São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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AÇÃO

Mentiras e verdades

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Costumo dizer para as minhas filhas não mentirem, entre outros motivos, para evitar que, quando estiverem dizendo a verdade, tenham suas palavras sob suspeita.
Saí da entrevista coletiva do alpinista Waldemar Niclevicz, 36, nesta semana, com a sensação de que ele é vítima dessa situação. Por conta de alguns deslizes com a verdade no passado -e alavancado por sua postura muitas vezes arrogante-, até mesmo seus feitos incontestáveis estão sendo postos em dúvida.
Num país em que a avaliação dos atletas e dos projetos esportivos, especialmente na área da aventura e da ação, costumam ser subvalorizados, Niclevicz conta com um ativo pouco comum no universo: "empreendedorismo". Como poucos, ele sabe se autopromover e viabilizar projetos, característica determinante para hoje ele ter um currículo invejável, especialmente para um alpinista brasileiro.
A coletiva se prestava ao lançamento da etapa Everest Lhotse, duas das 14 montanhas com mais de 8.000 m que o paranaense pretende escalar no projeto "O Brasil no Topo do Mundo". Mas pouco se falou sobre o assunto.
Desde o início, a entrevista esteve focada nas denúncias que se tornaram públicas há duas semanas por meio de um artigo do jornalista Ivan Padilla publicado na revista "Época", acusações que durante muito tempo ficaram restritas ao universo do esporte.
Na verdade, quem abriu o evento foi José Luiz Pauletto, um dos pioneiros do alpinismo no Brasil e ex-amigo de Waldemar. Tomou o microfone e disse que sua presença visava defender o alpinismo e apontar toda vez que houvesse uma mentira no discurso. Com determinação, não só cumpriu a promessa como teve a dignidade de atestar um fato a favor de Waldemar que foi colocado em dúvida por um jornalista.
Mais do que em qualquer outro esporte, no alpinismo ética e credibilidade são essenciais. A dificuldade em registrar/comprovar certos feitos, muitas vezes só presenciados pelos próprios autores, impõe essa ética à comunidade. E Waldemar, apesar da repercussão de seus feitos e do respaldo de altos patrocinadores, não desfruta do reconhecimento de parte significativa da comunidade.
Ele e sua equipe embarcam hoje para o Nepal. Esperam alcançar o cume do Everest (8.848 m) na lua cheia de setembro. Se tudo der certo, Waldemar irá chegar ao teto do mundo pela segunda vez em três tentativas desta vez, sem o uso de oxigênio auxiliar.
Do ponto de vista técnico, a expedição, cujo investimento foi da ordem de US$ 200 mil e que levará duas toneladas em equipamentos e suprimentos montanha acima, parece estar bem preparada. Já do psicológico, ficou a dúvida se o golpe das denúncias foi absorvido.
Alegando falta de tempo devido à expedição, Waldemar se comprometeu a esclarecer e comprovar todas as conquistas na sua volta do Himalaia. Inclusive com a presença do consagrado alpinista italiano Abele Blanc com quem subiu ao topo do K2 (8.611 m) -considerada a alta montanha mais difícil de ser conquistada- em 2000, o que seria ótimo, mas não deveria ser condição.
Waldemar deixou escapar uma ótima oportunidade para apresentar as provas que diz ter e, assim, aliviar o peso das acusações de sua mochila nesta aventura.

Super Surf
De repente vários surfistas apareceram doentes e com dores na praia de Saquarema, RJ, no último sábado. Ondas de 3 m causaram o surto de enfermos. A experiência foi determinante no resultado: Fabio Gouveia e Pedro Muller (terceiro), Peterson Rosa (segundo), e o atirado Costinha, de Ubatuba, venceu a etapa. Maicon Rosa lidera o ranking, mas 25 atletas têm chances de ocupar sua posição em Florianópolis, SC, na próxima e penúltima etapa do circuito.

Windsurf
Após o vice-campeonato mundial da Federação Internacional, Wilhelm Schürman, 26, está disputando na Polônia a segunda etapa do Circuito Mundial de Fórmula.

Skate
Bob Burnquist, segundo no vertical, foi o melhor brasileiro no Gravity Games, que acabou domingo nos EUA.

E-mail sarli@revistatrip.com.br



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