São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Palco da estréia do Brasil em 1958 parou no tempo

Arquibancada de madeira dá tom "vintage" ao estádio onde seleção bateu a Áustria

Morro em frente à tribuna do campo comportou cerca de 5.000 pessoas naquele 8 de junho, quando a equipe de Feola ganhou por 3 a 0


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A UDDEVALLA

Imaginar 25 mil pessoas se acotovelando na Rua Javari, a simpática casa do Juventus na Mooca, é bem mais fácil do que pensar que 25 mil pessoas se espremeram no estádio Rimnersvallen, em Uddevalla, palco da estréia da seleção brasileira na épica campanha na Copa da Suécia, em 1958, que culminou com a conquista da Taça Jules Rimet pelos brasileiros.
Esse acanhado estádio sueco, 50 anos depois, pouco mudou. Na verdade, ganhou muita ferrugem em parafusos e soltou vários pedaços de concreto.
Na época, praticamente toda a cidade, então com 30 mil habitantes, foi ver a seleção jogar. Foi a única oportunidade que os habitantes da região tiveram para assistir a equipes que disputavam a Copa, já que o estádio foi usado apenas no confronto entre brasileiros e austríacos, pela primeira fase.
Quem não coube dentro do campo se virou num morrinho arborizado postado exatamente em frente à tribuna central do estádio. Crônicas de jornais da época estimam em mais de 5.000 pessoas o público que não pagou para ver o nascimento da seleção brasileira que conquistaria o mundo com futebol simples e objetivo -todos os ingressos foram esgotados.
Segundo números oficiais da Fifa, naquele 8 de junho de 1958 passaram pelas catracas do estádio exatos 25 mil torcedores. No jogo, o atacante Mazola marcou duas vezes, e Nilton Santos, pouco afeito à marcação de gols, subiu ao ataque para deixar sua marca também.
O lugar pertence ao município e abriga hoje competições de atletismo. Em volta do campo, há uma precária pista sintética com seis raias, além de uma caixa de areia e um espaço que provavelmente é utilizado em provas de arremesso de peso.
Ninguém recebeu ou acompanhou a reportagem da Folha na visita ao estádio. Com o carro estacionado a uns três metros de uma entrada, bastou chegar ao silencioso espaço, abrir a maçaneta e conhecer todas as suas dependências, como os pequenos vestiários construídos com tijolo aparente (são dez salas, divididas em duas alas), as saunas (duas) e a sala de musculação.
Três operários trabalhavam nas cercanias do estádio, dois em gaiola para arremesso de martelo, e outro transportando objetos para um veículo. Em campo, as traves, assim como os bancos de reservas, são móveis. Tudo parece feito só para treino. Mas o espaço também eventualmente recebe jogos de futebol de divisões menores (comporta, nestas ocasiões, ao menos 10 mil pessoas).
Não há bem uma fachada no Rimnersvallen. Ao lado das tribunas (116 cadeiras, algumas azuis e outras amarelas, com cobertura), três mastros vazios. Algumas cabines antigas para transmissão de jogos ocupam espaços de bancos (não assentos) de madeira, que circundam quase todo o campo.
Os quatro refletores baixos e finos já deixam claro como o estádio é velho e simples. Catracas para a entrada da torcida à moda antiga, placar sem eletrônica. O que há de mais moderno são as placas de patrocinadores locais colocadas em volta do campo. Tirando duas pixações da suástica na área mais nobre do estádio, o lugar esbanja charme e tradição.
O acesso ao estádio, apesar de Uddevalla ser relativamente pequena, não é tão fácil. São necessárias várias voltas para chegar de carro ao lugar, mas a bela paisagem compensa.


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