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FUTEBOL
Incentivo para quem, cara pálida?
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
"E ste é o dia mais importante da história do esporte brasileiro", proclamou, entusiasmado, o presidente do Comitê
Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman.
Com razão, do ponto de vista
dele. E de seus pares.
Tamanha eloqüência deveu-se
ao anúncio do governo federal sobre a "Lei Lula", a Lei Rouanet
(da cultura) para o esporte.
Quem deu o nome do presidente da República ao projeto foi o
novo ministro do Esporte, Orlando Silva, que pegou o carro andando, herdeiro que é de Agnelo
Queiroz.
Está tudo muito bem, está tudo
muito bom, trata-se de uma velha
reivindicação do setor e que conta
com o apoio da quase unanimidade da área esportiva.
Basicamente voltado para os
chamados esportes de competição, por mais que se disfarce não
ser exatamente assim, a prova de
que é isso mesmo está na felicidade do cartola do COB.
Ele jamais se preocupou ou fez
alguma coisa pela massificação
do esporte no Brasil, como, de resto, ninguém fez, a não ser a propaganda enganosa que caracterizou os governos que se foram, que
aí estão e, ao que tudo indica, os
que virão.
Jorrará dinheiro da iniciativa
privada para irrigar os mesmos
canais que fazem de nosso esporte, com raras exceções, terra arrasada e mundo de ninguém.
Outra vez não se exige nenhuma contrapartida como a mudança do modelo de gestão, nem
mesmo novas formas de responsabilização dos cartolas.
Por mais que o Tribunal de
Contas da União se esforce, ficará
cada vez mais difícil controlar o
investimento da dinheirama e os
inevitáveis intermediários que
surgirão, os chamados despachantes dos incentivos.
E o esporte continuará a não ser
prioridade como fator de saúde
pública, como meio de prevenir
doenças. Porque, como se sabe, o
Ministério da Saúde no Brasil é,
na verdade, o ministério da doença -sempre correndo atrás de
construir hospitais, de comprar
leitos, de diminuir as filas.
O verdadeiro Ministério da
Saúde deveria ser o do Esporte,
mas quem está, verdadeiramente,
preocupado com o esporte como
fator de inclusão social?
Ninguém, ou quase ninguém.
Ora, está na Constituição que é
dever do Estado promover o esporte como direito do cidadão, algo que passa a léguas do projeto
da "Lei Lula".
Mais dinheiro será dado aos
mesmos, aqueles que se queixam
da penúria e não são capazes de,
pelas próprias pernas ou cabeças,
imaginar como incrementar os
ditos esportes de alto rendimento.
Apesar disso, curiosamente, eles
não largam seus postos, se reelegem indefinidamente, como se
fossem masoquistas ou, vai ver, tivessem elevadíssimo espírito público, verdadeiros mártires das
grandes causas nacionais, gente
que, quem sabe, mereça estátuas
no panteão dos heróis brasileiros.
Dar dinheiro desse modo é um
verdadeiro escárnio. Embora, reconheçamos, só mais um. E, desta
vez, com aplausos quase gerais.
Escrita
Como nos tempos em que o
Santos não perdia para o Corinthians, o São Paulo firma uma
nova escrita. Mesmo sem Danilo e depois de perder três jogadores (Aloísio, Josué e André
Dias) ainda no primeiro tempo,
o tricolor, em diversos momentos inferiorizado durante o jogo, ganhou, até com folga, por 3
a 1. Sim, teve um pênalti não
marcado contra si, daqueles
que a TV mostra e vende o árbitro, mas também teve cabeça
para quebrar o ritmo da partida
quando era superado e a sorte
que favorece quem merece no
frango de Silvio Luiz. Tudo,
aliás, que tem faltado ao Corinthians: um mínimo de cabeça e
a sorte que o dinheiro nebuloso
parece não trazer. Aliás, dinheiro, mesmo limpo, não cria vínculos, como demonstra, também, o Real Madrid.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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