São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

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pandemia

Gripe esquenta final da Libertadores

Excesso de precauções do Cruzeiro para evitar contágio de atletas na Argentina faz oponentes ironizarem brasileiros

Depois de fracassar em sua tentativa de mudar palco do duelo contra o Estudiantes, mineiros buscam prevenção com máscaras e isolamento

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O avanço da gripe A (H1N1) na Argentina transformou a doença em uma das protagonistas do primeiro jogo da decisão da Libertadores. Mas sob pontos de vista diferentes.
Enquanto o Cruzeiro reforça as precauções para evitar o contágio de seus atletas no país vizinho, a cautela brasileira é alvo de ironias da imprensa argentina e da torcida do Estudiantes, o rival dos mineiros.
"Quem vir um ônibus encapsulado em látex pelas ruas portenhas não se assuste. Com certeza é a delegação do Cruzeiro tomando precauções contra a gripe A", afirmou o jornal "Crítica", em alusão à programação cruzeirense, com confinamento em hotel até o jogo e retorno imediato ao Brasil após o duelo.
"Cruzeiro do temor" foi o título do jornal esportivo "Olé", para quem a equipe mineira vai à final com "jogadores preocupados e poucos torcedores". A epidemia de gripe no país vizinho levará menos cruzeirenses à Argentina do que o esperado -serão cerca de 500, contra uma previsão inicial de 3.000.
O último informe do governo argentino apontava 2.485 casos confirmados de gripe A no país, com 60 mortes e estimativa de 100 mil infectados -a cidade e a Província de Buenos Aires, da qual La Plata é capital, respondem por 75% dos registros.
O Cruzeiro tentou até o último momento adiar ou transferir a partida. Chegou a propor dois jogos em campo neutro, mas a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) confirmou a final em La Plata (52 km de Buenos Aires).
Ao tentar mudar o local dos duelos, a diretoria baseou o pedido na situação vivida pelo São Paulo, que não foi ao México nas oitavas de final por decisão da Conmebol. Os times mexicanos discordaram e abandonaram o torneio continental.
Segundo o presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, a Conmebol alegou que, naquela situação, as autoridades mexicanas haviam proibido a realização de jogos no país. Na Argentina, apenas os teatros estão fechados por dez dias, por decisão dos empresários do setor.
As associações de rúgbi, hóquei, automobilismo, tênis e hipismo suspenderam atividades no país em razão da epidemia.
Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossou a preocupação cruzeirense. "O ministro argentino da Saúde deve dar garantias de que se pode jogar em Buenos Aires ou em outra cidade argentina. O Cruzeiro tem razão em estar preocupado", disse ontem o presidente.
O clube isolou todo um andar de um hotel em Buenos Aires, onde a equipe ficará concentrada até horas antes do duelo.
Entre os cuidados anunciados está o uso de máscaras pelos atletas. "A cada duas horas tem que trocar roupa de cama, usar máscara e definitivamente não sair à rua", disse o supervisor do clube, Benecy Queiroz.
O emprego de máscaras por pessoas sadias foi desaconselhado pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
Especialistas locais afirmam que o acessório só deve ser usado por profissionais de saúde e por quem portar o vírus.
Perrella admitiu supervalorização dos riscos e que a chance de contágio é pequena.
"Não teremos contato com o público. Então, não tem perigo. A gente também está supervalorizando. As estatísticas dizem que é mais fácil ser atropelado lá do que pegar gripe."
Ontem, torcedores formaram longas filas em La Plata para obter ingressos para a decisão, ironizaram os cuidados cruzeirenses e manifestaram despreocupação com a gripe. Todos os 40 mil bilhetes disponibilizados foram vendidos.


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