São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2011

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XICO SÁ

Pobre Messi


Cada vez mais os craques ou candidatos a tal posto estranham os escretes de seus países


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, no tal do mundão grande globalizado e sem porteira, a seleção da sua pátria, seja ela brasileira ou argentina, virou o exílio, o mal-estar dos craques, como se fosse um estrangeiro dentro do seu próprio berço.
Repare no caso do Messi, pobre Messi, descendo humilhado aos vestiários anteontem, sob vaias dos torcedores após o 0 a 0 contra a Colômbia.
"Em certa manhã, depois de sonhos intranquilos, acordei no selecionado do meu país. Cadê o Iniesta para eu tocar de lado e receber redondinha adelante? Cadê o Daniel Alves?", pensava, ainda no pesadelo patriótico com trilha de tango.
"Cadê o Arouca?", em menor escala refletiam Neymar e Ganso na parte brasileira. "Por que o Elano não entra?"
A minha pátria é o meu time, discursariam alguns deles. A minha pátria é o entrosamento, diriam os mais objetivos ainda.
O mais maluco é que cada vez mais os craques ou candidatos a tal posto estranham os escretes de seus países. É a hora em que são mais questionados, em que perdem a zona de conforto e embaçam a condição de estrelas.
Toda essa estranheza estava estampada até na cara do pai do Messi, pobre pai do Messi, focado pela TV no estádio do último jogo argentino. Tenso. Um filho irreconhecível e perdido no meio dos compatriotas.
A ideia de pátria para esses meninos, desde novos estrangeirados, é cada vez mais uma ideia abstrata, platônica, nada palpável.
Isso é bom e é ruim. É bom porque mata a ideia tacanha de fronteira e xenofobias outras. É ruim por que mesmo? Peço ajuda aos meus leitores.
Ah, é ruim porque defender o seu país deveria ser um grande orgulho, cantar o hino, mão no peito, era assim a parada. O mundo era outro.
Pobre Messi, que não troca um passe certo na orgulhosa seleção dos hermanos. Pobre Messi, que, segundo o técnico Sergio Batista, teria um esquema à Barcelona para ajudá-lo.
Pobre Batista, esquece que a equipe do afortunado Messi não é só um time, é um processo filosófico iniciado com o holandês Cruyff no comando e que se perpetua com os seus discípulos socráticos.
Pobre Messi, melhor do mundo e apenas um jogador a mais no seu país, melancólico como os personagens sorumbáticos do novo cinema argentino. "Oncotô, concosô, proncovô?", indagaria o baixinho se tivesse tido a sorte de nascer sob o signo do existencialismo mineiro.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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