Caetano diz que Tortorello ajudava o clube, mas não com recursos da prefeitura.
Também diz que, por lei, o São Caetano, assim como outros clubes amadores, recebe uma subvenção de R$ 5.000.
Tanto em Bragança quanto no ABC a distância entre os clubes e as cidades são sentidas.
"Não há mais carinho, incentivo dos torcedores. Não existe mais aquilo que o clube representava para a cidade. Por isso os jogos têm as piores rendas do Paulista", afirma Marquinho Tortorello. "A cidade de Bragança deve muito ao Bragantino. E está em dívida com o clube", fala Marcelo Veiga, o técnico atual da equipe.


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