São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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BOXE

Papéis trocados

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo fato de ser mais velha (39 anos), por ser filha do menos popular entre os dois ex-campeões mundiais dos pesados (Joe Frazier) e também por todos acharem que sua rival é mais bonita do que ela, Jacqui Frazier-Lyde é vista como a ""azarona" no combate de hoje, no cassino Turning Stone, em Verona, em Nova York (EUA).
Sua adversária é Laila Ali, 23, filha do maior peso-pesado da história, Muhammad Ali, um campeão que transcendeu os ringues e tornou-se um herói aos olhos do público.
Além de ser conhecido por sua habilidade (inigualável entre os "grandalhões") e por sua atuação em questões político-sociais, Ali também foi, e é, um dos maiores embaixadores do esporte. Não importa qual a sua mensagem, ele sempre tinha tempo para, em grande parte das vezes com bom humor, exibir suas idéias, além de sempre ter se mostrado um amigo dos microfones (um de seus apelidos era "tagarela").
Frazier, por outro lado, mantinha sempre uma expressão séria (ainda o faz) e não gostava tanto de expressar suas opiniões.
Pudera, nesse quesito não era nem de longe páreo para Ali, que chamava o rival de "Tio Tomás" ou "gorila" e que aproveitava todas as oportunidades para ridicularizá-lo.
Em uma dessas ocasiões, no show de Ed Sullivan, Frazier mostrou o quanto aquilo realmente o machucava quando derrubou Ali e começou a brigar no palco.
Os apelidos oficiais deixavam transparecer não apenas o estilo, mas a personalidade de ambos. O slogan de Ali invocava graça e simpatia -"picar como uma abelha, flutuar como uma borboleta". Frazier, por sua vez, era o furioso "smokin Joe" ("fumegante Joe").
Quem teve a oportunidade de ter contato com Laila e Jacqui, porém, percebeu que seus papéis estão invertidos na promoção da luta de hoje.
De longe, a mais simpática é a advogada Jacqui. Aliás, ela surpreendeu quando, ao entrevistá-la pela primeira vez, no ano passado, me cumprimentou em castelhano ("hola, como esta hermano?").
Na semana passada, Jacqui mostrou espontaneidade, mesmo quando perguntei o que achava do fato de as pessoas acharem de mau gosto o fato de a luta estar sendo promovida como Ali x Frazier 4.
"Por que as pessoas têm problemas com as crianças desses grandes campeões estar lutando? Muita gente fez dinheiro com nossos pais, como autores de livros, fotógrafos, colunistas de boxe etc. Qual o problema de suas filhas fazerem dinheiro com seu nome? Como todos os lutadores, também temos de suar, sangrar, correr. Ninguém está dando nada para nós", argumenta Jacqui.
Laila, por sua vez, não parece ter a mesma intimidade com as palavras que seu pai.
Até mesmo suas respostas não são informativas. Um exemplo? No ano passado, por meio do então promotor de suas lutas, Mike Acri, confirmou a esta coluna que seu pai lhe deu algumas dicas sobre o que deveria fazer quando estivesse lutando, mas se recusou a revelar quais seriam tais conselhos. ""É muito particular", disse Laila, ex-proprietária de um salão de beleza.
Agora será a chance para conferir quem herdou mais talento com os punhos.

Programação 1
O peso-pesado Daniel Frank, algoz de Adilson Rodrigues, o Maguila, manteve-se em atividade ao vencer Richard da Glória no segundo assalto, anteontem, em São Paulo. Ele deve desafiar o campeão brasileiro da categoria, George Arias, em agosto.

Programação 2
Na próxima terça, Muhammad Said e Valmir Rosário disputam o título paulista dos médios, que está vago. O combate será no Baby Barione (rua Germaine Burchard, 451, Água Branca). A programação tem início por volta das 19h30. A entrada é franca.
Sem progresso O meio-médio-ligeiro Kelson Carlos e o superpena André Nicola tiveram suas últimas lutas, disputadas de forma irregular, desconsideradas pela Confederação Brasileira de Boxe, segundo a edição do ranking da entidade divulgado nesta semana. E-mail: eohata@folhasp.com.br

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