São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Tocha é apagada 4 vezes em Paris

Diante de protestos, Rogge diz estar muito preocupado com situação no Tibete e sugere diálogo à China

Organizadores extinguem chama e levam tocha em um ônibus para driblar os manifestantes, que chegam a decorar monumentos

DA REPORTAGEM LOCAL

Tida como símbolo do espírito olímpico, a tocha dos Jogos de Pequim foi apagada ontem, em Paris. Caçada por defensores dos direitos humanos, notadamente por grupos pró-Tibete, desde anteontem, em Londres, a chama olímpica, pelo menos desta vez, foi extinta por iniciativa dos organizadores do evento. Por quatro vezes.
Alegando razões de segurança, a tocha e alguns de seus condutores cumpriram parte do trajeto em um ônibus, abrigados das ações de manifestantes de várias matizes e países, inclusive deputados franceses. Segundo a agência Associated Press, 28 pessoas foram presas.
Na terceira vez em que a chama foi extinta, policiais aparentemente interromperam o revezamento após notar sinais de protesto mais adiante. Garrafas de plástico, copos e até comida foram lançados em direção ao ônibus. Sobrou até para o paraatleta que conduzia a tocha.
Mais tarde, já próximo ao Museu do Louvre, quando um manifestante se aproximou da tocha com um extintor de incêndio, a polícia, que disponibilizou contingente de 3.000 homens para escoltar a chama e praticamente desfigurava o caráter do evento, de novo a colocou no ônibus.
Por fim, os organizadores jogaram a toalha e cancelaram o terço final da etapa. O ônibus levou a tocha diretamente ao último portador, que a carregou por cinco metros finais.
Monumentos, como a Torre Eiffel e a catedral de Notre Dame, amanheceram decorados com bandeiras que traziam os anéis olímpicos desenhados no formato de algemas, campanha da organização Repórteres Sem Fronteiras, que reclama liberdade de imprensa na China.
""A tocha foi apagada, porém a chama ainda está lá", contemporizou Jean-François Lamour, ex-ministro dos Esportes da França. Horas antes, em Pequim, Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, aparentemente prevendo que o dia não seria fácil na Europa, afirmou estar ""muito preocupado" com a enxurrada de protestos que a tocha olímpica vem sofrendo.
""Estou muito preocupado com a situação internacional e com o que vem acontecendo no Tibete", disse. ""O revezamento da tocha se transformou em um alvo. O COI expressou sua preocupação e pede uma solução rápida e pacífica no Tibete", afirmou, dias depois de seu comitê ter se recusado a falar do tema, alegando que esporte e política não se misturam.
""Qualquer forma de violência... Não é compatível com os valores do revezamento da tocha e dos Jogos Olímpicos."
O presidente do COI buscou também minimizar a noção de um boicote generalizado. ""Muitos políticos consideraram a idéia de boicote [aos Jogos]. Mas, nesse exato momento, não há clima para um boicote generalizado", disse.
Na mesma reunião, o mexicano Mario Vazquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana, leu mensagem da Associação de Comitês Olímpicos Nacionais, entidade da qual faz parte.
""Nosso grupo está confiante de que o governo da China se esforçará para encontrar, por meio do diálogo, uma solução justa e de bom senso para os conflitos internos que afetam a região do Tibete", dizia a carta.
O Comitê Organizador dos Jogos também se manifestou, mas de maneira bem diferente. Em uma espécie de balanço da "Jornada da Harmonia", como foi batizada a viagem da tocha pelos cinco continentes, os chineses listam uma série de "boas vindas" à caravana. Anterior à confusão de Paris, o texto classifica a de Londres como "tentativas de perturbar e sabotar o revezamento da tocha por um pequeno número de ativistas pró-independência do Tibete".
Segundo reportagem do "Financial Times", membros do COI em Pequim já discutem se o trajeto da tocha deve ser encurtado e se determinadas etapas devem ser canceladas. Para alguns deles, o apoio até então incondicional ao evento chinês pode ter conseqüências indeléveis ao Movimento Olímpico.


Com agências internacionais

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