São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Pan terá dois Nuzman em ação

Filha do dirigente trabalha em empresa escolhida sem concorrência para vender artigos licenciados

Dufry deverá arrecadar aproximadamente R$ 10 mi com a comercialização de produtos que levam as marcas dos Jogos do Rio


FÁBIO VICTOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A filha do presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e do Co-Rio (comitê organizador do Pan-2007), Carlos Arthur Nuzman, trabalha na empresa escolhida pela organização dos Jogos, sem concorrência, para ser a operadora exclusiva da venda de produtos licenciados do evento esportivo, que será aberto na próxima sexta-feira.
Recém-formada em administração, Larissa Nuzman é contratada do departamento de marketing da Dufry, empresa do ramo de free shops que ganhou do Co-Rio a primazia de operar as lojas do Pan. Pelas estimativas do comitê, a Dufry deverá arrecadar cerca de R$ 10 milhões com a venda de produtos licenciados.
A empresa onde trabalha a filha de Nuzman terá durante o Pan, de acordo com o Co-Rio, 52 pontos de venda, 49 deles nas instalações dos Jogos, inclusive na Vila Pan-americana. Embora outros estabelecimentos possam comercializar produtos licenciados, a Dufry é classificada como operadora exclusiva porque, graças à concessão do Co-Rio, é a única que possui lojas oficiais.
Larissa entrou na Dufry em setembro de 2006, quando ainda era estudante universitária. A escolha da empresa como operadora foi aprovada pelo Co-Rio três meses depois. Quatro meses mais tarde, em abril deste ano, ela foi contratada como assistente de marketing. Nuzman disse não ver conflito ético no caso. Segundo ele, a filha está na Dufry por "méritos dela". Questionado sobre os seus laços de amizade com diretores da empresa, afirmou: "Como presidente do COB e do Co-Rio, mantenho relacionamento cordial com vários empresários, executivos e personalidades de vários segmentos da sociedade brasileira". O presidente da conselho de administração da Dufry, Humberto Mota, afirmou à Folha que é amigo de Nuzman.
Não é a primeira vez que familiares de Nuzman têm vínculo de trabalho com empresas que lucram com o esporte olímpico. Em 2004, a Folha revelou que o uniforme usado pelo Brasil em desfiles de abertura de Olimpíadas e Pans desde 1999 era desenhado por uma cunhada do cartola, Mônica Conceição. Ela era contratada da Olympikus, a quem foi indicada pelo próprio Nuzman. O COB é uma associação civil, de direito privado, sem fins lucrativos. Mas, além de ter patrocinadores privados, recebe dinheiro público, via Lei Piva, que destina dinheiro das loterias ao setor. Neste ano, o comitê deve receber cerca de R$ 60 milhões de repasse da lei.
Larissa não quis dar entrevista. Em dezembro de 2004, quando ela representou o pai na entrega de um prêmio do COB aos destaques olímpicos daquele ano, a revista "Veja Rio" publicou nota informando que a jovem tinha como sonho trabalhar com marketing esportivo. Dois anos antes, a própria Larissa afirmara à mesma revista que gostaria de trabalhar com produção de moda.

Comissão
Do total arrecadado com as vendas, a Dufry tem de pagar ao Co-Rio uma comissão que varia de acordo com o produto, podendo chegar até a 10%. Segundo a organização, até meados de junho já haviam sido licenciados mais de 700 produtos de mais de 30 empresas de segmentos variados. Os mais procurados pelo público são canecas e peças de roupa.
Multinacional suíça que está entre as líderes mundiais no gerenciamento de free shops, a Dufry comprou, dois anos atrás, a brasileira Brasif. Durante o Pan carioca, a operadora informa que vai empregar mais de 200 pessoas em seus pontos-de-venda.


Colaborou RODRIGO MATTOS, enviado especial ao Rio


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