São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

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FUTEBOL

Incentivo para quem, cara pálida?

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

"E ste é o dia mais importante da história do esporte brasileiro", proclamou, entusiasmado, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman.
Com razão, do ponto de vista dele. E de seus pares.
Tamanha eloqüência deveu-se ao anúncio do governo federal sobre a "Lei Lula", a Lei Rouanet (da cultura) para o esporte.
Quem deu o nome do presidente da República ao projeto foi o novo ministro do Esporte, Orlando Silva, que pegou o carro andando, herdeiro que é de Agnelo Queiroz.
Está tudo muito bem, está tudo muito bom, trata-se de uma velha reivindicação do setor e que conta com o apoio da quase unanimidade da área esportiva.
Basicamente voltado para os chamados esportes de competição, por mais que se disfarce não ser exatamente assim, a prova de que é isso mesmo está na felicidade do cartola do COB.
Ele jamais se preocupou ou fez alguma coisa pela massificação do esporte no Brasil, como, de resto, ninguém fez, a não ser a propaganda enganosa que caracterizou os governos que se foram, que aí estão e, ao que tudo indica, os que virão.
Jorrará dinheiro da iniciativa privada para irrigar os mesmos canais que fazem de nosso esporte, com raras exceções, terra arrasada e mundo de ninguém.
Outra vez não se exige nenhuma contrapartida como a mudança do modelo de gestão, nem mesmo novas formas de responsabilização dos cartolas.
Por mais que o Tribunal de Contas da União se esforce, ficará cada vez mais difícil controlar o investimento da dinheirama e os inevitáveis intermediários que surgirão, os chamados despachantes dos incentivos.
E o esporte continuará a não ser prioridade como fator de saúde pública, como meio de prevenir doenças. Porque, como se sabe, o Ministério da Saúde no Brasil é, na verdade, o ministério da doença -sempre correndo atrás de construir hospitais, de comprar leitos, de diminuir as filas.
O verdadeiro Ministério da Saúde deveria ser o do Esporte, mas quem está, verdadeiramente, preocupado com o esporte como fator de inclusão social?
Ninguém, ou quase ninguém.
Ora, está na Constituição que é dever do Estado promover o esporte como direito do cidadão, algo que passa a léguas do projeto da "Lei Lula".
Mais dinheiro será dado aos mesmos, aqueles que se queixam da penúria e não são capazes de, pelas próprias pernas ou cabeças, imaginar como incrementar os ditos esportes de alto rendimento.
Apesar disso, curiosamente, eles não largam seus postos, se reelegem indefinidamente, como se fossem masoquistas ou, vai ver, tivessem elevadíssimo espírito público, verdadeiros mártires das grandes causas nacionais, gente que, quem sabe, mereça estátuas no panteão dos heróis brasileiros.
Dar dinheiro desse modo é um verdadeiro escárnio. Embora, reconheçamos, só mais um. E, desta vez, com aplausos quase gerais.

Escrita
Como nos tempos em que o Santos não perdia para o Corinthians, o São Paulo firma uma nova escrita. Mesmo sem Danilo e depois de perder três jogadores (Aloísio, Josué e André Dias) ainda no primeiro tempo, o tricolor, em diversos momentos inferiorizado durante o jogo, ganhou, até com folga, por 3 a 1. Sim, teve um pênalti não marcado contra si, daqueles que a TV mostra e vende o árbitro, mas também teve cabeça para quebrar o ritmo da partida quando era superado e a sorte que favorece quem merece no frango de Silvio Luiz. Tudo, aliás, que tem faltado ao Corinthians: um mínimo de cabeça e a sorte que o dinheiro nebuloso parece não trazer. Aliás, dinheiro, mesmo limpo, não cria vínculos, como demonstra, também, o Real Madrid.


@ - blogdojuca@uol.com.br


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