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FÁBIO SEIXAS
Vai acabar
O automobilismo se tornou um anacronismo, um luxo, num planeta que precisa cortar 50% da emissão de CO2
JAMES PORTEUS é colunista do
inglês "The Herald" e, desde
segunda-feira, um dos homens
mais odiados pela F-1. O motivo, um
artigo publicado naquela edição do
diário. O título, curto e grosso: "O
automobilismo deveria ser banido".
Porteous começa seu texto assim:
"Há um esporte mais perigoso do
que qualquer outro, que mata muito
mais gente que o boxe, mas que, apesar disso, não suscita pedidos de banimento. Não é o rúgbi. Não é o hipismo. Não é nem o vale-tudo. Não.
É hora de proibir o automobilismo.
Não para salvar os pilotos, que provavelmente correm menos riscos
que jogadores de futebol, mas sim
para salvar o resto do planeta".
O colega se refere ao assunto do
momento, o aquecimento global. E
despeja uma série de números e estatísticas para embasar sua tese.
O raciocínio é simplista.
De um lado, a F-1, com seus carros
que queimam 1,5 litro de gasolina e
emitem 1,5 quilo de dióxido de carbono por quilômetro. Computados
os testes e os vôos intercontinentais,
calcula o inglês, cada piloto do grid
"emite" 54 toneladas de CO2 nos oito meses que dura uma temporada.
Do outro, a Terra, sua atmosfera,
sua população. O cenário mais otimista -aumento de 2ºC na temperatura até 2100- desenhado pelo
Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática, em maio, pede
corte de pelo menos 50% nas emissões de carbono. Otimismo é mera
força de expressão. Dois risquinhos
a mais no termômetro significam
geleiras derretendo, oceano subindo, cidades costeiras submergindo.
"Quanto mais rápido o carro,
mais rápido ele destrói a Terra. É
simples. Vencer corridas e salvar o
planeta são atos incompatíveis", diz.
É, é simples assim. E não há mal
nenhum, às vezes, em ser simplista,
em ser direto, reto e sem rodeios.
Mas a FIA, claro, não gostou. E foi
rápida para reagir. Com raiva. Um
assessor da entidade disse ter ficado
chocado com a ingenuidade do colunista: "A F-1 sempre esteve na linha de frente das novas tecnologias
e vai continuar assim, reutilizando a
energia desprendida nos freios e
pesquisando os biocombustíveis".
Entre o naïf e o dissimulado, fico,
sem titubear, com o primeiro.
A adoção de etanol, como fez a
IRL, ou de gasolina sem chumbo,
caso da Nascar, só reduz parte do
problema. Para continuar no tema
da moda, imagine quanta cana-de-açúcar teria de ser plantada para
mover uma temporada com 20 GPs
e o quanto de área para produção de
alimentos seria engolido com isso.
Amantes do automobilismo precisamos colocar na cabeça que o esporte tornou-se anacrônico, humanamente incorreto, que virou um
luxo. Um luxo que cobra muito caro.
Não demorará, alguém, num desses painéis da ONU ou da União Européia, jogará na mesa os danos causados pelo automobilismo. Um texto como o de Porteous num diário
como o "Herald" é indício disso.
É... Foi legal enquanto durou.
fseixas@folhasp.com.br
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