São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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BRASIL X CHILE

Com time B e desafio de alterar retrospecto ruim de seu técnico na Copa América, Brasil estréia no torneio que conquistou apenas seis vezes em quase cem anos

Parreira vê seu maior fantasma

FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A AREQUIPA

Quando o Brasil entrar em campo hoje à noite contra o Chile, na estréia da Copa América, o técnico Carlos Alberto Parreira estará pela terceira vez diante do maior fantasma de sua carreira.
Dono de um currículo que inclui uma Copa do Mundo, um Campeonato Brasileiro, uma Copa do Brasil e torneios estaduais, o técnico da seleção tem no mais antigo torneio de seleções seu calcanhar-de-aquiles.
Parreira, que trata a Copa América como "apêndice do calendário", registra desempenho pífio na competição continental. Já dirigiu a seleção em 12 oportunidades, nas edições de 1983 e 1993. Ganhou apenas três jogos, empatou seis e perdeu outros três -o que equivale a um fraco aproveitamento de 41,7% dos pontos.
O número fica ainda mais impressionante quando comparado ao retrospecto de Parreira em outras competições ou amistosos com a mesma seleção brasileira.
Sem contar partidas da Copa América, o aproveitamento sobe para 67,7%. Foram 36 vitórias, 22 empates e somente 6 derrotas.
Ao ser confrontado pela Folha sobre sua performance na Copa América, Parreira abandonou a habitual serenidade e não deixou o repórter finalizar a pergunta: "Não vou deixar de dormir, não estou preocupado com isso. O Brasil ficou 50 anos sem ganhar Copa América [entre 49 e 89], e o que aconteceu com o futebol brasileiro? Deixou de ser respeitado? Qual a importância de perder a Copa América? O que dá prestígio é Copa do Mundo. A verdadeira medalha de ouro é a Copa. Essa sim tira o meu sono", interrompeu o treinador de 61 anos.
Paradoxalmente, Parreira tem dito aos atletas que a Copa América está entre as três competições mais importantes do mundo. Defendeu que a competição estaria no mesmo nível de grandeza da Eurocopa se fosse disputada a cada quatro anos e que uma medalha de ouro no Peru é importante na caminhada dos pupilos com a camisa da seleção.
Questionado sobre quais foram os motivos para o fracasso nas duas edições anteriores, disse que pegou equipes em frangalhos, sem tempo para treinar.
Na edição 1983, a última sem uma sede fixa, o Brasil teve campanha irregular. Chegou à final após dois empates com o Paraguai. Na decisão, perdeu para o Uruguai em Montevidéu (2 a 0) e não passou de um empate (1 a 1) em Salvador. A má campanha foi o estopim para uma crise com a imprensa, especialmente a carioca, que culminou com sua saída da seleção meses mais tarde.
Dez anos depois, o fantasma da Copa América deixou ainda mais difícil a caminhada para a classificação para a Copa-94. O time foi eliminado no mata-mata, nos pênaltis, pela rival Argentina.
O treinador, que ganhou aval do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para perder a Copa América no Peru, repete que o torneio deve ser encarado como um laboratório para que jogadores que não têm chances no time titular possam ser observados.
O tetracampeão quer ver em ação possíveis substitutos de estrelas que devem sair da seleção após a Copa-2006 -casos de Cafu e Roberto Carlos. No vestibular, concorrem Mancini e Maicon, na lateral direita, e Gustavo Nery e Adriano, pela esquerda.
"Me cobraram a renovação, mas tenho que renovar e ganhar ao mesmo tempo. É difícil. Estamos tendo a oportunidade única de montar dois times. É um trabalho de longo prazo. Quem achar que uma derrota aqui é o fim do mundo não consegue enxergar um palmo diante do nariz."


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