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AÇÃO
Mentiras e verdades
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Costumo dizer para as minhas filhas não mentirem,
entre outros motivos, para evitar
que, quando estiverem dizendo a
verdade, tenham suas palavras
sob suspeita.
Saí da entrevista coletiva do alpinista Waldemar Niclevicz, 36,
nesta semana, com a sensação de
que ele é vítima dessa situação.
Por conta de alguns deslizes com
a verdade no passado -e alavancado por sua postura muitas
vezes arrogante-, até mesmo
seus feitos incontestáveis estão
sendo postos em dúvida.
Num país em que a avaliação
dos atletas e dos projetos esportivos, especialmente na área da
aventura e da ação, costumam
ser subvalorizados, Niclevicz conta com um ativo pouco comum
no universo: "empreendedorismo". Como poucos, ele sabe se autopromover e viabilizar projetos,
característica determinante para
hoje ele ter um currículo invejável, especialmente para um alpinista brasileiro.
A coletiva se prestava ao lançamento da etapa Everest Lhotse,
duas das 14 montanhas com mais
de 8.000 m que o paranaense pretende escalar no projeto "O Brasil
no Topo do Mundo". Mas pouco
se falou sobre o assunto.
Desde o início, a entrevista esteve focada nas denúncias que se
tornaram públicas há duas semanas por meio de um artigo do jornalista Ivan Padilla publicado na
revista "Época", acusações que
durante muito tempo ficaram
restritas ao universo do esporte.
Na verdade, quem abriu o evento foi José Luiz Pauletto, um dos
pioneiros do alpinismo no Brasil e
ex-amigo de Waldemar. Tomou o
microfone e disse que sua presença visava defender o alpinismo e
apontar toda vez que houvesse
uma mentira no discurso. Com
determinação, não só cumpriu a
promessa como teve a dignidade
de atestar um fato a favor de
Waldemar que foi colocado em
dúvida por um jornalista.
Mais do que em qualquer outro
esporte, no alpinismo ética e credibilidade são essenciais. A dificuldade em registrar/comprovar
certos feitos, muitas vezes só presenciados pelos próprios autores,
impõe essa ética à comunidade. E
Waldemar, apesar da repercussão de seus feitos e do respaldo de
altos patrocinadores, não desfruta do reconhecimento de parte
significativa da comunidade.
Ele e sua equipe embarcam hoje
para o Nepal. Esperam alcançar o
cume do Everest (8.848 m) na lua
cheia de setembro. Se tudo der
certo, Waldemar irá chegar ao teto do mundo pela segunda vez em
três tentativas desta vez, sem o
uso de oxigênio auxiliar.
Do ponto de vista técnico, a expedição, cujo investimento foi da
ordem de US$ 200 mil e que levará duas toneladas em equipamentos e suprimentos montanha
acima, parece estar bem preparada. Já do psicológico, ficou a dúvida se o golpe das denúncias foi
absorvido.
Alegando falta de tempo devido
à expedição, Waldemar se comprometeu a esclarecer e comprovar todas as conquistas na sua
volta do Himalaia. Inclusive com
a presença do consagrado alpinista italiano Abele Blanc com quem
subiu ao topo do K2 (8.611 m)
-considerada a alta montanha
mais difícil de ser conquistada-
em 2000, o que seria ótimo, mas
não deveria ser condição.
Waldemar deixou escapar uma
ótima oportunidade para apresentar as provas que diz ter e, assim, aliviar o peso das acusações
de sua mochila nesta aventura.
Super Surf
De repente vários surfistas apareceram doentes e com dores na
praia de Saquarema, RJ, no último sábado. Ondas de 3 m causaram
o surto de enfermos. A experiência foi determinante no resultado:
Fabio Gouveia e Pedro Muller (terceiro), Peterson Rosa (segundo),
e o atirado Costinha, de Ubatuba, venceu a etapa. Maicon Rosa lidera o ranking, mas 25 atletas têm chances de ocupar sua posição
em Florianópolis, SC, na próxima e penúltima etapa do circuito.
Windsurf
Após o vice-campeonato mundial da Federação Internacional,
Wilhelm Schürman, 26, está disputando na Polônia a segunda etapa do Circuito Mundial de Fórmula.
Skate
Bob Burnquist, segundo no vertical, foi o melhor brasileiro no Gravity Games, que acabou domingo nos EUA.
E-mail sarli@revistatrip.com.br
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