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Tocha é apagada 4 vezes em Paris
Diante de protestos, Rogge diz estar muito preocupado com situação no Tibete e sugere diálogo à China
Organizadores extinguem chama e levam tocha em
um ônibus para driblar os manifestantes, que chegam a decorar monumentos
DA REPORTAGEM LOCAL
Tida como símbolo do espírito olímpico, a tocha dos Jogos
de Pequim foi apagada ontem,
em Paris. Caçada por defensores dos direitos humanos, notadamente por grupos pró-Tibete, desde anteontem, em Londres, a chama olímpica, pelo
menos desta vez, foi extinta por
iniciativa dos organizadores do
evento. Por quatro vezes.
Alegando razões de segurança, a tocha e alguns de seus condutores cumpriram parte do
trajeto em um ônibus, abrigados das ações de manifestantes
de várias matizes e países, inclusive deputados franceses.
Segundo a agência Associated
Press, 28 pessoas foram presas.
Na terceira vez em que a chama foi extinta, policiais aparentemente interromperam o revezamento após notar sinais de
protesto mais adiante. Garrafas
de plástico, copos e até comida
foram lançados em direção ao
ônibus. Sobrou até para o paraatleta que conduzia a tocha.
Mais tarde, já próximo ao
Museu do Louvre, quando um
manifestante se aproximou da
tocha com um extintor de incêndio, a polícia, que disponibilizou contingente de 3.000 homens para escoltar a chama e
praticamente desfigurava o caráter do evento, de novo a colocou no ônibus.
Por fim, os organizadores jogaram a toalha e cancelaram o
terço final da etapa. O ônibus
levou a tocha diretamente ao
último portador, que a carregou por cinco metros finais.
Monumentos, como a Torre
Eiffel e a catedral de Notre Dame, amanheceram decorados
com bandeiras que traziam os
anéis olímpicos desenhados no
formato de algemas, campanha
da organização Repórteres Sem
Fronteiras, que reclama liberdade de imprensa na China.
""A tocha foi apagada, porém
a chama ainda está lá", contemporizou Jean-François Lamour, ex-ministro dos Esportes da França. Horas antes, em
Pequim, Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, aparentemente
prevendo que o dia não seria fácil na Europa, afirmou estar
""muito preocupado" com a enxurrada de protestos que a tocha olímpica vem sofrendo.
""Estou muito preocupado
com a situação internacional e
com o que vem acontecendo no
Tibete", disse. ""O revezamento
da tocha se transformou em um
alvo. O COI expressou sua
preocupação e pede uma solução rápida e pacífica no Tibete",
afirmou, dias depois de seu comitê ter se recusado a falar do
tema, alegando que esporte e
política não se misturam.
""Qualquer forma de violência... Não é compatível com os
valores do revezamento da tocha e dos Jogos Olímpicos."
O presidente do COI buscou
também minimizar a noção de
um boicote generalizado.
""Muitos políticos consideraram a idéia de boicote [aos Jogos]. Mas, nesse exato momento, não há clima para um boicote generalizado", disse.
Na mesma reunião, o mexicano Mario Vazquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana, leu
mensagem da Associação de
Comitês Olímpicos Nacionais,
entidade da qual faz parte.
""Nosso grupo está confiante
de que o governo da China se
esforçará para encontrar, por
meio do diálogo, uma solução
justa e de bom senso para os
conflitos internos que afetam a
região do Tibete", dizia a carta.
O Comitê Organizador dos
Jogos também se manifestou,
mas de maneira bem diferente.
Em uma espécie de balanço da
"Jornada da Harmonia", como
foi batizada a viagem da tocha
pelos cinco continentes, os chineses listam uma série de "boas
vindas" à caravana. Anterior à
confusão de Paris, o texto classifica a de Londres como "tentativas de perturbar e sabotar o
revezamento da tocha por um
pequeno número de ativistas
pró-independência do Tibete".
Segundo reportagem do "Financial Times", membros do
COI em Pequim já discutem se
o trajeto da tocha deve ser encurtado e se determinadas etapas devem ser canceladas. Para
alguns deles, o apoio até então
incondicional ao evento chinês
pode ter conseqüências indeléveis ao Movimento Olímpico.
Com agências internacionais
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